
Trata-se de um activista social e defensor de Direitos Humanos com especial atenção aos deslocados de guerra em Cabo Delgado, de 28 anos de idade natural de Murrupula, Nampula e residente em Montepuez – Cabo Delgado a 10 anos. Actualmente implementa uma actividade designada Diálogo para a Paz e Justiça Local, iniciativa que tem como foco fortalecer a confiança e coesão comunitária entre Munícipes de Montepuez com a liderança comunitária local especificamente no bairro de Matuto através de sessões de diálogo por meio de um manual de boas praticas e convivência comunitária.
O que se tem vivido ao longo destes 7 a 8 anos em Cabo Delgado?
Bom, na verdade, a insurgência, o terrorismo, é o que vivo ao longo deste período. E o que tenho a lhes falar sobre o terrorismo é que me preocupa bastante, não pelas causas mas pelos factores do surgimento do mesmo e os efeitos para o povo inofensivo e indefeso.
Essa é a minha maior preocupação, porque as questões mais profundas do próprio terrorismo cabem ao Estado moçambicano, porque é quem tem a responsabilidade de revelar, de gerir questões de segurança do Estado.
Então, eu como cidadão moçambicano, o que me preocupa são as vidas humanas.
Há quem diga que em Cabo Delgado, locais seguros, são apenas Mueda, Montepuez e Chiure. Quer comentar?
Sim, na verdade temos locais tais como: Montepuez, Mueda, Pemba, Metuge, Chiure e Balama
esses eram locais considerados seguros, porque foram distritos que acolheram as famílias deslocadas. Lá temos aldeias que actualmente designamos como centros de acolhimento e agora pelo tempo, que algumas famílias, já regressam às zonas de origem, volatmos a chamar de aldeias, de pessoas com situação de deslocamento.
Tomamos conhecimento de que na semana passada, a uma distância de 15 quilômetros, mais ou menos, do centro de acomodação em Chiure, houve um ataque.
Qualquer situação acompanhamos entre amigos, vias informais e através de mídias sociais. Para nós que somos um pouco informados, temos o privilégio de receber essas informações. Não de forma mais completa ou cabal, mas aos palpites temos tido.
Neste momento, estas manifestações de aproximação dos terroristas podem significar que os Centros de acomodação tem dias contados para sofrer qualquer ataque?
De facto, a situação é preocupante para mim, porque se hoje nós estamos a vivenciar uma situação em que os ataques acontecem a uma distância de pelo menos 15 quilômetros do centro de acomodação, mostra claramente que estamos vulneráveis e propensos a sermos atacados. Numa conversa com amigos, dizia eu que nenhuma parte de Cabo Delgado, está segura.
Sim, mesmo em 2022, por aí início de novembro, vivemos uma situação em que a Gemrock foi invadida. A Gemrock é uma das multinacionais mineiras de Montepuez. Então, é perto do Município.
Mesmo na semana passada, circularam informações, até vídeos, que davam conta que a aldeia de Empaka, já no distrito de Balama, foi atacada. Pessoas foram assassinadas, outras pessoas foram feridas. Vídeos circulam nas plataformas e redes sociais.
Isso mostra o quão vulneráveis nós estamos como população de Cabo Delgado. Isso me preocupa bastante, porque estamos a levar muito tempo com isso, e cada vez mais não se sabe ao certo que desfecho e como superar. E parece que normalizamos a situação a nível de Maputo.
O país todo está a levar isso de ânimo leve. Falo isso porque há pouco engajamento, sobretudo, para divulgar a situação socioeconômica, até política, de Cabo Delgado. E normalizamos as mortes.
Então, quando a situação encontra nossos familiares, nossos amigos, olhamos com preocupação a situação de Cabo Delgado.
O direito à informação está plasmado na Lei mãe. Mas olhando para o caso vertente em Cabo Delgado, por exemplo, vocês têm em algum momento limitação a informação e, os jornalistas não devem exercer a sua actividade. O que dizer sobre isso?
É lamentável. Na verdade, o direito à informação é um direito até fundamental, considero eu. Por exemplo, alguns jovens de Cabo Delgado, nos últimos dias, têm feito esta corrente de advocacia. E, desta corrente, uma delas é a reivindicar a omissão de informação da situação de Cabo Delgado.
Pode parecer que é uma situação não importante, mas me deixa afirmar que a omissão de informação, o direito à informação, associado a grito, à imprensa, porque não há informação se o jornalista não trabalhar. Em Cabo Delgado não é seguro para os jornalistas. Isto faz com que estejamos mais vulneráveis.
Eu falo isso nas seguintes palavras que passarei a citar. Entre os dias 7, 8, 9, 10, um irmão meu, que trabalhava em Macomia, ele diz que houve situações de ataque, na qual eles fugiram, mas depois retornaram à Vila. Depois de terem retornado à Vila, houve um problema familiar, no qual ele se sentiu obrigado a voltar para Pemba para resolver o problema familiar.
Voltou à Pemba. Uma semana depois, com o plano de voltar a Macomia, ele recebeu telefonemas de seu chefe e colegas, alertando que ele não poderia realizar essa viagem, porque as regiões de Macomia e Mocimba da Praia viviam situações de ataque. Então, eu começo a pensar que a omissão de informação não apenas mina o conhecimento, a informação, as pessoas podem saber do que realmente acontece, é que a omissão de informação também abre espaço para que pessoas inocentes morram.
As pessoas não sabem o que está acontecer. Imaginemos que o meu irmão fosse a Macomia ou a Mocimba, naquela semana, naqueles dias, ele obviamente, poderia ter sofrido um incidente.
Então, as consequências da omissão de informação perigam a vida dos próprios residentes de Cabo Delgado, e não só, desinformam a comunidade. A comunidade moçambicana e internacional.
Até porque há quem diga que, informando, poderia atrair mais apoio nacional e internacional para olhar para o que está acontecendo.
Considerações finais
É mais fluido quando são colocadas as questões. De forma arbitrária fica difícil. Quero agradecer pela oportunidade de conversar, de partilhar, porque eu sinto que é o meu trabalho, como activista e como cidadão moçambicano.
Nós precisamos, como jovens, criar uma rede. Ganhar também, aproveitar essa oportunidade de encorajar outros jovens de Cabo Delgado, assim como não, a estender essa rede. Ser activista não é afrontar o Estado.
Ser activista é trazer os problemas da comunidade, juntos criarmos condições e propormos soluções para o Estado tomar conta. Eu digo isso. Eu gostaria mesmo de convidar outros jovens, assim como nós, jovens de Cabo Delgado e, sobretudo, de Montepuez, por exemplo no dia 4 de outubro, que celebravamos o Dia da Paz.
Nós saímos às ruas e o governo do Distrito de Montepuez recebeu o nosso pedido. Eu quero também agradecer bastante. Recebeu o nosso pedido que pudéssemos nos fazer presente na praça com nossos dísticos, nossas mensagens de imigração e de repúdio.
E aconteceu, sem nenhum problema, fomos dados espaço de podermos ler o nosso protesto e a mensagem de encorajamento para as forças de defesa de segurança que têm trabalhado bastante desde 2017 até hoje. Já se vão oito anos.
E acredite, são anos de muito luto de pessoas que estão dentro de Cabo Delgado e mesmo de fora. Pela qual chamo a atenção os jovens a fazermos a rede de advocacia. Mães estão perdendo filhos no Teatro Operacional de Cabo Delgado.
Mães que estão fora de Cabo Delgado, que têm filhos militares. Então são mães que perdem seus filhos.
São os filhos que perdem seus pais. São os irmãos que perdem seus parentes. Então, se o conflito de Cabo Delgado aceita de forma direta a todos os cidadãos de Moçambique, de forma direta, eu acho que nós precisamos criar essa rede, desabafou.

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