Paulo Vilanculo "
Este artigo mergulha na crise de partidos, nos seus conflitos internos e nas disputas de liderança que traça um retrato de uma oposição que voa em círculos, sem direção, sem povo e sem projeto. O artigo analisa a recente crise no seio do partido PODEMOS, evidenciada pela fracassada eleição do seu Secretário-Geral, como reflexo das debilidades estruturais e estratégicas que assolam a oposição moçambicana em geral. Como acreditar numa oposição que, em momentos decisivos, se enreda em disputas menores e se esquece do compromisso maior com o povo? Que tipo de oposição queremos em Moçambique? Recentemente, Moçambique foi palco de mais um espetáculo político que, em vez de afirmar uma alternativa sólida ao poder vigente, evidenciou o quanto os partidos da oposição continuam reféns das suas próprias contradições. A guerra interna que se desenrolou em torno da eleição do novo Secretário-Geral do partido “PODEMOS” terminou de forma abrupta, sem desfecho nem clareza, como um teatro cujos atores perderam o roteiro a meio da peça. No lugar de um desfecho democrático e edificante, restou um silêncio embaraçoso e um fim sóbrio que mais levanta dúvidas do que oferece respostas. A tentativa de eleição de um novo Secretário-Geral, longe de ser um exercício de democracia interna, revelou-se uma arena de egos inflados, ambições desmedidas e ausência total de coesão programática. Cada ala do partido parecia falar uma língua diferente, enquanto os militantes assistiam perplexos à implosão de um projeto que ainda nem saiu da infância política. A imagem que fica é a de um partido sem bússola, sem liderança clara e sem uma linha ideológica definida, ou seja, um barco à deriva num mar já turbulento. O fracasso na eleição do Secretário-Geral é, portanto, mais do que um episódio interno. É um sintoma de uma crise mais profunda que atravessa vários partidos da oposição: a dificuldade em se constituírem como verdadeiras alternativas, com líderes comprometidos com causas coletivas e não apenas com carreiras pessoais. A crise do PODEMOS, embora caricata e ainda embrionária, espelha em miniatura a tormenta que assola partidos mais estabelecidos como a RENAMO. Ali também reina o caos disfarçado de debate interno. A luta pelo afastamento de Ossufo Momade por um grupo interno que empunha um "punho de ferro" contra a sua liderança revela não apenas uma disputa legítima por renovação, mas sobretudo uma cultura política que prefere o confronto à construção, a fragmentação ao consenso. Num momento em que o país vive profundas crises sociais, económicas e políticas, a ausência de uma oposição sólida, séria e mobilizadora apenas fortalece o status quo. A oposição moçambicana continua a ser, em muitos casos, um espaço de sobrevivência política e não de transformação nacional. Sem pressão organizada, sem propostas claras e sem líderes que inspirem confiança, a democracia moçambicana seguirá capenga, com um pluralismo de fachada e um povo cada vez mais cético. Enquanto isso, o povo, que espera por respostas às suas carências reais, permanece órfão de representação legítima. A oposição moçambicana tornou-se, em muitos casos, uma caricatura de si mesma: partidos sem estratégia, líderes sem princípios e estruturas sem povo. Se a disputa pelo poder interno continuar a ser o centro das suas energias, o que restará será apenas o eco de siglas ocas, cada vez mais distantes da esperança popular que um dia pretenderam encarnar. A oposição moçambicana, nesse ritmo, parece mais uma colcha de retalhos remendada por ambições individuais do que um campo de batalha por ideais coletivos. A consequência é previsível: descrédito popular e desgaste da já frágil confiança no pluralismo político. Sabe se que cegonhas são aves migratórias, muitas vezes vistas como símbolos de esperança ou renovação. Mas no contexto político moçambicano, parecem mais representar figuras erráticas, que surgem em bando durante as épocas eleitorais e desaparecem quando é tempo de trabalho árduo e construção de base. Precisamos de partidos que se organizem como verdadeiras instituições democráticas, com capacidade de autocrítica, estrutura programática e visão estratégica. Por outro lado, o caso do Partido Nova Democracia e a usurpação da sua presidência durante o encarceramento de Vitano Singano por cerca de seis meses é outro espelho trágico da fragilidade estrutural dos partidos da oposição moçambicana. Em vez de um gesto de solidariedade ou defesa institucional do seu líder, preso o que se assistiu foi uma disputa oportunista pelo poder. Alguns membros do partido aproveitaram a ausência forçada de Singano para reconfigurar a liderança à sua maneira, sem debate interno legítimo, nem mecanismos claros de sucessão provisória, apenas uma luta silenciosa de bastidores, que expôs o PND ao ridículo e à dúvida pública, revelando uma lógica de poder imediatista, onde o lugar da presidência vale mais que os valores que deviam sustentá-la. Infelizmente, o que vemos com o PODEMOS os partidos da oposição transformaram se num punhado de “cegonhas” desorientadas, batendo asas em círculos, sem saber para onde voar. O PODEMOS ainda não demonstrou ser diferente deste padrão cíclico e oportunista. Tal como cegonhas desorientadas que sobrevoam o espaço político sem direção, os partidos da oposição demonstram mais instinto de sobrevivência do que capacidade transformadora. Entre lutas internas por poder, como as enfrentadas dentro da RENAMO contra Ossufo Momade e no PND durante a prisão de Vitano Singano, torna-se claro que a oposição prefere combater-se a si própria do que enfrentar com firmeza e estratégia o partido no poder. No fim das contas, a luta pelo poder no seio dos partidos da oposição tem se revelado uma autêntica guerra onde cada protagonista se vê como salvador, mas agindo como usurpador num campo minado de vaidades onde os projectos colectivos são engolidos pelas ambições pessoais. Em vez de alternativas, surgem figuras erráticas, estruturas frágeis e lideranças movidas pela vaidade pessoal. Neste cenário, o povo moçambicano permanece órfão de uma representação política séria e coerente, e a democracia perde sentido real. A oposição, assim retratada, corre o risco de se transformar num bando de siglas ocas – punhados de cegonhas batendo asas em círculos, incapazes de construir um novo rumo para Moçambique. A RENAMO, PODEMOS e outros partidos da oposição, parecem ser refém de uma oposição que não sabe opor-se com responsabilidade, nem a si mesma. Em vez de se apresentarem como alternativas programáticas, todos partidos tornam-se palcos de gladiadores ideológicos que lutam por tronos frágeis, enquanto a plateia, o povo, assiste, mais uma vez, desiludida.
2025/12/3
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