Paulo Vilanculo "
No bairro de Muatala, cidade de Nampula, confrontos físicos entre membros da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), expõem divisões internas e tensões latentes. Este episódio reacende o debate sobre o papel das organizações juvenis partidárias num Estado que se proclama uno, democrático e independente. Ainda que inconscientemente, um tipo de separatismo ideológico e institucional no seio da juventude moçambicana. O secretário local do partido atribuiu a violência a “jovens infiltrados”, associando-os às recentes manifestações pós-eleitorais. Dentro deste cenário de fragmentação e instrumentalização, impõe-se uma pergunta crucial: que postura seria recomendável para uma juventude nacional verdadeiramente unitária e unificada? Quem seriam, afinal, os “infiltrados” quando se trata de uma juventude única moçambicana a participar numa organização que, teoricamente, representa a juventude da nação?
Muatala, o maior bairro da cidade de Nampula, assistiu recentemente a cenas de pancadaria entre membros da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), numa reunião interna que degenerou em violência física. O secretário local do Partido, numa tentativa de controlo narrativo, apressou-se a imprensa responsabilizando “jovens infiltrados” numa expressão que se tem tornado banal e politicamente inútil para abafar desinteligências internas no seio da juventude da organização.
A retórica do infiltrado tornou-se um reflexo da própria fragilidade da estrutura partidária, que já não pauta com o pluralismo e crítica de Jovens que pensam diferente, que questionam a ineficácia das estruturas, que se insurgem contra a falta de oportunidades, automaticamente vistos como sabotadores. No entanto, o verdadeiro sabotador da unidade nacional não é o jovem que protesta que luta pelo seu aparecimento, mas sim na estrutura que a cada dia transforma a juventude num tapete ideológico de obediência. A festa dos chamados “infiltrados” em Muatala é, na verdade do início de uma tomada de consciência e um passo para desmontar a ideia de que só há uma forma e uma cor de ser jovem moçambicano.
A OJM de Muatala, em vez de ser uma plataforma de diálogo e construção nacional, é hoje palco de confrontos e exclusões, um espelho da falência de um projeto juvenil baseado na partidarização da cidadania, ao invés de unir os jovens, a estrutura serve para separar os “bons camaradas” de um lado, os “rebeldes infiltrados” do outro., uma lógica, longe de fortalecer a coesão nacional, aprofunda um separatismo interno mascarado sob a falacia de unidade nacional. Ora, se a juventude moçambicana é, de facto, o futuro do país, então é urgente permitir que ela se organize de forma livre, plural, independente de partidos, porque o verdadeiro patriotismo não se constrói com camisetas de cores nem com slogans reciclados, mas com a liberdade de pensar, discordar e de propor. Enquanto se continuar a se usar a OJM como instrumento de controlo político, continuar-se-á a semear a divisão num terreno que deveria ser de construção nacional e coletiva.
Promover uma organização juvenil exclusivamente partidária, e tratá-la como a única voz legítima da juventude nacional, o partido cria uma cisão artificial entre “jovens do sistema” e “jovens do resto do país”. Essa separação simbólica, no seio da juventude, acaba dividindo aquilo que deveria uma única juventude nacional moçambicana unida de jovens com os mesmos problemas sociais, as mesmas aspirações, o mesmo desejo de um futuro melhor. Em vez disso, os jovens são organizados, rotulados, disciplinados e, quando necessário, agredidos ou expulsos, tudo em nome de uma juventude unida mas que já não convence o restos dos jovens moçambicanos não filiados na (des) “organização” partidária. Por outro lado, o monopólio da juventude através da OJM não apenas marginaliza aqueles que pensam diferente, mas também alimenta uma lógica de exclusão interna, onde ser jovem crítico equivale a ser inimigo da pátria ou, no mínimo, de ser “infiltrado”.
É fundamental que a juventude moçambicana se reconheça como sujeito político autónomo, capaz de pensar o país para além das lacunas partidárias exige coragem para reconstruir o papel de massas obedientes sem oposição com disposição para construir espaços de debate horizontais, plurais e inclusivos, uma juventude unificada que não significa uniformidade mas, pelo contrário, uma unidade assenta na convivência saudável entre diferenças, na defesa da dignidade comum e na recusa de qualquer tentativa de dominação ideológica, uma juventude organizada em plataformas independentes, movimentos éticos e cívicos, associações comunitárias e iniciativas estudantis que expressem os seus interesses reais na educação de qualidade, com emprego, justiça social e participação política livre e verdadeira.
Não se trata de romper com a cor política, mas de reapropriá-la de volte a ser um instrumento de transformação social, e não de manipulação e controlo de uma juventude moçambicana que reivindica espaços legítimos de escuta, com capacidade de influência real, onde o mérito e a criatividade sejam valorizados e não uma fidelidade partidária cega, uma juventude verdadeiramente nacional e unitária que sabe dialogar com o passado sem se pressionar e nem se aprisionar, uma juventude que honra a luta libertadora nacional mas sem se deixar paralisar por ela, e que assume a responsabilidade de imaginar um futuro novo em que ninguém se exclua ou seja excluído por pensar diferente, esta seria a juventude de que Moçambique talvez almeja que se renascer, mesmo dos escombros pancadarias de Muatala.
2025/12/3
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