Professor Doutor Honoris Causa, para Lula de memórias, lutas e pontes no valor da Educação em Moçambique

Paulo Vilanculo"

A Universidade Pedagógica de Moçambique outorgou a Sua Excelência Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Federativa do Brasil, o título de Doutor Honoris Causa, distinção que, no plano epistemológico, consagra a convergência entre autoridade política, produção simbólica e relevância sociocognitiva. Este ato académico constitui um reconhecimento institucional da trajetória singular de Lula, marcada pela ascensão a partir das periferias sociais, pela defesa inalienável da dignidade humana e pela formulação de políticas públicas orientadas por uma racionalidade emancipatória, elementos que o inscrevem no campo da pedagogia crítica e da teoria da justiça social. 

O padrinho do honorificado, Professor Doutor Lourenço do Rosário, magnifico patrono da Universidade Politécnica de Moçambique, não fugiu às referências ao movimento negro no Brasil, sublinhando a sua centralidade na luta pela regulação da dignidade humana e pelos direitos que historicamente lhes foram negados. Por outro lado, a sua intervenção evocou um “momento do chumbo” que, para muitos observadores moçambicanos presentes, encontrou ressonância nos momentos pós-eleitorais vividos em Moçambique, onde a tensão social e a disputa pela narrativa oficial continuam a marcar a conjuntura política.

Apesar de ser, por vezes, ser recebido em espaços “hostis”, como recordou Professor Doutor Lourenço do Rosário, Lula destaca-se pela sua persistência alimentada pela convicção de que a política deve servir ao povo, uma posição que reforça a sua permanência entre os líderes mais respeitados no cenário internacional. Rosângela da Silva, a primeira-dama brasileira, foi marcada a sua presença, através da sua dedicação com firmeza à causa da inclusão dos povos excluídos no Brasil, numa militância que reforça o discurso social do governo brasileiro. A recuperação da cooperação com Moçambique, especialmente no âmbito do G20, foi apresentada como um compromisso renovado de solidariedade entre nações historicamente ligadas por afinidades culturais, políticas e humanas.

Entre memórias e gestos artísticos, o encontro transformou-se num retrato vivo da capacidade da educação, da cultura, de unir povos e reacender esperanças. A cerimónia ganhou ainda mais força simbólica com a participação da artista moçambicana Reinata Sadimba, que ofereceu a Lula uma obra inspirada na luta de sua mãe, remetendo simultaneamente para a resistência das mulheres moçambicanas, uma ponte cultural que emocionou os presentes. O escritor moçambicano Mia Couto encerrou o momento de elogios com palavras poéticas, lembrando que “o Brasil está dentro de nós”, ressaltando o papel do país na luta global contra a pobreza e contra a fome, bandeiras assumidas por Lula desde o seu primeiro mandato.

O honorificado, no seu discurso banhado de lágrimas discretas e metáforas contundentes, Lula revisitou os paradigmas que moldam a memória colectiva, contrapondo-os ao risco sempre presente e o esquecimento do antigo “companheiro”, como insiste em se identificar, que emocionou, ao recuperar narrativas da dignidade humana e das batalhas sociais que marcaram a sua trajetória. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva voltou a reafirmar o valor transformador da educação, numa aula que se confundiu com uma lição de vida e de luta. Para Lula, “a educação deve ser um investimento” Lula ressurge, mais uma vez, como figura que transita entre a política e o humanismo, reafirmando que a verdadeira luta é sempre pela dignidade humana.

Ao conferir-lhe o estatuto de professor doutor, a Universidade Pedagógica de Maputo estabelece uma ponte entre o saber experiencial e o saber académico, dialogando com correntes teóricas como o humanismo freiriano, que enfatiza a educação como acto libertador, e a epistemologia do Sul, tal como formulada por Boaventura de Sousa Santos, que reivindica a valorização dos conhecimentos produzidos nos contextos subalternos. No horizonte da universidade, a homenagem sinaliza o compromisso com uma visão de educação que transcende a instrução formal e se articula com a transformação social enquanto imperativo ético e epistemológico.

Ao integrá-lo simbolicamente no corpo académico como Professor Doutor, a Universidade Pedagógica reafirma a centralidade do conhecimento como vetor de transformação e sublinha a importância do diálogo Sul-Sul na produção de saberes contextualizados. Este ato solene, revestido de elevada simbologia política e cultural, reinscreve ainda as relações entre Moçambique e Brasil numa genealogia de solidariedades históricas, reafirmando a centralidade da cooperação Sul-Sul na construção de agendas comuns para o combate estrutural à pobreza, à exclusão e às desigualdades persistentes no espaço lusófono. Assim, a distinção transcende o protocolo cerimonial e adquire densidade ontológica: posiciona Lula como sujeito epistémico cuja praxis política se converte em referência para o pensamento crítico contemporâneo.

 

 

 

2025/12/3