Perdidos no lixo da capital

No âmbito da Salubridade, Educação Municipal e urbana, em Maputo e arredores, que envolve catadores de lixo, o Jornal Preto e Branco continua a par e passo para entender os vários contornos dos protagonistas, bem como as suas origens. Desta vez escalamos a Av. Keneth Kaunda, bem próximo a Praça da OMM para ouvir de perto as estórias por de trás dos rostos que sobrevivem da reciclagem.

No local, brinquedos obsoletos, roupas usadas e vários materiais recicláveis são comercializados e concorridos por quase todos, conversamos com dois catadores de lixo que aceitaram partilhar as suas estórias.

Regresso à Origem

João Júnior, nome fictício, 32 anos de idade, contou à nossa reportagem que veio parar nos contentores de lixo oriundo da província de Sofala, chegou a Maputo, pela primeira vez em missão de serviço que lhe tinha como responsabilidade a distribuição de equipamento para o comércio. Disse que permaneceu por algum tempo na capital aguardando ordens para o regresso  que acabou conhecendo alguns amigos que o levaram para o caminho das drogas e ao longo desse processo acabou perdendo os seus documentos, desde o Bilhete de Identificação, a Carta de Condução, entre outos.

Hoje encontra abrigo nas avenidas da capital, exposto a todos os riscos, enquanto procura ganhar dinheiro para garantir o seu regresso a Sofala. Em conversa com a nossa reportagem, Júnior segredou que, caso consiga o valor de transporte, vai voltar, imediatamente, para casa. 

Tem sido desafiador viver neste lugar, a polícia quando passa deste local tem nos acordado com pontapés, tiram fotos através de celulares não sabemos para que finalidade para além de restos de comida depositadas aqui que garante a nossa continuidade pelo que o que me resta mesmo nesta altura é procurar valor para conseguir tratar os meus documentos de identificação pessoal e, voltar para casa, pois sem documentos não tenho como procurar qualquer trabalho”, disse.

Júnior foi mais longe ao relatar que nas ruas perde-se tudo, até mesmo a dignidade humana. “Sou um vira-lata por excelência, tenho estado a dormir de dia para estar acordado a noite, porque a Policia nos confunde e acusa-nos de quaisquer atrocidades neste perímetro e sem documentos ainda fica muito complicado” desabafou desgastado.

Para sobreviver recolhe plástico usado, garrafa, lata, e outros materiais recicláveis, para poder vender. Às vezes vendemos alguns bens que apanhamos no lixo para o uso como é o caso de brinquedos e outros objectos de uso doméstico.

Por outro lado, Júnior confessou que as pessoas que depositam o lixo nos contentores, deviam facilitar a vida do catador, segmentando o lixo em diferentes plásticos para melhor distinguir-se um do outro. Nesta altura cada um vem depositar o lixo a bom e bel prazer pois trata-se de um contentor de lixo. 

Acho que poderiam sim e muito bem separar o lixo, ver que esse arroz aqui dá para ser consumido por aqueles meninos de ninguém que vivem ali, não temos nenhuma ajuda de pessoas que nos dão nada. 

Terminou a conversa pedindo a quem poder ajudar com a recuperação dos seus documentos de modo que possa voltar a caminhar sem medo, procurar outras oportunidades a semelhança de emprego.

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