Será o próprio Homem o maior inimigo do Ambiente? Um olhar a situação Ambiental na cidade de Maputo

Nunes Daniel Manhonha"

A sustentabilidade tornou-se uma palavra recorrente. Aparece em programas escolares, nos discursos de líderes políticos e em relatórios internacionais. É um conceito que desperta consenso e parece apontar para o futuro que todos desejamos: um futuro mais limpo, equilibrado e justo. Contudo, quando a teoria se confronta com a prática, a realidade das ruas de Maputo mostra um contraste gritante. A cidade revela um cenário marcado por lixo espalhado, rios transformados em esgotos, plásticos a entupirem valas de drenagem e fumaça tóxica de queimas improvisadas. O retrato é duro, mas honesto: o maior inimigo do ambiente em Maputo não é a escassez de leis nem a ausência de projectos ambientais, é o próprio cidadão.

Essa constatação pode incomodar, mas é necessária. Muitos cidadãos continuam a agir como se o lixo fosse responsabilidade exclusiva do município, dos serviços de limpeza ou das ONGs. É comum assistir a alguém deitar garrafas, sacos e restos de comida na rua, sem o menor constrangimento, mesmo estando um contentor a poucos metros de distância. A desculpa é sempre a mesma: “o município não faz o seu trabalho”. Mas até que ponto é razoável esperar que o município vigie e eduque cada indivíduo? O problema é menos institucional e mais comportamental.

O impacto da irresponsabilidade não se limita apenas ao lixo físico. A poluição sonora tornou-se outro problema grave e pouco discutido. Igrejas com megafones no máximo, bares que funcionam madrugada adentro e transportes públicos com música ensurdecedora transformaram Maputo numa cidade onde o descanso é um privilégio escasso. A sustentabilidade, muitas vezes reduzida a ideias de reciclagem ou arborização, é, na verdade, também uma questão de respeito pelo espaço colectivo, de equilíbrio social e de consciência comunitária.

As consequências dessa negligência diária são profundas. O lixo que hoje entope as valas é o mesmo que, amanhã, provoca enchentes devastadoras durante a época chuvosa. A água que desperdiçamos hoje é a mesma que fará falta nas torneiras das futuras gerações. O fumo das queimas domésticas, aparentemente inofensivo, é um veneno silencioso que aumenta casos de doenças respiratórias e sobrecarrega o sistema de saúde. Fingir que não vemos essas ligações é viver numa ilusão perigosa.

O futuro de Maputo depende menos de leis no papel e mais de mudanças nas atitudes diárias. De nada serve esperar apenas por políticas governamentais ou projectos internacionais enquanto cada cidadão continuar a agir como se o espaço público fosse uma extensão privada do seu quintal. A cidade é o reflexo de quem nela habita. Se o que vemos hoje é descuido e poluição, é porque essas atitudes se enraizaram no nosso modo de viver.

Está na hora de assumirmos a responsabilidade. A sustentabilidade não é um slogan para conferências nem uma moda para discursos políticos; é uma prática que começa em cada gesto quotidiano. O inimigo está diante do espelho, e somente quando encararmos essa verdade poderemos transformar Maputo numa cidade digna do futuro que tanto proclamamos.

2025/12/3