“Kôbe o outro Far Weste dos assassinos sem rostos”

Paulo Vilanculo "

“Kôbe Far Weste” é uma metáfora um mundo imaginário de um território fora da lei como no Velho Oeste, um titulo simbólico que dialoga diretamente com um retrato de uma cidade onde se mata em plena rua e onde a vida humana vale menos que os segredos que se carregam numa mala. Esta reflexão vem a propósito da morte fatídica de um condutor de uma viatura Mahindra foi crivado de balas em plena via pública no Bairro Kobe na cidade da Matola. A ocorrência do baleamento no bairro de Kôbe, na cidade da Matola, levanta questões profundas sobre segurança urbana, impunidade, onde o uso dos Mahindra é um símbolo de poder e privilégio. O padrão da operação do assassinato do condutor do Mahindra levanta dúvidas, pois transparece não se tratar apenas de um assalto comum. Após o seu abate, testemunhas entrevistado pela TV Sucesso no programa repórter relataram que indivíduos não identificados retiraram apressadamente uma mala da viatura e desapareceram. Não houve roubo de pertences pessoais, alvo era claro, com acção no tempo e a mala retirada sem paradeiro o que pode presumir conter a chave para entender as reais motivações de: documentos? Dinheiro? Provas? Por outro lado, a chegada sempre tardia da Polícia da República de Moçambique (PRM), na ocorrência dos factos num raio proximal do crime, aprofunda ainda mais o mistério. O assassinato do condutor do Mahindra insere-se num padrão tenebroso já conhecido em Moçambique. Casos emblemáticos como o de Carlos Cardoso, jornalista investigativo, Siba-Siba Macuácua, Julius Cistac, jurista, Elvino Dias, crítico social, e o procurador Marcelino Vilanculos, todos os casos trágicos envolvendo execuções com métodos precisos e impessoais seja por rajadas de AKM, tiros de pistola 9mm, com traços comuns como este crime. A viatura Mahindra, em Moçambique, carrega mais do que metal e rodas, visto ser frequentemente associada aos funcionários públicos de topo, projectos estatais de mobilidade ou figuras próximas dos círculos do poder. O Mahindra é, para muitos, um passaporte de impunidade em zonas urbanas. Mas hoje, em Kôbe, esse símbolo de autoridade não serviu de escudo. É absolutamente crucial para entender o padrão oculto por trás do que parecem ser episódios isolados, mas que, à luz do tempo e da repetição, evidenciam um modus operandi de silenciamento por bala em Moçambique. No caso de Siba-Siba, ele resistia à reestruturação fraudulenta de dívidas bancárias. No caso Cardoso, investigava lavagens de dinheiro e fraudes estatais. O que havia na mala de Kôbe? Haverá indícios de motivação real é apagar rastos de corrupção, desvio de fundos, redes paralelas ou chantagens internas? Embora Moçambique parece viver num ciclo onde quem questiona ou confronta interesses ocultos, arrisca-se a ser silenciado a tiro, nesta prespectiva, olhando para uma Violência selectiva e alvo calculado, talvez o alvo sabia demais, incomodava, ou ameaçava interesses ocultos. A retirada da maleta após o assassinato sugere que o conteúdo que ela guardava valia mais do que a própria vida da vítima como em diversos casos anteriores, documentos e provas desapareceram com os mortos. O assassinato ocorre num momento de elevada tensão social ou política: pós-eleições, escândalos de corrupção, repressão, denúncias de tráfico de influência, reformas constitucionais ou disputas de poder dentro das instituições, um clima de protestos, no aparelho do Estado. Parece que a bala se apresenta-se como um tribunal para quem incomoda, morre. Quem investiga, desaparece. E quem manda, nunca tem nome nem rosto. A bala já é quase sinónimo de arquivo morto. O assassinato do condutor do Mahindra, em Kôbe, não é apenas um crime comum é mais um ponto num mapa de sangue e silêncio. É um retrato de uma cidade onde se mata em plena rua e a vida humana vale menos que os segredos que se carregam numa mala. Se este crime é resultado de disputas internas, de um ajuste entre fações ocultas ou da tentativa de apagar rastos de corrupção, o tempo o dirá.

2025/12/3