Manica entre armas e ouro: a militarização das minas e o dilema do desenvolvimento

A recente presença das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) nas minas de ouro e pedras preciosas da província de Manica levanta um debate urgente: estamos perante uma estratégia de segurança nacional ou diante de uma perigosa militarização dos recursos naturais?

O governo argumenta que a medida visa conter o garimpo ilegal, reduzir o contrabando e assegurar que as receitas mineiras revertam para o Estado. De facto, as perdas provocadas pela exploração clandestina são avultadas e ameaçam a economia nacional. No entanto, a forma como esta “segurança” está a ser implementada desperta preocupações sociais, políticas e éticas.

Segurança ou exclusão social?
Em várias localidades de Manica, o garimpo artesanal representa a única fonte de sustento para milhares de famílias. Ao priorizar a intervenção militar, o Estado corre o risco de criminalizar a pobreza e ignorar as causas estruturais do problema: o desemprego, a falta de políticas inclusivas e a ausência de fiscalização civil eficaz.
As comunidades locais, muitas vezes, não participam na definição das políticas sobre a exploração dos seus próprios recursos. Em vez de promover o diálogo e a integração socioeconómica, o envio de forças armadas tende a aprofundar o sentimento de exclusão e desconfiança em relação ao governo.

Abusos e corrupção nas zonas mineiras
Há relatos de extorsões, violência e corrupção em algumas operações militares, o que mina a legitimidade da presença das FADM. A falta de mecanismos de transparência e de fiscalização independente cria terreno fértil para a apropriação indevida de recursos e para o surgimento de redes paralelas de enriquecimento ilícito.
Quando a gestão dos recursos minerais é colocada sob controlo de armas, corre-se o risco de transformar a defesa nacional em instrumento de poder económico.

Um novo modelo de governação mineira
A segurança nas minas não deve significar militarização, mas sim boa governação. O país precisa de fortalecer a administração pública, legalizar e apoiar o garimpo artesanal de forma sustentável, criar mecanismos de redistribuição dos lucros e envolver as comunidades locais nas decisões.
A defesa dos recursos nacionais deve ser feita com políticas sociais e ambientais responsáveis, não com armas.

O ouro de Manica é um símbolo do potencial de Moçambique, mas também das suas contradições. Transformá-lo em riqueza partilhada exige mais do que patrulhas armadas — exige justiça social, transparência e desenvolvimento equitativo.

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