Caldeirão da Beira acolhe “Conselho Nacional do ANAMOLA” (Nova emergência, novo desafio na arena política em Moçambique)

Paulo Vilanculo"

Nos dias 20 a 22 de setembro corrente, a cidade da Beira será palco de um momento que promete reconfigurar a paisagem política moçambicana, a realização do Conselho Nacional do recém-criado partido ANAMOLA, liderado por Venâncio Mondlane. O anúncio do encontro não passa despercebido, as atenções voltam-se para a Beira como lugar simbólico da contestação política é um espaço de tensões sociais e políticas, como laboratório onde se testam ropturas e reinvenções no cenário nacional, “um caldeirão da democracia com marcos estruturantes das transformações politicas e com uma população democrata verdadeiramente mais libertada, com um carácter cívico mais elevado e consolidado, é uma homenagem à Democracia” – Disse Mondlane. A escolha da Beira não é mero acaso, segundo Venâncio Mondlane Bila: “Beira foi escolhida por razões económicas de racionalização de custos em consonância da sua localização geográfica centralizada na vasta extensão do Pais”.  Lembrar que o surgimento do partido ANAMOLA, liderado por Venâncio Mondlane, insere-se num contexto democrático em que a Constituição da República de Moçambique garante a liberdade de criação e associação política. Nesse enquadramento, cada moçambicano tem o direito de se organizar, criar estruturas partidárias e apresentar propostas ao eleitorado, desde que respeite as normas legais vigentes. Num Moçambique, onde o pluralismo partidário tem-se revelado uma ironia amarga, se de um lado há o monopólio político, do outro surgem novos partidos que buscam espaço no debate nacional e ANAMOLA, ainda em fase embrionária, procura projetar-se como partido de roptura, erguendo-se em torno de um discurso de renovação e de justiça social.  É necessário destacar que a legitimidade de um partido não se mede apenas pelo tempo de existência ou pelo número de militantes, mas pelo reconhecimento institucional, pelo respeito às normas e pelo diálogo com a sociedade. O ANAMOLA não difere de outros partidos senão pelo seu caráter recente e pela liderança que o impulsiona. Num olhar histórico do governo actual assumir o governo em 1975, a FRELIMO também realizou congressos: o I Congresso 1962, em Dar es Salaam e o II Congresso de 1968, em Matchedje. Ao acolher o Conselho Nacional do ANAMOLA, a sociedade moçambicana reforça o princípio do pluralismo político, que é a base de uma democracia saudável e resiliente.  Pela forma é o partido em si ANAMOLA ainda em fase de estruturação, carente de consolidação organizativa, mas já suficientemente barulhento para chamar atenção. Alguns olham para ANAMOLA com desdém, uma arquitetura provisória com invólucro frágil que não resistirá ao teste do tempo nem à pressão do poder hegemônico. Afinal, partidos nascem e desaparecem constantemente em Moçambique. Mas do que um partido é o conteúdo, é a ideia de que algo é possível, Mondlane, com o seu discurso disruptivo, encarna mais a mudança e transformação da frustração em ação política em Moçambique. A crítica reside exatamente nessa dialética de que a forma sem conteúdo não passa de ruído, mas o conteúdo sem forma dificilmente se institucionaliza. Mondlane parece consciente desse dilema e o desafio de não deixar que a ANAMOLA seja apenas um símbolo de esperança, mas que se converta em estrutura política real, com propostas claras e capacidade de organização.  A história recente de Moçambique mostra que partidos de ocasião não resistem, mas também revela que ideologias mobilizadoras, quando bem organizadas, podem alterar o rumo da política nacional. Existem organizações políticas que não têm sede, não têm bases, não têm agenda, os Partidos de gaveta, da democracia de ocasião, em que muitos dos tais partidos só saem da gaveta nas vésperas das eleições, que aparecem para “cumprir calendário” e legitimar o processo democrático, aparecem apenas no calendário eleitoral, com uma postura mais de “negócio” do que de projeto político real, mas apenas para Partilha do bolo, não do povo, mas a partilha dos fundos públicos destinados ao escrutínio, uma espécie de “economia política da sobrevivência partidária” os que não lutam pelo eleitorado, lutam pelo envelope transparecem mais em listas da Comissão Nacional de Eleições do que na parte activa do país.  Mondlane, afirma que o Conselho Nacional, tem como foco na preparação estratégica das eleições autárquicas e gerais dos anos 2028 e 2029. Nesta perspectiva, o partido ANAMOLA, ainda em fase de construção, deve ser visto como um instrumento de diversidade e de renovação, não como ameaça, mas como complemento do ecossistema democrático, da mobilização de cidadãos em torno de novos projetos políticos, mesmo quando ainda embrionários, contribui para a educação cívica e para o fortalecimento de uma cultura política ativa, onde o debate de ideias substitui a apatia e o conformismo.  O Conselho Nacional na Beira será o primeiro ensaio para medir se a ANAMOLA consegue alinhar forma e conteúdo. A reunião da Beira será, portanto, um termómetro. Mais do que um encontro de militantes, será um ensaio de visibilidade e de poder. Mais do que um encontro interno, será um campo de prova para demonstrar se Mondlane pode transformar a sua influência em projeto político estruturado ou se ficará refém das suspeitas que pairam sobre a sua legitimidade. Assim, Beira, palco de tantas viradas históricas, pode ser também o início de uma nova narrativa política ou o registo de mais uma inclusão coletiva, se ANAMOLA demonstrar coesão e capacidade de atrair massas, consolidará a forma e começará a desenhar o conteúdo. Entre esperanças e suspeitas, Venâncio Mondlane sabe que precisa provar que o seu projeto vai além do carisma individual e que a ANAMOLA é mais do que um eco de misticismo ou de discursos de ocasião, ou ficará refém de ser apenas mais uma agitação momentânea, fruto das circunstâncias e sem raízes. 

2025/12/3