
Paulo Vilanculo"
Moçambique é um país de contrastes brutais: riqueza e pobreza extrema convivem sob o mesmo céu. No palco do INATRO, o Instituto Nacional de Transportes Rodoviários, a cortina se abre para um espetáculo de desperdício. O INATRO enviou uma comitiva, incluindo o Presidente do Conselho de Administração e o Inspector-Geral do instituto, para Nampula. Segundo informações, foram adquiridos bilhetes de avião para todos os membros da comitiva, com custos que não foram especificados publicamente. No entanto, ao chegarem à cidade, descobriram que os compromissos agendados para a tomada de posse de um novo dirigente não haviam sido confirmados. Viagem sem propósito, bilhetes de avião pagos pelo erário e zero retorno à sociedade, um verdadeiro espetáculo de má gestão, digno de aplausos apenas entre os atores da própria administração.
A nominação do rei Matlombe não vem ao acaso, incide sobre a visão da gestão danosa da coisa publica que não se defere a uma governação de um rei, da monarquia-anarquista, que se caracteriza pela concentração do poder absoluto, onde sua vontade é soberana. O título "Inatro, a casa teatral do rei Matlombe" serve como uma metáfora para questionar os gastos do erário público em Moçambique. O INATRO, a “casa teatral do rei Matlombe”, é a metáfora perfeita de um país onde o luxo administrativo ofusca as necessidades do povo. A peça teatral já é crítica, mas permanece impassível ao Ministro que “brilha” com escândalos, na impunidade instalada da valorização de extravagâncias do que atender às reais necessidades da população. Cada escândalo despoletado é aplaudido internamente, enquanto fora do palco, a população sofre com as negligências sucessivas.
O INATRO investiu cerca de 113 milhões de meticais na instalação de um novo centro de processamento de cartas de condução, em parceria com a empresa Muhl Bauer High Tech International. Este episódio serve como um lembrete da necessidade urgente de reformas na gestão pública, com ênfase em transparência, responsabilidade e eficiência no uso dos recursos do Estado. O episódio da comitiva do INATRO em Nampula, aliado a outros gastos supérfluos e mal planeados, permite elucidar a predominância de “luxos administrativos”, um sentimento generalizado de falta de administração eficaz por parte do Ministro do Pelouro responsável. Casos como o da comitiva do INATRO reforçam a percepção de que recursos destinados ao bem público são frequentemente desviados para interesses pessoais ou grupais, prejudicando o desenvolvimento do país e a confiança dos cidadãos nas suas instituições. A ocorrência de viagens oficiais sem propósito claro e a persistência de práticas corruptas alimentam um ciclo de desconfiança entre a população e as instituições públicas.
A incapacidade de coordenar agendas, como no caso da viagem a Nampula, sugere uma gestão desorganizada, sem planeamento ou controlo eficiente sobre processos e comitivas oficiais. Cada decisão, cada viagem inútil e cada gasto supérfluo torna-se um testemunho de desconexão com a realidade social, corroendo a confiança pública e alimentando o sentimento de injustiça entre os cidadãos que lutam diariamente para sobreviver em um país de enormes carências. A ausência de explicações claras sobre os custos, objetivos e resultados de tais viagens alimenta a sensação de que os recursos públicos estão sendo usados de forma opaca e irresponsável. Além do aspecto financeiro, há uma dimensão simbólica e política teatral que espelha uma desconexão entre líderes e cidadãos, alimentando sentimentos de injustiça e descrença na gestão pública. Este episódio não apenas revela a má gestão do ministro responsável, mas também expõe a insensibilidade do Estado, que permanece omisso diante de escândalos repetidos, permitindo que a impunidade e a ostentação prevaleçam.
“Ministros que brilham com escândalos continuam em cena, o Estado assiste e nada faz.”
O INATRO, enquanto “casa teatral do rei Matlombe”, mostra que em Moçambique o verdadeiro espetáculo de comitivas sem propósito, ministros escandalosos e decisões à margem da ética. O luxo do palco contrasta com a pobreza das arquibancadas, lembrando que, até que prioridades sejam realinhadas, o público continuará pagando caro pelo entretenimento de poucos, enquanto a grande maioria luta para sobreviver. O espetáculo ganha cores ainda mais sombrias quando se observa a satisfação do Conselho de Ministros e assistir friamente e legislar à margem da ética e da dignidade da coisa pública. A reflexão que se impõe é clara, Moçambique precisa de decisões conscientes e responsáveis, que priorizem o bem-estar coletivo.
A falta de ação diante de abusos evidencia uma insensibilidade às dificuldades reais do cidadão comum, que luta diariamente com carências básicas, enquanto recursos públicos são desviados ou mal utilizados. Ao não tomar medidas contra um ministro cujas ações repetidamente geram escândalos financeiros e administrativos, o Estado pode transmitir a mensagem de que a impunidade é tolerada, desvalorizando o princípio de responsabilidade pública. Manter ministros “escandalosos” no cargo cria um precedente de que a excelência no serviço público não é exigida, e que notoriedade por escândalos é socialmente tolerada, corroendo a confiança nas instituições do Estado. A não demissão de ministros que repetidamente acumulam episódios de má conduta gera descrédito tanto no governo quanto no próprio chefe de Estado, enfraquecendo legitimidade e autoridade moral. No imaginário popular, o “silêncio pode ser visto como cúmplice” quando se opta por não punir, permitindo que práticas danosas à coletividade continuem a prosperar.
O INATRO tornar se noutro palco de excessos, uma nova mina de lapidação dos recursos públicos, tal como vimos, num passado recente, a excursão turística da LAM para o exterior, sem planos concretos para o país. Para o cidadão comum, esses episódios reforçam a ideia de que o Ministro não exerce supervisão adequada e que decisões políticas e administrativas são tomadas sem critério, prejudicando a confiança pública nas instituições. O Instituto Nacional de Transportes Rodoviários segue como palco de extravagâncias públicas, simbolizado na comitiva “fantasma” enviada a Nampula, que retornou sem cumprir qualquer atividade oficial. O “rei Matlombe” torna-se assim uma metáfora do poder que se diverte enquanto o povo luta pela sobrevivência.
2025/12/3
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