Linhas Aéreas de Moçambique (LAM): O Orgulho que Virou Vergonha — Cartão Amarelo ao Governo pela comprovada incapacidade de estabilizar o sector aeronáutico


O presente cartão amarelo é dirigido ao Governo de Moçambique pela sua gritante incapacidade em colocar ordem nas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), companhia de bandeira nacional. Esta falência não é apenas de gestão empresarial, é um espelho de um Estado sem rumo, que herdou de mãos beijadas toda uma infraestrutura construída pelo colono e que, em vez de a desenvolver, preferiu saqueá-la, partidarizá-la e destruí-la até ao colapso. O caso da LAM é apenas um exemplo visível de um retrocesso generalizado que atinge todos os sectores vitais do país. Depois da independência, a LAM era um símbolo de soberania e de modernidade. Herdou uma frota sólida e, ao longo das décadas de 1980 e 1990, chegou a operar aeronaves de grande porte e alcance intercontinental, como Boeing 707, Boeing 737-300, Boeing 767-200 ER, Lockheed L-1011, McDonnell Douglas DC-10, Douglas DC-8, Fokker 27, Fokker 28, Fokker 100, Embraer 190 e até Il-62. Era uma companhia que se podia orgulhar de estar entre as maiores do continente africano, com capacidade para voar para a Europa, o Médio Oriente e outros pontos estratégicos. O nome de Moçambique circulava pelo mundo através da LAM, que transportava milhares de passageiros e projectava uma imagem positiva de um país emergente que se abria ao comércio e à diplomacia internacional. A LAM de então não era apenas uma companhia aérea: era um emblema do Estado moçambicano, um orgulho nacional e uma ponte para o mundo.  A sua frota era diversificada, os destinos numerosos e a gestão, embora marcada pelos constrangimentos da Guerra Fria e das dificuldades económicas internas, mantinha padrões que garantiam a operação estável e a segurança dos passageiros. Havia uma clara consciência de que a aviação civil era um sector estratégico para o desenvolvimento. O que se vê hoje é a caricatura de uma companhia aérea que perdeu a sua relevância no espaço internacional, que deixou de ser competitiva, reduziu-se a uma frota de apenas cinco aeronaves, quase todas envelhecidas, constantemente em avaria, e incapazes de responder minimamente às necessidades de mobilidade nacional e regional. A companhia depende de contratos de leasing temporários e de parcerias mal concebidas que, em vez de resolver os problemas, apenas os agravam.
Em Agosto de 2025, a frota activa da LAM resume-se a cinco aviões: um Bombardier Q400, um Boeing 737-500 alugado, um CRJ 900 e dois Embraer 145.
Trata-se de uma frota curta, limitada, de capacidade restrita e sem condições para voos de longo curso. Para piorar, a tentativa de modernização através da aquisição de um cargueiro Boeing 737-300F redundou num fiasco monumental: o avião nunca chegou a operar e foi devolvido, gerando um prejuízo estimado em 71 milhões de meticais. É um escândalo financeiro que, em qualquer país sério, teria levado à demissão imediata de todo o conselho de administração e à responsabilização criminal dos envolvidos. Em Moçambique, porém, reina a impunidade. O agravamento da crise em 2024 e 2025 foi tal que a LAM chegou a reduzir a sua operação para apenas três aeronaves em Abril de 2025, cancelando voos, deixando passageiros retidos e destruindo a confiança dos consumidores. O caos foi tão grande que a empresa teve de correr para arranjar um pequeno Embraer 145, numa medida improvisada que mostra a total falta de planeamento estratégico. Uma companhia de bandeira não pode viver de improvisos, não pode estar permanentemente dependente de remendos. O que está em causa não é apenas a mobilidade interna:
é a credibilidade de todo o país. Não se pode compreender a crise da LAM sem apontar o dedo à partidarização de todo aparelho estatal. A companhia foi transformada num feudo da FRELIMO, onde os administradores recebem salários astronómicos e vivem com regalias faustosas, enquanto os trabalhadores enfrentam atrasos salariais e falta de condições de trabalho. As viagens gratuitas para membros do partido, o uso político da frota e a instrumentalização da companhia para fins alheios à sua missão corroeram qualquer possibilidade de boa gestão. A sucessão de exonerações e nomeações políticas, sem qualquer critério de competência técnica, destruiu a estabilidade administrativa. Os gestores mudam como se mudam camisas, cada um interessado em extrair benefícios pessoais enquanto dura o mandato. Não existe um plano estratégico consistente para a companhia, apenas medidas avulsas, remendos improvisados e decisões desastrosas. Mais grave ainda é a questão da segurança. Relatos de passageiros dão conta de aviões a descolar com avarias, voos obrigados a pousar em escalas não programadas, atrasos intermináveis e cancelamentos súbitos. Estamos perante um perigo iminente para a vida de moçambicanos e estrangeiros que confiam na LAM para a sua mobilidade. A gestão da aviação civil não pode ser tratada como brincadeira, porque nela estão em jogo vidas humanas. O governo tem a obrigação de garantir padrões de segurança e de qualidade, mas o que temos hoje é um cenário de improviso e irresponsabilidade.

Depois da independência, apesar das dificuldades, a LAM foi expandida e colocada entre as companhias mais respeitadas da África Austral. Era competitiva, orgulhava o país e gerava divisas. Hoje, é um fardo financeiro, uma fonte de constrangimento nacional e internacional. O contraste não podia ser maior. O que foi herdado pronto para gerir e desenvolver foi destruído pela ganância, pela corrupção e pela incompetência de um governo que não tem compromisso com o desenvolvimento.Não é apenas a LAM que está em ruínas. O caso da companhia de bandeira é apenas o rosto mais visível de um Estado falido, que não consegue gerir os caminhos-de-ferro, as estradas nacionais, os portos, os hospitais ou as escolas. Tudo o que foi herdado do colono está a cair aos pedaços. A diferença é que, no caso da LAM, a degradação é impossível de esconder, porque os passageiros vivem-na no dia-a-dia, porque a imprensa internacional a notícia, porque a aviação não permite improvisos indefinidamente. A situação da LAM é mais do que uma crise de uma companhia aérea: é o símbolo do fracasso do modelo de governação em Moçambique. Um governo que não consegue gerir a sua própria companhia de bandeira, que herdou com frota, rotas e reputação estabelecidas, não tem capacidade para gerir o país. O que está em causa é o futuro de Moçambique. Um Estado que não assegura transporte aéreo digno, seguro e competitivo para os seus cidadãos e para o mundo não pode falar de desenvolvimento, de industrialização ou de integração regional.
Este cartão amarelo é, portanto, um alerta grave: o país está a ser conduzido ao abismo pela incompetência governativa. A LAM é apenas um exemplo, mas é um exemplo gritante. O governo falhou redondamente e não mostrou qualquer sinal de capacidade para inverter o rumo, e não houver mudanças radicais, a companhia desaparecerá e com ela desaparecerá um pedaço da soberania nacional.

A responsabilidade é inequívoca: o governo de Moçambique, com a cumplicidade da FRELIMO, destruiu o que herdou. Não há desculpas possíveis.
O cartão amarelo está lançado e o país exige responsabilidade, transparência e um novo rumo para não assistir, impotente, à destruição do pouco que resta do nosso património colectivo.

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