Paulo Vilanculo "
O convite ao político da oposição Venâncio Mondlane (VM7) para integrar o Conselho de Estado de Moçambique gera fortes questionamentos públicos e políticos. Diferentemente dos outros membros, seu convite foi amplamente mediatizado, levantando dúvidas sobre se se trata de um gesto legítimo de reconciliação nacional ou uma manobra simbólica para desmobilizar a sua influência como potencial vencedor das controversas eleições de 2024. Como pode o governo convidar um homem a aconselhar o Presidente, se não reconhece sequer a legitimidade da sua posição perante as massas? O que está em jogo nos bastidores nesta “aproximação institucional”? O que realmente significa esse convite? Um pacto de silenciamento? Ou uma armadilha institucional para desmobilizar a crescente onda de apoio popular que começa a escapar o controlo dos centros habituais de poder?
O recente convite ao político Venâncio Mondlane, mais conhecido como VM7, para participar do Conselho de Estado está a provocar um sismo silencioso no campo político moçambicano. Ao contrário dos restantes membros do órgão, cuja presença decorre de regras constitucionais e protocolos formais, a convocatória de VM7, foi mediatizada de forma invulgar, exposta como um troféu de tolerância política por parte do Executivo. O convite a VM7 tomou contornos públicos, circulando abertamente nos media nacionais, como quem anuncia um facto inédito ou mesmo uma tentativa de domesticação simbólica. Num cenário político cada vez mais marcado por simbolismos e sinais ambíguos, o convite endereçado ao candidato Venâncio Mondlane para participar do Conselho do Estado levanta mais interrogações do que certezas.
VM7, é visto por muitos como o verdadeiro vencedor das últimas eleições presidenciais, foi convocado para um banquete institucional que, para os mais atentos, mais parece uma encenação política do que um gesto de um genuíno reconhecimento democrático. No entanto, historicamente, a inclusão de VM7, neste contexto, pode ter mais valor estratégico do que democrático: neutralizar o opositor através da integração simbólica num espaço que não tem poder decisório real. Um clássico gesto de cooptação institucional onde o prestígio da figura convidada é absorvido pelo sistema, ao passo que a sua agenda de mudança é esterilizada. Na verdade, transparece ser que o que está em jogo não é apenas a presença de um homem, mas o futuro do contraditório em Moçambique, a linha ténue entre inclusão política e encenação de pluralismo.
A sociedade civil e a oposição formal questionam se VM7 está a ser genuinamente incluído ou apenas silenciado por via da proximidade aparente com o poder. O gesto do Estado, apesar de aparentemente republicano e democrático, não afasta a suspeita de um teatro montado para legitimar o poder. Será que prevalece alguma crise de legitimidade que o governo tenta contornar com manobras de inclusão simbólica. A presença de VM7 no Conselho é uma tentativa de esfriar tensões internas e acalmar financiadores externos", talvez o convite seja um resultado de intensa pressão externa, sobretudo de parceiros internacionais que exigem sinais mínimos de abertura democrática por parte de Moçambique.
O Conselho de Estado em Moçambique é composto por ex-presidentes, figuras institucionais e membros indicados pelo Presidente da República e pela Assembleia da República, o Conselho de Estado tem como função aconselhar o Chefe de Estado em matérias de interesse nacional. É verdade que a presença do líder da oposição neste círculo restrito de aconselhamento presidencial, por um lado, é interpretada como um passo necessário rumo à pacificação do ambiente político pós-eleitoral; por outro, pode ser vista como a dramatização de uma “última ceia” onde o convidado, simbolicamente posicionado como o Cristo da esperança popular, é atraído a um espaço onde alguns Judas estão instalados, traído não com beijos de paz, mas com punhais escondidos sob a toga do poder.
Na tradição bíblica, a última ceia antecede a traição de Judas e a crucificação de um inocente. Teme-se que a presença de VM7 no Conselho de Estado seja o prelúdio do seu esvaziamento político de uma tentativa de sepultar simbolicamente o movimento de massas que ele representa. O VM7 aceita o convite, recusa ou torna-se cúmplice? Se aceitar, em ruas, praças e redes sociais, o povo debate se o VM7 será a voz da verdade no Conselho ou mais um figurante num órgão esvaziado de impacto real? Se recusar será acusado de intransigente e anti-republicano?
Em redes sociais e círculos intelectuais, o episódio já é lido como a “última ceia” de Cristo numa ceia onde o convidado de honra está rodeado por um sistema que, historicamente, tem traído os seus próprios compromissos democráticos. O banquete está lançado e será de novo o povo moçambicano quem, mais uma vez, observa do lado de fora do banquete, vai se conformar ou julgar, mas esperando que ao menos sobrem migalhas de dignidade política. A história dirá se VM7 sairá dela como símbolo de reconciliação nacional ou como mais um mártir da hipocrisia política moçambicana.
2025/12/3
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