
Cartão Amarelo à Federação Moçambicana de Basquetebol: O Lambebotismo como Falta Técnica Grave
É lamentável e profundamente preocupante assistir à forma como a Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB) se expos e expos as atletas da selecção nacional ao ridículo em plena festa do Basquetebol Africano, transformando a maior festa continental da modalidade da bola ao cesto em um culto da bajulação. Quando o basquetebol nacional mais precisa de planeamento estratégico, e trabalho de massificação e estruturação profunda, independência institucional e coragem para enfrentar os desafios do desporto moderno, a federação mostrou despreparo para levar a cabo esse desiderato. Estes senhores preferem a conveniência do conforto político à ousadia de reformar uma modalidade em declínio. O chamado lambebotismo (a prática sistemática de adulação ao poder), geralmente com o objectivo de garantir protecção, promoção ou financiamento. A adulação já virou moeda corrente em muitas instituições públicas, mas a sua consolidação na esfera desportiva, sobretudo no basquetebol, é sintoma de uma doença estrutural muito mais grave.
O problema não se resume à bajulação episódica ou à pose sorridente ao lado de figuras do governo. É uma postura institucionalizada que molda decisões, orienta prioridades e afasta qualquer agente que ouse pensar diferente ou contestar o status quo. Ao invés de promover o talento nacional, investir com seriedade nas camadas de formação, desenvolver ligas regionais competitivas e garantir dignidade e visibilidade aos clubes de base, a FMB tem-se dedicado a glorificar figuras do poder, transformar conferências de imprensa em momentos de veneração e moldar a comunicação institucional como se estivesse ao serviço de um comité central, não do desporto.
Nos bastidores, o ambiente é de medo e contenção. Treinadores, dirigentes e até jogadores que exprimem insatisfação com os rumos da federação são rotulados como “elementos problemáticos” e, muitas vezes, afastados de projectos importantes. Não há espaço para crítica construtiva ou divergência de ideias. O critério mais valorizado para subir dentro da estrutura da federação parece ser a capacidade de agradar os “superiores”, independentemente do conhecimento técnico, da experiência ou do contributo real para o desenvolvimento do basquetebol nacional.
A bajulação, quando institucionalizada, é corrosiva. Ela mina o espírito competitivo e retira do desporto aquilo que ele tem de mais valioso: a capacidade de inspirar pela superação, pela justiça e pelo mérito. Um dirigente que é escolhido pela sua lealdade política e não pela sua competência técnica, ou um treinador que é promovido por saber aplaudir em momentos estratégicos, dificilmente conseguirá motivar atletas a darem o seu melhor ou a acreditarem num sistema justo. Quando o mérito deixa de ser o critério de base, tudo o resto desmorona, e é exactamente isso que estamos a ver em muitas esferas do basquetebol moçambicano.
É preciso denunciar o silêncio cúmplice de muitas figuras públicas que, mesmo conscientes dos vícios dentro da federação, preferem calar-se para não perder privilégios ou oportunidades. A cultura do medo alimenta a submissão, e esta submissão alimenta a continuidade de uma gestão que não responde às necessidades reais dos praticantes da modalidade. Enquanto isso, os pavilhões continuam vazios, os campeonatos são realizados sem brilho, os talentos promissores abandonam a carreira por falta de apoio, e a população perde o interesse pelo basquetebol, um desporto que já foi símbolo de orgulho nacional, mas que hoje luta para se manter relevante.
É urgente que se rompa com este ciclo. A Federação Moçambicana de Basquetebol precisa de uma profunda reforma estrutural, que comece com a adopção de princípios de transparência, participação democrática e responsabilização. Os clubes devem recuperar o seu poder deliberativo, as associações provinciais precisam de ser ouvidas com seriedade, e os atletas devem ter representação efectiva nos órgãos de decisão. O caminho é longo, mas necessário.
O desporto é, por definição, um espaço de liberdade, de superação e de criatividade. Não pode ser prisioneiro de interesses políticos nem funcionar como trampolim para carreiras partidárias. Quando uma federação perde a sua autonomia e passa a operar como uma extensão ideológica do governo, o que está em causa já não é apenas o desporto, mas a própria ideia de cidadania e participação social. A captura do basquetebol por interesses estranhos ao jogo não pode ser tolerada, nem pelos atletas, nem pelos clubes, nem pela sociedade em geral.
Este é um cartão amarelo à FMB. Um aviso claro de que, se não houver mudanças estruturais e uma verdadeira refundação da sua missão, o apito final será de descrédito total. O basquetebol moçambicano merece mais do que discursos decorados, condecorações oportunistas e jogos de bastidores. Merece ética, visão, e a coragem de romper com o ciclo vicioso do lambebotismo. Que se jogue, de facto, pelo país e não pelo ego de uns poucos, nem pelos interesses de quem vê no desporto apenas uma vitrine para propaganda política.
É hora de os verdadeiros amantes do basquetebol se levantarem, exigirem mudanças e retomarem o controlo da modalidade. Porque quem ama o basquetebol não se cala diante da mediocridade. Denuncia, propõe e luta. O jogo só começa quando o silêncio acaba.

Politica
2025-12-18

Politica
2025-12-18

Economia
2025-12-16

Politica
2025-12-16
Sociedade
2025-12-16
Copyright Jornal Preto e Branco Todos Direitos Resevados . 2025
Website Feito Por Déleo Cambula