UniLicungo – Beira, gradua com foco nos desafios de Excelência e Inovação

Paulo Vilanculo"

A Universidade Licungo, na sua extensão da Beira, prepara-se para graduar a 19 do corrente mês de Setembro mais um grupo de estudantes, num contexto em que o ensino superior em Moçambique se encontra marcado por avanços e contradições. A cerimónia de graduação da Licungo-Beira, além de festa e vitória, levanta questões de analise e compreensão, na prespectiva de olharmos como transformar as universidades emergentes em polos reais de excelência científica e cultural conciliando a necessidade urgente de formar mais quadros com a exigência de qualidade que uma universidade deve oferecer e ultrapassar a precariedade estrutural que ameaça corroer o prestígio das instituições de ensino superior em Moçambique.

Palavras-chave: Ensino superior; graduação; excelência; inovação académica; Moçambique.

 

A Universidade Licungo vai graduar a 19 de Setembro na cidade da Beira, mais um grupo de estudantes formados em diversas áreas de conhecimento. O ato, revestido de solenidade e esperança, representa não apenas a consagração de anos de esforço académico, mas também a materialização de um sonho coletivo de crescimento institucional, social e humano. Enquanto se formam milhares de graduados todos os anos, persiste a dúvida sobre a qualidade real da formação e a capacidade do mercado em absorver este capital humano.

Do ponto de vista da excelência, a instituição tem procurado afirmar-se através da diversificação de cursos, da inserção dos graduados no mercado de trabalho e da criação de pontes entre a academia e a sociedade. A extensão da Beira é prova de que a universidade deseja estar mais próxima dos estudantes e da comunidade local, contribuindo para a formação de quadros que poderão impulsionar o desenvolvimento regional. No entanto, da necessidade de expansão do ensino superior em Moçambique é acompanhada por dilemas profundos. Se, por um lado, há um esforço visível de expansão e democratização do acesso, por outro persistem desafios ligados à falta de condições operacionais, infraestruturas inadequadas, ausência de recursos informáticos e escassez de docentes.

De um lado, a falta de autonomia institucional, mantém muitas universidades presas a decisões centralizadas, incapazes de definir as suas próprias estratégias e prioridades. Soma-se a isso a dependência financeira, assente quase exclusivamente em propinas e em orçamentos estatais insuficientes, que sufocam qualquer plano de crescimento sustentável. Uma universidade que carece de autonomia de gestão financeira, funciona sem laboratórios equipados, recursos informáticos ou apoio às atividades de investigação e, dificilmente, isso pode reivindicar o estatuto de “excelência”.

Outro entrave está a necessidade social, que empurra milhares de jovens para a universidade, mesmo quando as instituições não têm infraestruturas compatíveis. Na massificação do acesso à universidade contrasta com a limitação de recursos humanos qualificados, de infraestruturas adequadas e de políticas públicas consistentes de financiamento. O que se observa, em muitos casos, é a tentativa de responder à pressão social pela formação superior com estruturas frágeis e precárias, onde o título de “universidade” nem sempre corresponde às exigências internacionais do termo. Muitos estudantes enfrentam carências de bibliotecas atualizadas, laboratórios equipados e apoio social para manter-se no percurso académico. Assim, a “excelência universitária” convive com a necessidade de responder à pressão social pela formação superior e com a precariedade estrutural que ameaça a qualidade académica.

A ausência de inovação é visível fundamentada em escassez de meios tecnológicos, laboratórios e políticas de incentivo à investigação. Jamais haverá inovação sem recursos tecnológicos, centros de investigação e políticas de incentivo, a maioria das instituições limita-se ao ensino tradicional, com pouca produção científica e inovação aplicável à realidade moçambicana. É o espelho das fragilidades e precariedades que continuam a caracterizar o setor. A precariedade que marca o ensino superior em Moçambique, que juntos impedem que o discurso da “excelência” se materialize numa prática universitária sólida e transformadora, não resulta de um único fator isolado, não tão só do peso acumulado de várias fragilidades. A precariedade manifesta-se ainda pela fragilidade da investigação científica.

O risco, portanto, é que o termo “universidade de excelência” se transforme num slogan vazio, usado em discursos protocolares, mas sem sustentação real nas condições materiais e científicas das instituições. A Excelência não é apenas uma imagem institucional, é antes a tradução concreta de meios operacionais adequados, insuficiência de docentes, bibliotecas atualizadas, salas apetrechadas, acesso a tecnologias de ponta e políticas académicas sólidas. Assim, a “excelência” nas universidades enfrenta dificuldades diversas e entra em uma contradição de difícil sustentação.

A excelência autêntica só pode ser conquistada quando houver: financiamento adequado e sustentável; investimento em infraestrutura física e digital; políticas de valorização do corpo docente e da investigação científica e condições sociais que garantam permanência e sucesso estudantil. No entanto, isto não significa negar os esforços que instituições emergentes como a Universidade Licungo fazem para manter a máquina a funcionar. Há docentes empenhados, estudantes resilientes e comunidades locais que veem nestas universidades uma ponte de esperança. É, por um lado, um retrato da expansão do ensino superior no país, respondendo à crescente procura de jovens que aspiram a um diploma universitário e a melhores condições de vida.

A UniLicungo, assim como outras instituições emergentes da fragmentação da antiga Universidade Pedagógica de Moçambique, carrega em si a marca da renovação e desafio. No meio destas contradições, a UniLicungo e seus graduados seguem firmes, simbolizando não apenas conquistas individuais, mas também o anseio coletivo de um país que vê na educação superior uma das chaves para o futuro.

2025/12/3