Paulo Vilanculo "
O artigo “Purificação das fileiras da FRELIMO em banho-maria?” analisa criticamente a recente demissão do secretariado provincial da FRELIMO na Zambézia, questionando se há realmente uma renovação interna ou apenas uma reciclagem dos mesmos quadros. O texto sugere que essas mudanças são simbólicas e que órgãos do Partido continuam a operar sob uma lógica de apadrinhamento e manutenção do poder entre os mesmos membros. Conclui-se que, sem reformas profundas e abertura a novas lideranças, o Partido corre o risco de se afastar cada vez mais do povo.
O Partido Frelimo na Zambézia ainda não tem novo secretariado do comité provincial, depois da decisão da comissão política de dissolver todo o secretariado provincial, até ao círculo. A dissolução do comité provincial pela comissão política ocorreu devido aos problemas que arrastavam o partido para um cenário de falta de união entre os membros ao nível interno. A chefe da Brigada Central da Frelimo de Assistência a província da Zambézia, Margarida Talapa, apela à união e coesão e, várias vezes falou sobre o compromisso político da Frelimo no processo de pacificação do país. (O Pais, 02/05/2025).
Na política moçambicana, há eventos que surgem com o estrondo de uma ruptura, mas que, na realidade, mais parecem reorganizações estratégicas no tabuleiro do mesmo jogo. A recente demissão em bloco do secretariado provincial da FRELIMO na Zambézia parece encaixar-se neste padrão. À primeira vista, o acto poderia sugerir uma tentativa de "purificação" das fileiras, um gesto de renovação interna. Este cenário mostra uma extraordinária capacidade da FRELIMO de reciclagem interna dos mesmos nomes, os mesmos rostos, rotacionados como peças num jogo de xadrez cuja partida é sempre vencida pelos mesmos. A renovação que se pretende fazer crer não é estrutural, mas cosmética. Sai o secretário A, entra o camarada B antigo assessor de A. Trocam-se os apelidos, mantêm-se as alianças.
Tome-se o exemplo de Pio Matos, governador da Zambézia durante vários mandatos. Não é apenas um problema de longevidade no poder, mas da forma como o poder é legitimado. A sua permanência no cargo quase vitalícia levanta questões sobre o que de facto se entende por "renovação de quadros". O caso de Caifadine Manasse é ilustrativo: esteve de costas voltadas com o partido, levantou processos judiciais e foi recompensado com o cargo de ministro da Cultura e Turismo. ” Num partido onde o conflito deveria, teoricamente, implicar afastamento ou revisão de condutas, o que se vê é o inverso: o conflito, desde que habilmente gerido, converte-se em moeda de ascensão. Como observou um analista político anónimo à DW África: “Em Moçambique, a dissidência na FRELIMO pode ser tanto um risco como uma oportunidade. Depende de quem a protagoniza.”
Esta "purificação" das fileiras, portanto, soa mais a banho-maria do que a fervura. É um ciclo de continuidade tido como mudança. Como dizem nas ruas de Quelimane: “o camarada muda de posto, não de postura. A FRELIMO corre o risco de, na tentativa de manter o brilho da fachada, acabar corroendo o próprio corpo político e afastando ainda mais os cidadãos que já não acreditam em promessas de renovação feitas com os mesmos pincéis de sempre. Como diz a sabedoria popular, "quem muito se lava, perde a pele". A questão que se impõe é: quem purifica o purificador? Quem define os critérios da lealdade, da competência e da renovação dentro do Partido FRELIMO? Quantos jovens camaradas, com ideias e energia, foram sistematicamente empurrados para as margens em nome da "experiência" e da "confiança partidária"? Será que neste banho maria de purificação das fileiras do Partido FRELIMO na Zambézia existe espaço para a emergência de uma nova geração de lideranças, que não esteja refém dos pactos velados e das dívidas políticas internas?
Na Zambézia, uma das províncias mais críticas da oposição, sobretudo após eleições marcadas por denúncias de fraudes, onde o povo observa, com cansaço a política de espelhos, esta operação interna do Partido FRELIMO poderá até ser interpretada como um gesto de contenção diante das contestações crescentes, enquanto o partido não romper com a lógica do apadrinhamento e da reciclagem dos mesmos rostos, continuará a cavar a sua distância do eleitorado.
2025/12/3
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