Ossufo Momade, da herança da RENAMO à sua marginalização no Estado: um avesso do véu e enforque do acordo de Roma?

Paulo Vilanculo"

Ossufo Momade ao Conselho de Estado, contrastando com a sua decadência política real dentro da RENAMO suger uma estratégia de manipulação estatal para controlar a oposição por dentro? Queda Política e a Ascensão Formal? Um peão no xadrez de governabilidade Controlada? Manutenção de uma oposição domesticada, fragmentada e funcional à hegemonia politica? A recente tomada de posse dos membros do Conselho de Estado trouxe à tona um episódio que não passou despercebido no xadrez político moçambicano. A tomada de posse de Ossufo Momade no Conselho de Estado não é apenas uma questão protocolar, mas uma tentativa velada de "abafar pela peneira" a luz que se concentra em Venâncio Mondlane na sua ascensão política, marcada por discursos e mobilização popular nas ruas que o transformou em referência incontornável da oposição. Porém, a estratégia do dia parece ser a de minimizar a sua presença, desviando atenções ou empurrando-lhe para as margens institucionais, como se fosse possível esconder o sol atrás de uma peneira. Ossufo Momade, tido até há pouco tempo como a principal figura da oposição, foi relegado a um papel quase figurativo, sentado como mero elemento, sem destaque nem reconhecimento proporcional ao peso histórico da sua figura. Momade, que durante anos carregou a herança política e militar da RENAMO, surge agora como espectador da própria história, envolto num silêncio institucional que ecoa a perda de influência e autoridade dentro e fora do partido. Ossufo Momade, outrora guardião de um legado de resistência, transforma-se em metáfora da oposição domesticada, que assiste, da tribuna, ao desenrolar de um jogo onde as regras já não lhe favorecem. A sua presença, quase diluída no coletivo, pode ser interpretada como reflexo de uma oposição enfraquecida e de um processo democrático onde a pluralidade é tolerada apenas como formalidade. Ao ignorar a centralidade de Ossufo Momade como líder da oposição que deveria naturalmente ocupar o espaço de destaque, o Estado transmite uma mensagem dura que acalrra a voz que, ontem, ecoava como alternativa, mas hoje reduzida a escombro sem peso decisório. A narrativa construída em torno da luz da “centralidade” de Ossufo Momade como líder emblemaico da oposição em Mocambiqu contrasta com a realidade vivida: Momade aparece como sombra vazia, enquanto Venâncio emerge como voz vibrante, capaz de traduzir as inquietações da juventude urbana e do eleitorado cansado da hegemonia governamental. O esforço de sufocar este brilho revela mais medo do que força. Trata-se de um mecanismo de gestão política em que a visibilidade é cuidadosamente controlada para evitar que o opositor mais carismático se afirme como alternativa legítima. Ora, a decadência de Momade dentro da RENAMO e a sua ascensão ao Conselho de Estado são, portanto, duas faces da mesma moeda, por um llado, o colapso da oposição combativa e a emergência de uma oposição simbólica, útil ao regime mas muito degradada distante das bases populares. Neste contexto, a figura de Issufo Momade surge cada vez mais como um "presidente desmascarado e desuso", cuja liderança parece estar aprisionada entre a lealdade a um processo político conduzido pelo Governo e a desconfiança de muitos dos seus antigos camaradas de armas. O que se prometia como um novo capítulo de uma verdadeira democracia de reconciliação nacional pode estar a transformar-se numa estratégia sofisticada de dominação política, com traços maquiavélicos e consequências imprevisíveis. Por detrás da cortina da legalidade e da ordem pública, esconde-se um drama político com implicações graves para a paz e estabilidade do país. A perda de autoridade interna, visível nas recentes manifestações e motins de antigos guerrilheiros, sugere que o DDR, ao invés de curar feridas, pode estar a agravar divisões dentro da própria RENAMO. Neste cenário, aparenta-se protocolar um terreno carregado de simbolismo político e interrogações sobre a real vitalidade do Acordo Geral de Paz de Roma, assinado em 1992 como um “enforque simbólico” cujo espírito era justamente o de conferir dignidade e espaço político a todas as forças que contribuíram para a construção da paz. Assim, a nomeação de Momade pode ser interpretada como o culminar de um processo de cooptação política, onde o Estado, supostamente neutro, age como mão invisível que legitima certos líderes da oposição, desde que estes sejam úteis à manutenção do status quo. A manutenção simbólica de Momade no Conselho de Estado mostra não apenas a erosão do seu protagonismo pessoal, mas também o avesso de um compromisso de reconciliação nacional que, desde Roma, foi proclamado como fundação de uma nova era. Nesta lógica, o Conselho de Estado deixa de ser palco de equilíbrio e torna-se vitrine da hegemonia, uma ironia amarga que, ao mesmo tempo perde legitimidade interna e se torna figura controversa entre os próprios quadros e ex-guerrilheiros da RENAMO, nesta vertente, o Conselho de Estado, em vez de fortalecer a pluralidade democrática ,torna-se uma vitrine de inclusão simbólica, onde a presença de ditos opositores serve mais para calar divergências do que para escutá-las. O gesto de reduzir Momade a simples elemento no Conselho de Estado pode, paradoxalmente, servir de combustível para consolidar Mondlane como a verdadeira referência da oposição, com a sua crescente projeção como o rosto mais expressivo, diferentemente do PODEMOS que emerge desagregado como uma força alternativa, como possível catalisador da reconfiguração do espaço político moçambicano. A ascensão de Venancio Mondlane não se limita ao carisma do líder, mas à capacidade de oferecer-se como refúgio a um eleitorado desiludido com a fragilidade da RENAMO e com a imagem cada vez mais simbólica, quase decorativa, que Ossufo Momade ocupa nas instituições. A Redefinição da oposição ao colocar Venâncio Mondlane no centro das suas dinâmicas, o ANAMOLA passa a ser identificado como a verdadeira vetrina de ostentação, um reposicionando elusorio de uma oposição que finge ser para além da narrativa histórica RENAMO-FRELIMO. Por outro lado, coloca o MDM numa posição humilhante a de um partido que já não ocupa espaço de destaque no debate nacional, que não atrai multidões, nem galvaniza esperanças e se coloca como simples figurante que reflete a sua irrelevância prática nem protagonismo, já que o MDM ocupa um lugar cada vez mais reduzido, quase decorativo, incapaz de impor-se como alternativa credível. A sua presença nos espaços institucionais não se traduz em voz relevante, mas em silêncio que ecoa como resignação. Esta marginalização não é apenas imposta pelo sistema; é também resultado de uma incapacidade de renovação interna e de articulação com as novas dinâmicas de contestação política. Assim, o MDM surge, lado a lado com a RENAMO de Momade, como parte de uma oposição que se esvazia no próprio peso da história e nos limites da sua estratégia. O MDM parece condenado a viver de restos simbólicos, sem conseguir reerguer-se como força disruptiva. A sua posição, humilhante e desconfortável, é mais um retrato da falência das promessas de pluralismo político em Moçambique. A fotografia política desta tomada de posse revela, assim, não apenas a posição de Momade no organograma institucional, mas a fragilidade da democracia moçambicana e a lenta corrosão da promessa de Roma. Ossufo Momade, nesse contexto, deixa de ser líder de um projecto de oposição com raízes sociais e armadas, e passa a ocupar o lugar de um opositor institucionalizado, seguro, previsível e, para muitos, vazio de representatividade real. A sua autoridade interna enfraquece, enquanto o seu prestígio externo cresce... mas apenas no teatro formal da política oficial. Quanto mais o Estado tentar reduzir Mondlane ao silêncio ou à irrelevância, maior será a pressão para que o ANAMOLA se firme como partido com legitimidade, reclamando espaço em arenas como o Conselho de Estado e nas negociações políticas de futuro e converter-se no “novo epicentro da oposição”, aquele que carrega a esperança de dar voz a uma sociedade sofrida, mas ainda resistente.

2025/12/3