1° Conselho Coordenador do Ministerio dos Transportes e Logistica Encerra Sem agenda para o Transporte Urbano

Paulo Vilanculo"

Na passada sexta-feira, 12 de Setembro de 2025, Eng. João Jorge Matlombe inaugurou duas locomotivas para o transporte de carga da Empresa Pública Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM-EP). No âmbito da cerimónia, destacou-se estar em processo de compra, depois do escândalo dos tractores, a aquisições de um lote de dez locomotivas, que irão reforçar a capacidade de reboque nos sistemas ferroviários nacionais, enquadradas no âmbito do Plano Estratégico do CFM no contexto do alinhamento com o Plano Quinquenal do Governo, na procura de maior garantia da eficiência, competitividade e integração do setor. Apesar da pompa em torno da inauguração das locomotivas, o evento deixou evidentes algumas lacunas na estratégia nacional de transportes. O reforço ferroviário, ainda que vital para a economia e para o escoamento de mercadorias, não responde diretamente aos desafios do transporte urbano de passageiros, que continua sem soluções concretas. Um outro ponto que deveria merecer a atenção é o próprio alcance do Plano Estratégico do CFM seria a população que enfrenta diariamente longas filas, sobrelotação e ausência de meios de mobilidade acessíveis e regulares. Embora esteja alinhado com o Plano Quinquenal do Governo, falta transparência sobre os ganhos no transporte de cargas da forma como serão traduzidos em benefícios sociais diretos. Por outro lado, a sustentabilidade do plano fica em causa, uma vez que a aposta em locomotivas, devia ser paralela política de integração com outros modais: rodoviário, marítimo e aéreo, o que pode reforçar desequilíbrios e centralizar ganhos apenas em algumas rotas estratégicas. A ênfase na carga pode sugerir que o setor está mais orientado para servir os grandes interesses logísticos e comerciais muitas vezes voltados para exportações do que para melhorar a mobilidade interna e a qualidade de vida dos moçambicanos. Enquanto se investe apenas em locomotivas para o reforço do transporte de cargas, milhares de cidadãos continuam reféns de um sistema urbano precário, marcado por “chapas” sobrelotados, insegurança rodoviária e ausência de alternativas sustentáveis. A ausência de uma agenda clara para este setor revela um descompasso entre os grandes investimentos estruturais e as necessidades quotidianas dos cidadãos. A ausência de medidas concretas para este segmento deixa em aberto o debate sobre a capacidade do Governo de equilibrar os investimentos estratégicos de grande escala com as necessidades imediatas do cidadão comum. Paralelamente à inauguração das locomotivas, teve lugar o primeiro Conselho Coordenador do Ministério dos Transportes e Logística, realizado sob o lema “Fazer do Transporte e Logística um motor de desenvolvimento sustentável e inclusivo”. No entanto, quando os jornalistas tentaram desviar o assunto para os pequenos pormenores dos escândalos no ministério, como é o caso de contratação uma empresa que não existe para gestão de portagens e também contratado sobre e o badalado assunto dos tractores, o homem designado como a voz do evento, perdeu a voz. Dizem nos bastidores jornalistas destacados a cobertura do conselho coordenador que, numa demonstração de trabalho em equipa, um outro assessor aproximou-se e deu um “discreto” toque nas costas do porta-voz, num sinal de sugestão para fuga e o porta-voz, sem dizer mais uma palavra, saiu do palco deixando para trás o grupo de jornalistas e de certeza, talvez seja, para o Ministério dos Transportes, foi a melhor forma de sacudir problemas, do que agendar e enfrentá-los sem ter nada para dizer ao povo. Relatos institucionais fundamentam que o encontro serviu de espaço para alinhar estratégias, debater desafios e reforçar a importância do setor como pilar estruturante do crescimento económico do país. Embora o destaque do Conselho Coordenador tenha recaído sobre os avanços no transporte ferroviário de cargas, observadores apontam que o documento ministerial não trouxe ainda uma agenda clara para o transporte urbano, uma das maiores preocupações das populações nas principais cidades moçambicanas. Se o Conselho Coordenador, foi realizado sob o lema “Fazer do Transporte e Logística um motor de desenvolvimento sustentável e inclusivo” levanta mais perguntas do que respostas. Se a meta é a inclusão, por que razão os debates não contemplaram o transporte urbano, um dos setores mais excludentes atualmente? O discurso oficial, ancorado no lema “Fazer do Transporte e Logística um motor de desenvolvimento sustentável e inclusivo”, entra em contradição com a realidade vivida nas ruas das grandes cidades. Falar de inclusão, sem apresentar medidas concretas para garantir um transporte urbano condigno em Moçambique, soa a vazio retórico. Inclusão não se mede apenas pela capacidade de transportar carvão, minérios ou mercadorias de exportação; mede-se também pela dignidade oferecida ao cidadão comum, que todos os dias precisa de chegar à escola, ao hospital ou ao trabalho. No encerramento, o Ministro do pelouro dos transportes abriu ainda mais interrogações, o governante deixou no ar uma dúvida desconfortável ao equiparar os investimentos feitos para materialização do Conselho Coordenador do Ministro dos Transportes e Logística como enigma igual ao polémico gasto com a compra da aeronave da LAM, será que tratou-se de um sinal de desconhecimento real sobre os custos de cada operação ou de um ato de exibicionismo político para justificar o esbanjamento em tempos de crise? Enquanto se pede paciência à população que enfrenta diariamente o colapso do transporte urbano, e enquanto faltam estratégias claras para uma mobilidade inclusiva, a comparação feita pelo ministro levanta suspeitas de uma gestão mais voltada para discursos de impacto do que para uma planificação transparente e responsável. Entre a promessa de sustentabilidade e a prática de investimentos controversos, o setor de transportes continua a navegar numa encruzilhada entre modernização e desperdício.

2025/12/3