Paulo Vilanculo"
O caso do campo de lazer do Banco de Moçambique no distrito de Matutuíne ilustra a perversão quotidiana dos recursos públicos, um espaço de luxo construído para filhos e funcionários da elite bancária, num dos distritos empobrecidos, onde a maioria da população vive sem água potável, sem energia eléctrica para os camponeses, sem centros de saúde e com acesso mínimo à educação formal, representa um espelho concreto da desumanização do poder. Não existiu qualquer plano complementar de responsabilidade social do banco que beneficie as comunidades vizinhas ao complexo? Lavagem de dinheiro institucionalizada? Minerais ocultos na zona? Que governantes estes, são? Os grandes projectos de investimento público em Moçambique não têm sido guiados por prioridades endógenas ou necessidades populares, mas por interesses políticos, económicos e estratégicos alheios à realidade local. Em Moçambique, caminhamos para um padrão sistémico de desvio de prioridades estatais, onde órgãos públicos como o Banco de Moçambique, que deveriam ser exemplo de responsabilidade e investimento produtivo, há um modelo de governação que constrói para as elites, enquanto o povo continua a viver sem dignidade. optam por projectos elitistas, desconectados das necessidades reais das populações locais. A ironia do escândalo silencioso do Banco de Moçambique em Matutuíne ilustra um modelo de governação onde se constrói para as elites, enquanto o povo é deixado ao abandono. Enquanto o banco central ergue piscinas e campos de ténis para os filhos dos seus funcionários, as mães da localidade de Bela Vista percorrem mais de 10 quilómetros a pé para centros de saúde sem luz, sem partos assistidos, sem dignidade. A decisão do Banco de Moçambique de construir infraestruturas de luxo para lazer, piscinas, campos de ténis, salas climatizadas em Matutuíne, uma das zonas mais pobres do país, é um retrato escandaloso da cultura institucional que permeia certos cargos públicos no país. O banco ergue piscinas e campos de ténis mas, as mães da localidade de Bela Vista andam mais de 10 km para centro de saude sem luz nem partos assistidos, ao invés de ser promotor de desenvolvimento, o banco aparece como agente de exclusão, favorecimento e opacidade. Milhões de meticais foram gastos na construção do campo de lazer em Matutuíne, um investimento com zero impacto para o desenvolvimento rural da província de Maputo. O investimento pesado numa zona ignorando as realidades locais e sacrifica o desenvolvimento endógeno é um exemplo claro de um modelo de governação virado para fora, onde os interesses dos governantes e dos seus parceiros internacionais sobrepõem-se às prioridades do povo. O gesto revela um descolamento completo da realidade do povo. Num país onde mais de metade da população vive abaixo da linha da pobreza, priorizar o bem-estar recreativo da elite técnica do banco, em detrimento de serviços básicos para os locais, é um sinal claro de desumanização e elitismo institucional. Num investimento isolado e de acesso restrito, que se supõe inflacionado, levanta suspeitas legítimas sobre a possibilidade de desvio ou branqueamento de capitais, prática recorrente em países com instituições frágeis e pouca fiscalização pública. A presença do Banco Central, com as suas infraestruturas de lazer milionárias em Matutuíne, sem qualquer investimento nos serviços básicos da comunidade, é uma afronta à ética de serviço público. A escolha estratégica da localização pode esconder interesses geoeconómicos mais profundos. Talvez Matutuíne seja uma região com potencial minerário e turístico, e há suspeitas antigas de presença de areias pesadas, gás natural e outros recursos exploráveis. Instalar infraestruturas do Estado e fechar o território seria, nesse cenário, um acto de incubação de domínio territorial disfarçado. Na velha lógica do apartheid interno, criam-se espaços para “os nossos”, isolados do povo, num modelo de governação que replica a lógica segregacionista colonial: elite no luxo, povo na lama. Ao erguer estruturas de lazer luxuosas em meio à miséria, o governador do banco transmite um "ensinamento" perverso à população que as instituições existem para se servirem, não para servir. Isso alimenta o descrédito do Estado, a normalização da corrupção e o cinismo social. Uma face verdadeira que exprime a falta do compromisso com o povo e o bem comum. São estes os retratos de um país onde o desenvolvimento é propaganda, e os direitos do povo são tratados como sobras. Moçambique precisa de pontes que unam pessoas e instituições que sirvam o povo, não monumentos para a vaidade dos poderosos. O que se esperava de uma liderança económica nacional era visão estratégica, empatia social e compromisso com o desenvolvimento inclusivo. O que se vê é um uso privado de fundos públicos para satisfazer interesses corporativos fechados, um sinal de que o Estado foi capturado por quem devia protegê-lo. Quando o Banco Central, que devia zelar pela estabilidade e confiança pública, age assim, transmite à sociedade uma mensagem corrosiva: que quem está no topo pode tudo, mesmo que isso signifique ignorar as necessidades urgentes de um povo rural que vive sem água, sem energia e sem centros de saúde funcionais. O que se vê é a consagração de uma cultura de privilégio e de um civismo ausente, onde piscinas e campos de ténis são prioritários num território onde as crianças morrem por falta de ambulância.2025/12/3
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