TRAC E REVIMO- O Ultimo reduto da Clivagem Povo vs Frelimo

O drama de pagar para andar em estradas sem condições

Não é segredo para ninguém que Moçambique atravessa uma instabilidade social atípica, especialmente quando se procura justificar como um dos efeitos das últimas eleições. Entre as várias frentes de combate levantadas pelos cidadãos, destaca-se a busca pela verdade eleitoral, que acabou por expor as amarguras viscerais que os cidadãos pacientemente ruminavam e em surdina. A reacção popular contra o Estado moçambicano mais do que pegar de surpresa os menos atentos, veio polarizar de forma antagónica a realidade sócio - politica moçambicana, forçando que este reestruture sua postura e dos seus agentes. Por exemplo, aos Agentes da policia de trânsito e municipal, exige-se uma actuação mais didáctica, honesta e livre dos "xitiques" que são alimentados por práticas predatórias de extorsão nas estradas que, de forma desenfreada e despudorada.

No entanto, o nosso vigoroso cartão amarelo desta semana, vai para duas entidades concessionarias que gerem as principais estradas com portagem em Moçambique, TRAC e REVIMO, cuja actuação tem sido duramente questionada pela forma desenfreada com que tiram o dinheiro dos cidadãos. Aos cidadãos cada vez mais atentos, era preciso que o estado pautasse pela transparência e humanização desses serviços. E no mínimo tragicómico, que um estado ciente da precariedade dos salários que paga aos seus agentes optasse por cobrar alto por serviços básicos, remetendo estes ao desespero de não poder sobreviver com o que resta depois de devolver parte do que recebeu de novo ao mesmo que lhe pagou. Esse cenário abriu espaço para questionamentos legítimos, levando a revelações impactantes sobre dossiês ultra-secretos que envolvem quadros seniores do partido no poder. Independente de filiações políticas, os cidadãos começaram a rejeitar o pagamento das portagens, e por razões evidentes e pelo que parece inegociáveis.

Não é concebível que as estradas com portagens não façam parte de uma rede viária em boas condições de transitabilidade. As vias secundárias estão em estado caótico, transformando cada viagem num verdadeiro pesadelo. Os automobilistas enfrentam adversidades extremas apenas para percorrer alguns metros em estradas principais, e, como se não bastasse, ainda são obrigados a pagar portagens a preços elevados totalmente desfasados da realidade do salário mínimo em vigor no país.

Portagens em Perspectiva Internacional

A título de comparação, em diversos países onde existem portagens, a cobrança é justificada por serviços de alta qualidade e por vias expressas que garantem segurança, rapidez e conforto aos utentes. Na África do Sul, por exemplo, as autoestradas com portagens por sinal sob gestão da mesma TRAC que gere a contraparte de Moçambique, oferece condições invejáveis desde o pavimento de qualidade, postos de assistência e socorro, além de monitoramento constante para evitar acidentes e minimizar transtornos. O mesmo se observa em vários outros países, onde as estradas concessionadas contam com múltiplas faixas de rodagem, áreas de descanso bem estruturadas, acessos seguros e uma gestão eficiente das condições de trânsito.

Nesses países, o pagamento das portagens está proporcionalmente alinhado ao nível de serviço oferecido, sendo os valores calculados com base na extensão percorrida e na categoria do veículo. Além disso, há alternativas viáveis para quem não deseja utilizar essas vias, com estradas secundárias que, embora menos rápidas, são perfeitamente transitáveis e seguras. Para além disso, programas de isenção para residentes locais ou descontos para veículos comerciais são aplicados, garantindo uma certa justiça social na cobrança.

Em contraste, a realidade moçambicana revela um cenário de desigualdade. As estradas com portagens geridas pela TRAC e REVIMO não oferecem, de forma generalizada, a qualidade encontrada nos exemplos internacionais. Muitas vezes, o cidadão paga para percorrer curtas distâncias em vias repletas de buracos, com sinalização precária e ausência de assistência em casos de emergência. As vias alternativas são praticamente intransitáveis, o que obriga muitos condutores a optar pela estrada principal, mesmo que isso signifique um gasto elevado e injustificado. A falta de um plano de manutenção regular e de fiscalização independente agrava ainda mais a situação, colocando em risco não apenas os veículos, mas também as vidas que circulam diariamente nessas estradas.

Sensibilidade Social e Suspensão das Cobranças

O objectivo deste editorial não é esgotar o debate sobre as portagens, mas admoestar o cartão amarelo as concessionárias TRAC e REVIMO, que, mesmo cientes das clivagens sociais em torno deste tema, insistem em cobrar taxas de portagem quando as reivindicasses populares ainda decorrem, em certos casos, de forma coerciva deixando parecer uma falta de sensibilidade com os cidadãos. Compreendemos que seria sensato que essas cobranças fossem suspensas até que se chegasse a um acordo que equilibrasse os interesses das concessionárias e a capacidade financeira dos cidadãos.

A suspensão temporária das cobranças, acompanhada de um amplo debate nacional sobre a qualidade das infraestruturas e o destino dos valores cobrados, seria um passo importante para restaurar a confiança da população e criar uma solução que seja justa e sustentável para todos os envolvidos.

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