Cartão Amarelo: Chiquinho Conde e a Federação Moçambicana de Futebol – O Preço da Irresponsabilidade no Futebol Nacional

Se o objectivo nunca foi o apuramento para o Mundial porque gastar rios de dinheiro?

O futebol moçambicano atravessa uma fase que se aproxima perigosamente da mediocridade, e grande parte da responsabilidade recai sobre quem deveria ser o guardião da competitividade e do projecto desportivo do país: o seleccionador nacional Chiquinho Conde e a Federação Moçambicana de Futebol (FMF). Um olhar atento aos últimos desdobramentos permite constatar que a forma como se tratou o fracasso na tentativa de apuramento para o Mundial transcende a esfera desportiva e entra num território de irresponsabilidade institucional e de desrespeito para com os praticantes e amantes do desporto rei em Moçambique. Lembrar que até a segunda jornada da segunda volta estávamos em posição privilegiada para o apuramento o que nos elevou as expectativas e a moral.

Doravante, quando uma selecção entra numa competição internacional com um objectivo claro, seja ele a simples classificação para uma fase de grupos ou a superação de recordes históricos, a obrigação ética e profissional de todos os envolvidos é assumir, sem subterfúgios, o resultado alcançado. É inaceitável que, após a falha, se procure desviar o foco para questões estruturais conhecidas e ignoradas à longa data. A gestão de Chiquinho Conde demonstra exactamente isso: uma tentativa sistemática de justificar o insucesso sem reconhecer, frontalmente, a falha na preparação, na escolha de modelos de jogo ou na condução do elenco.

A Selecção Nacional está sob a batuta de Conde há quase cinco anos, um período suficiente para se estabelecer um padrão competitivo e criar um projecto desportivo coerente. No entanto, mesmo com talentos individuais e com um contingente razoável de jogadores a actuar no estrangeiro, o futebol praticado pela nossa selecção mantém-se previsível, improvisado e, sobretudo, medíocre. O que se vê em campo é uma equipe sem identidade, sem clareza táctica e sem plano de jogo definido, abrindo espaço para a especulação e para a frustração de torcedores que, a cada partida, observam o improviso substituir a estratégia.

A forma simplista e relaxada com que o seleccionador tratou a não qualificação para o Mundial é particularmente reveladora. Em vez de assumir a responsabilidade, houve a mudança de objectivos e de narrativa como se a derrota fosse um episódio isolado, desvinculado de um planeamento desportivo que, na realidade, nunca existiu. Esta postura evidencia não apenas a falta de ambição, mas também a inexistência de um projecto desportivo sólido e de longo prazo, algo essencial para qualquer nação que ambicione melhorar no cenário internacional.

A imagem do presidente da Federação não se mantém distante desta crítica. Ao criar uma espécie de culto em torno da sua figura, vangloriando-se de feitos que, no mínimo, são obrigações da sua função, demonstra-se um desprezo absoluto pelo esforço dos praticantes e pelo sonho colectivo dos amantes do futebol. É um desrespeito que pauperiza a expectativa de uma nação inteira, reforçando uma cultura de mediocridade que poucos ousam questionar, mas que todos sentem no dia-a-dia do futebol moçambicano.

Esta irresponsabilidade institucional não se limita aos erros tácticos ou estratégicos. Ela tem consequências humanas e sociais directas. A rixa histórica de Conde com o primeiro capitão da selecção, Simão Mate, é um exemplo claro de como decisões pessoais e egocentrismo podem prejudicar o colectivo. A eliminação de Mate, que sempre serviu o país com dedicação e profissionalismo, abriu espaço para que rivalidades internas assumissem um carácter público, afectando o moral e a coesão do grupo. Esta decisão também prejudicou a credibilidade do seleccionador e deixou uma marca negativa na memória dos adeptos, que viram um filho da nação ser afastado de forma abrupta e injusta.

O problema não parou por aí. A relação conturbada com Zeinadine Júnior e, mais recentemente, com o capitão Dominguez, expõe a fragilidade de um sistema onde o ego do treinador sobrepõe-se à lógica do grupo. As polarizações que surgiram nas últimas semanas, com torcedores exigindo publicamente a saída de Conde e de seu corpo técnico em defesa de Dominguez, revelam que a população não está disposta a aceitar o que percebe como injustiça e abuso de poder. A situação tornou-se insustentável e demonstra que, ao contrário do passado, desta vez não haverá intervenção política capaz de salvar um seleccionador egocêntrico e autoritário.

É imprescindível destacar que esta postura não é apenas uma questão de desrespeito individual, mas reflecte um padrão estrutural que compromete o futuro do futebol moçambicano. A ausência de modelo de jogo, a improvisação crónica e a incapacidade de aproveitar o potencial dos atletas resultam numa desorganização que se reflecte nos resultados e na frustração da torcida. Não se trata de simples insatisfação emocional; trata-se de negligência profissional, que afecta a formação de jovens talentos, mina a moral dos atletas e impede a consolidação de uma identidade desportiva nacional.

Além disso, a arrogância demonstrada em entrevistas públicas, onde o treinador minimiza a falha e atribui o insucesso a factores externos ou ao azar, reforça a percepção de que o projecto desportivo não é sério. A desqualificação de jogadores icónicos, o culto em torno de realizações mínimas e a incapacidade de assumir responsabilidades são sintomas de um sistema que prioriza o ego sobre o talento, e o poder sobre a meritocracia. Um cenário que qualquer observador externo consideraria incompatível com o desenvolvimento do futebol de alto nível.

Outro factor a considerar é a crescente polarização gerada pelas decisões do seleccionador. A exclusão de Dominguez e a defesa ferrenha de certos jogadores em detrimento de outros despertaram um debate público intenso. A população, finalmente, parece recusar-se a aceitar a manipulação emocional e institucional que caracterizou os anos anteriores. Esta resistência popular é um sinal claro de que o futebol, enquanto património cultural e paixão nacional, não pode mais ser instrumento de egos pessoais ou de decisões arbitrárias que sacrificam carreiras e sonhos de atletas promissores.

No plano técnico, os números não mentem: a falta de resultados consistentes reflecte directamente a má gestão e a ausência de estratégia. Um seleccionador que se limita a reagir aos eventos em vez de antecipá-los, que improvisa em vez de planejar, e que privilegia o ego sobre a competência, compromete não apenas o presente, mas também o futuro do futebol moçambicano. A ausência de clareza táctica, de desenvolvimento de jovens talentos e de integração de jogadores expatriados resulta numa equipe que parece mais uma colecção de indivíduos talentosos do que uma verdadeira selecção nacional.

É necessário, portanto, emitir um cartão amarelo formal a Chiquinho Conde e à Federação Moçambicana de Futebol. Este cartão não é apenas simbólico; é uma exigência de responsabilidade, de ética profissional e de respeito pelo povo moçambicano. Um cartão que sinaliza que a mediocridade, a improvisação e o egocentrismo não são toleráveis quando se trata do desporto mais amado do país. Que serve como alerta de que decisões pessoais e cultos de personalidade não podem continuar a minar carreiras e a frustrar sonhos colectivos.

Finalmente, este cartão amarelo representa também um chamado à reflexão sobre o futuro do futebol nacional. Um futuro que deve ser construído sobre pilares sólidos: responsabilidade, transparência, meritocracia, planeamento estratégico e, sobretudo, respeito pelo talento e pela dedicação dos atletas. O futebol moçambicano não precisa de selectores ego centristas ou de presidentes de federação que se vangloriam por obrigações básicas. Precisa de liderança capaz de transformar talento em resultados, de visão que transcenda interesses pessoais e de ética que garanta justiça e oportunidades iguais para todos os praticantes.

O futebol não é apenas um jogo; é uma expressão da identidade e do orgulho nacional. Cada falha administrativa, cada decisão injusta, cada improviso não registado em estatísticas é uma ferida na alma de uma nação que sonha com glórias desportivas. Ao emitir este cartão amarelo, enviamos uma mensagem clara: a tolerância acabou. Não há mais espaço para egos que sacrificam carreiras, improvisações que mascaram falta de planeamento ou gestões que transformam sonhos em frustrações.

Em suma, Chiquinho Conde e a Federação Moçambicana de Futebol receberam, com este cartão amarelo, um alerta solene. Um alerta de que a irresponsabilidade não pode continuar a definir o destino da nossa Selecção Nacional. Que a história recente mostra claramente o custo da negligência, do ego e da improvisação. E que, desta vez, a população e os praticantes do desporto não vão aceitar subterfúgios, cultos de personalidade ou falácias que mascaram a ausência de resultados.

O futebol moçambicano merece mais: merece responsabilidade, clareza, compromisso e respeito. Este cartão amarelo não é apenas uma crítica; é um grito colectivo de uma nação que exige justiça, mérito e futuro. Que serve para lembrar que selecções nacionais não pertencem a indivíduos ou a egos inflados, mas a todos os moçambicanos que sonham com vitórias, com orgulho e com o florescimento de talentos que merecem brilhar, tanto dentro quanto fora das quatro linhas.

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