Professor Fernando Vaz, “o super honoris causa do ano”

Paulo Vilanculo"

A cerimónia de outorga do grau honorífico decorreu num ambiente de reconhecimento e celebração, reunindo docentes, estudantes e convidados que testemunharam a importância simbólica e prática desta distinção. O título de honoris causa, reservado a personalidades cuja trajetória ultrapassa os limites formais da academia, surgiu como uma homenagem coerente da influência intelectual e pedagógica do homenageado, Professor Fernando Vaz. Conhecido pelo seu contributo consistente para o debate académico e pela capacidade de inspirar gerações de estudantes e profissionais, o Professor Fernando Vaz é referência no espaço universitário na formação médica. A sua atuação evidencia uma visão da educação como instrumento de transformação social, desenvolvimento humano e consolidação da cidadania, valores que se alinham com a missão das instituições de ensino superior comprometidas com o futuro do país.

A atribuição do título de doutor honoris causa ao Professor Fernando Vaz pela Universidade Wutivi representa um momento de particular relevância para o ensino superior moçambicano. Trata-se de um reconhecimento público de um percurso académico, profissional e humano marcado pelo compromisso com o saber, a formação de quadros e a promoção do pensamento crítico. Ao distinguir Fernando Vaz, a Universidade Wutivi sublinha o valor de uma carreira construída com base na dedicação à docência, à investigação e à reflexão sobre os desafios contemporâneos da educação e da sociedade.

Na sua aula de sapiência, proferida aquando da atribuição do título de doutor honoris causa pela Universidade Wutivi, o Professor Fernando Vaz deixou mais do que palavras de circunstância. Deixou uma visão clara, humanista e profundamente comprometida com a transformação do ensino superior em Moçambique.

“Sempre sonhei com um ensino superior humanizante em Moçambique (…)”

O Professor Fernando Vaz recoloca a universidade no seu lugar originário: não apenas como fábrica de diplomas, mas como espaço de formação integral do ser humano. Num contexto em que o ensino superior moçambicano é frequentemente acusado de mercantilização, burocratização excessiva e distanciamento social, a ideia de um “ensino superior humanizante” surge como um apelo ético e civilizacional. Humanizar, aqui, significa ensinar com consciência social, responsabilidade moral e compromisso com o bem comum.

“O que conta numa universidade é a qualidade dos seus docentes (…)”

O homenageado toca num dos pontos mais sensíveis da academia nacional. Mais do que infraestruturas vistosas, rankings artificiais ou marketing institucional, Fernando Vaz coloca o docente no centro da excelência universitária. O argumento é claro: universidades fortes constroem-se com professores competentes, eticamente comprometidos, pedagogicamente preparados e cientificamente ativos. Trata-se de um chamado à valorização do corpo docente e à exigência de critérios rigorosos na sua seleção e avaliação.

“Que os profissionais universitários encontrem um relacionamento na avaliação de humanização, num trabalho conjunto digno (…)”

 Vaz introduz uma dimensão relacional frequentemente negligenciada. Avaliar não é apenas medir notas ou resultados técnicos, mas também observar atitudes, valores e práticas humanas. O “trabalho conjunto digno” remete para uma cultura universitária baseada na cooperação, no respeito mútuo e na corresponsabilidade institucional. Esta visão contrasta com ambientes académicos marcados por rivalidades, autoritarismo e fragmentação.

“…para que os futuros médicos proporcionem uma verdadeira saúde para o povo, tratando com empatia e respeito, comunicação clara, olhando para os aspectos emocionais, psicológicos e sociais dos pacientes.”

Neste excerto, Fernando Vaz articula universidade, saúde pública e humanidade. A formação médica, segundo a sua visão, não pode limitar-se à técnica e ao diagnóstico clínico. Deve integrar empatia, comunicação e sensibilidade social. Num país onde muitos cidadãos se queixam de desumanização no atendimento hospitalar, esta abordagem assume um valor estratégico: formar médicos tecnicamente competentes, mas também profundamente humanos.

“Os Reitores devem ser visionários, tornando as universidades brilhantes (…)”

O Professor Fernando Vaz dirige-se diretamente à liderança universitária. Para ele, reitores não devem ser meros gestores administrativos, mas líderes com visão estratégica, capacidade intelectual e coragem ética. “Universidades brilhantes” não se constroem com autoritarismo ou improviso, mas com visão de longo prazo, investimento na ciência, valorização das pessoas e compromisso com a sociedade. A aula de sapiência de Fernando Vaz justifica, por si só, o título que lhe foi atribuído. Mais do que um honoris causa, trata-se do reconhecimento de um pensamento maduro, coerente e necessário para o presente e o futuro do ensino superior moçambicano. Mais do que um título, o honoris causa atribuído a Fernando Vaz reafirma a centralidade do mérito, da ética académica e do serviço à comunidade como pilares da vida universitária.

Num contexto em que o ensino superior enfrenta desafios complexos, a valorização de figuras que dedicaram a sua vida ao saber constitui um sinal positivo. Ao homenagear Fernando Vaz, a Universidade Wutivi não apenas celebra um indivíduo, mas reafirma o papel da universidade como espaço de excelência, reconhecimento do mérito e construção do conhecimento ao serviço da sociedade. O Professor Fernando Vaz emerge, assim, como o super honoris causa do ano, não pelo número de títulos, mas pela profundidade do seu legado intelectual e pelo impacto duradouro do seu trabalho na formação de consciências críticas. O “super honoris causa do ano” revela-se, assim, não como um título excessivo, mas como o reflexo de uma voz que insiste em lembrar que a universidade só faz sentido quando serve o ser humano.

2025/12/3