Paulo Vilanculo "
Gabriel Júnior na sua apresentação do seu programa, Moçambique em concerto do ultimo domingo, apresentou, em forma de apoio, uma viúva que viu através das redes sociais seu marido a ser decapitado nas matas de Cabo delgado, uma denúncia viva, profundamente revelando publicamente, as cicatrizes reais calcadas por uma guerra ignorada e abafada pela propaganda oficial de insurgência nos corredores da morte em Cabo Delgado. Com olhos firmes na voz social, Gabriel Júnior carregou para o palco do campo das Mahotas, num evento público, um testemunho que, moralmente, ficaria confinado ao silêncio dos túmulos selvagens das matas de cabo delgado. Gabriel Júnior rompeu com as narrativas e apresentou no último domingo viúva e um bebé do colo, família de um soldado decapitado e desmembrado no conflito de insurgência em Cabo Delgado, um sinal que desvenda sobretudo, o abandono e esquecimento do Estado. É sabido que esta apresentação do Gabriel Júnior não é mero teatro, mas um clamor pela dignidade humana em meio às barbaridades. Ao mostrar as cicatrizes de Cabo Delgado, ele desafiou o conformismo divergente de opiniões sobre a situação que se vive em Cabo Delgado e trouxe para Maputo, para a sociedade moçambicana e para o mundo a realidade do sofrimento que muitos não tinham vivenciado um testemunho de sofrimento publicamente. Gabriel Júnior levou, para moldura humana presente no campo das Mahotas, o conhecimento e sentimento das feridas abertas omissas no silêncio da indiferença de quem nunca teve a experiência de fugir com uma criança ao colo no meio das matas ou ver um corpo do seu ente querido decapitado e desmembrado, cicatrizes que não são apenas feridas no corpo, mas também são marcas profundas na alma nacional. A guerra ou insurgência em Cabo Delgado tem deixado marcas emocionais profundas. Muitas famílias perdem entes queridos de formas traumáticas decapitações, desaparecimentos, estupros, incêndios de aldeias. já provocou o deslocamento de mais de um milhão de pessoas. Essas populações, arrancadas das suas casas, das suas machambas e da sua história, que vivem hoje em situações de extrema vulnerabilidade nos centros de acolhimento e aldeias improvisadas, com escassez de comida, água potável, saúde e educação, o que é alarmante. Mas tão grave quanto a privação material é o trauma psicológico que acompanha os sobreviventes: noites sem sono, ataques de pânico, crianças que não falam mais, mães que vivem sob o peso da culpa por não terem conseguido salvar seus entes queridos. Por trás da denúncia de Gabriel Júnior há um grito pela justiça, memória e reparação de quem de direito para reparar, embalar e acarinhar e enxugar as lagrimas das famílias vitimas e cicatrizados de Cabo Delgado. Não basta calar os tiros, o papel do Estado deve ser ético, reparador e transformador. O Estado mesmo continuando a enfrentar o conflito ou insurgência com operações militares para defesa da soberania do seu povo, deve também olhar a dimensão humana das cicatrizes de Cabo Delgado. A paz não se constrói apenas com a resistência, vitória ou com os discursos de reconciliação. A paz exige reconhecimento do sofrimento, apoio psicossocial, políticas públicas eficazes de responsabilização dos culpados, sejam eles insurgentes, cúmplices, indiferentes ou exploradores da dor alheia. Negligenciar esse papel é alimentar revoltas silenciosas que podem, um dia, voltar a eclodir. É preciso curar as feridas, ouvir os que choram e devolver sentido à vida daqueles que ficaram. A atuação do Estado nesse contexto deve seguir princípios de justiça, reparação, proteção social e memória histórica. O Estado deve ser abrangente, proactivo e centrado na dignidade humana perante os familiares das vítimas da guerra em Cabo Delgado. O Estado deve ouvir os sobreviventes e desenhar Políticas públicas assistências aos afetados e isso exige: • Criar programas de apoio psicológico gratuito nos centros de reassentamento e comunidades afetadas; • Apoiar a reintegração emocional de órfãos e viúvas; • Alocar profissionais capacitados em traumas e saúde mental em zonas de conflito. • Investimentos para a auto-organização dos familiares das vítimas na reconstrução da vida produtiva, através de terra, insumos, microcrédito às famílias das vítimas, como forma de compensar perdas humanas, materiais e simbólicas. O gesto do Estado ao reconhecer as vítimas, tanto civis como militares, e suas famílias, isso demonstraria que onde se trabalha, na prevenção do conflito, na proteção das populações para garantir a paz e estabilidade, também pode haver falhas e, não tão só a compreensão da dor dos sobreviventes, mas a responsabilidade reforça a sua legitimidade institucional.2025/12/3
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