Quando as soluções não aparecem: a culpa não pode morrer solteira
Um amarelo para a Justiça Moçambicana
A prevalência de sequestros em Moçambique tem gerado inquietação social e levantado questões profundas sobre a actuação das Forças de Defesa e Segurança (FDS), em particular o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC). Num país que se autoproclama democrático e promotor da justiça, a recorrência de raptos seguidos de negociações silenciosas e enriquecimentos suspeitos de alguns agentes desafia qualquer lógica de proteção ao cidadão. A pergunta que ecoa nas ruas é simples: por que estes crimes continuam a acontecer com tamanha frequência e impunidade? Será que os argumentos que ligam certos elementos das FDS a estas práticas têm algum fundo de verdade?
A implicação de agentes do SERNIC em sequestros não é uma mera teoria conspiratória. Há casos documentados e detenções de oficiais em conexão directa com estes crimes. O que significa, então, que os que deveriam combater o crime, na verdade, dele participam? As evidências sugerem uma falha estrutural profunda. No entanto, cabe questionar se estas falhas são resultado de desorganização interna ou de cumplicidade consentida por parte das lideranças. Afinal, como é possível que os raptos aconteçam em plena luz do dia, em locais movimentados, sem qualquer intervenção preventiva ou reacção eficiente?
Para compreender melhor, é essencial olhar para a estrutura do SERNIC. Como está organizada esta unidade de investigação para permitir que seus agentes operem com tamanha liberdade, a ponto de transformar a instituição num cartel do crime organizado? Os critérios para admissão de novos agentes são vagos e pouco transparentes. Qual o nível académico exigido? Como é aferida a idoneidade dos candidatos? Quem controla o enriquecimento desses agentes, cujos salários não diferem dos de outros funcionários públicos, mas que, paradoxalmente, ostentam estilos de vida muito acima da média?
A suspeita de enriquecimento ilícito é reforçada por evidências visíveis: mansões, carros de luxo e festas extravagantes. Tudo isso contrastando com os baixos rendimentos oficiais. Até que ponto a SERNIC, da forma que está estruturada, é realmente necessária para a segurança do país? Esta pergunta torna-se cada vez mais pertinente à medida que novos escândalos emergem e os cidadãos continuam a viver sob o espectro do medo e da insegurança.
Um olhar crítico para as autoridades responsáveis levanta uma última questão: o que dificulta a criação de serviços de investigação modernos, baseados em princípios e valores, que sejam um braço legítimo da Justiça moçambicana? Por que não se consegue instituir um modelo que reforce a confiança pública, ao invés de perpetuar a ideia de que os guardiões da lei são, na verdade, lobos em pele de cordeiro?
A análise crítica deve, obrigatoriamente, avançar para a necessidade de reformas estruturais profundas. A criação de um modelo de investigação criminal eficiente e transparente é imperativa para restaurar a credibilidade das FDS. A abertura de processos de auditoria externa, a definição clara de critérios de admissão e progressão de carreira, bem como o fortalecimento de mecanismos de fiscalização patrimonial dos seus agentes, são passos essenciais para um verdadeiro restabelecimento da ordem.
Além disso, o controlo do enriquecimento ilícito deve ser central na reestruturação da SERNIC. A ostentação de riqueza sem justificativa plausível precisa ser alvo de investigação imediata e consequente punição. Isso exige um compromisso político real e uma liderança determinada em romper os elos de cumplicidade entre o crime organizado e os agentes do Estado.
O Estado moçambicano precisa reagir. A corrupção e a cumplicidade dentro das suas instituições de segurança são corrosivas e minam não apenas a segurança pública, mas a própria ideia de Justiça. É hora de dar um cartão amarelo às FDSs e, em particular, ao SERNIC, que com base no envolvimento dos seus agentes em vários casos comprovados de sequestros, parece que estamos diante de um cartel à la Medellín do que a um serviço de investigação criminal a serviço do povo.
A sociedade clama por justiça e segurança. A pergunta que fica é: estará o Estado disposto a reestruturar a SERNIC e resgatar sua imagem diante da comunidade?
Desporto
2025-05-12
Desporto
2025-05-11
Desporto
2025-05-08
Desporto
2025-05-08
Sociedade
2025-05-08
Copyright Jornal Preto e Branco Todos Direitos Resevados . 2025
Website Feito Por Déleo Cambula