EMOSE, sensível com lucros de apólices e insensível com mortes e vidas humanas?

Paulo Vilanculo "

Este artigo analisa criticamente o comportamento da Emose à luz do crescimento financeiro contrastante com a estagnação do processo indemnizatório do trágico acidente envolvendo a transportadora terrestre Nhancale que ceifou dezenas de vidas humanas num aparatoso acidente em Maluana, distrito da Manhiça no ano de 2021. A responsabilidade pela indemnização às famílias das vítimas recaiu sobre a seguradora Emose, conforme sentença judicial que, quatro anos depois, as promessas continuam não cumpridas, levantando sérias suspeitas de silenciamento do processo e uma postura de indiferença por parte daquela seguradora. Paradoxalmente, nos meses subsequentes, a Emose filiou se a bolsa de valores como sinonimo de lucros consideráveis e actualmente mostra interesse de investir em acções na LAM, ignorando completamente a sua dívida moral e legal para com as vítimas. Na noite de sábado, 3 de Julho de 2021, Moçambique ficou em choque com a notícia triste de acidente de viação, em Maluana, Distrito da Manhiça, Província de Maputo. O autocarro que partira da Cidade da Beira, embateu contra dois camiões, perdeu o controlo e resultou na morte de 32 mortes, muitos dos quais eram o garante de famílias, jovens estudantes e trabalhadores em trânsito entre as províncias. Na sequência, a Emose foi indiciada como sendo responsável pela cobertura de seguro da transportadora na época. O Tribunal de Manhiça julgou e condenou a Emose ao pagamento de indemnizações aos familiares das vítimas. Passados quatro anos, a indemnização permanece apenas uma promessa e até aqui nenhuma das famílias recebeu qualquer compensação. Segundo alguns familiares, em comentários recentes à Mídias, a Emose recorreu da sentença, alegando que, à data do acidente, a transportadora Nhancale já não era sua cliente ativa argumentação que é controversa e contraditória já que, dos factos, pressupõe que o Tribunal sentencio, sem equívoco e na base da cobertura ativa do seguro. Para os familiares das vitimas acreditam transparece indícios de que o processo terá sido embrulhado em burocracias de manobras jurídicas, com cheiro de suspeitas de silenciamento. Ora, a Emose é uma seguradora pública, com participação maioritária do Estado, através do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE). “Quando uma seguradora como a Emose recorre para evitar indemnizar famílias enlutadas, ela não está apenas a defender-se juridicamente, está a negar a dor social, a memória das vítimas e a justiça como valor” (Anónimo, 2025). Isso significa que o comportamento da Emose não é apenas responsabilidade de uma entidade publica ou privada, mas envolve diretamente o Estado moçambicano, como acionista, supervisor e garantidor de políticas públicas de justiça e reparação social. O Ministério dos Transportes, o Ministério da Justiça e o próprio IGEPE, todos directa ou indirectamente com ligação direta ao caso, não tornaram pública qualquer atualização sobre o (in) cumprimento da sentença ou as medidas de pressão sobre a Emose. A atuação do Estado neste processo tem sido marcada por um silêncio ensurdecedor demonstra uma insensibilidade. Importa questionar: que tipo de instituições permitem que a morte de dezenas de inocentes seja tratada de forma fria no auge financeiro de uma seguradora? A ausência de pressão pública dos ministérios responsáveis ou do IGEPE pode ser lida como uma tentativa deliberada de proteger a Emose, ainda que à custa da memória e da dignidade das vítimas da tragédia de Maluana. O paradoxo gritante é que a mesma Emose que se compromete assegurar os cidadãos, que ao mesmo tempo deixa famílias inteiras à mercê do luto, alegando não ter fundos ou obrigação para indemnizar os mortos de Maluana, nos últimos anos registou crescimento significativo, alavancado por apólices estatais e empresariais passou a estampar-se na bolsa de valores e agora se posiciona como investidora estratégica com intenções de adquirir ações nas Linhas Aéreas de Moçambique. Enquanto as famílias vivem em luto e abandono, a Emose floresce no mercado financeiro (…). É imperativo que as autoridades retomem este processo e que o Parlamento exija da Emose esclarecimentos públicos.

2025/12/3