Mudjadju"
Nesta reflexão o conceito “terrorismo” é mencionado para mostrar o uso propositado da violência ou ameaça para gerar terror ou medo (o efeito psicológico) nas pessoas, em pequeno grupo imediato para atingir um grupo ainda maior de pessoas a posterior, é usada a violência psicológica e física de forma propositada para colocar em causa o bem estar da população; o viver juntos em harmonia; o desenvolvimento da democracia; o crescimento económico; o desenvolvimento (sustentável); o sistema politico no geral; etc.
O terrorismo que aqui farei referência é aquele que está ligado a violência, que pode ser vista em várias perspectivas, que está contra o sistema politico no geral. Um fenómeno caracterizado também pela sua componente global, isto é, não resume se aos acontecimentos dentro das fronteiras nacionais, funciona em regimes bem organizados na esfera internacional e tendo como objectivo várias nacionalidades. Acrescenta se ainda a definição do terrorismo, que com a implementação desse, se tem como objectivo a instalação do medo sem precedentes no público alvo, de modo a fazer com que os governantes possam ceder a alguma exigência feita pelos terroristas. Para Raymond Aron (1990: 28) “ uma acção de violência é rotulada de “terrorista” quando os seus efeitos psicológicos são desproporcionais face aos resultados puramente físicos”. Luengo (2001), dizia já a vários anos que os terroristas querem muita gente atenta, mas não muita gente morta, dando a entender que os terroristas tem como principal objectivo a publicidade e não exactamente as mortes por eles causadas, destacando assim o objectivo principal do terrorismo.
Qual será o principal objectivo dos terroristas para com os mídias? Numa primeira fase, é espalhar o medo (efeito psicológico) a população no geral; em seguida, confundir e desorganizar os responsáveis pela defesa e segurança; por fim, mobilizar e angariar mais seguidores e potenciais seguidores, bem como mais fundos monetários para os seus objectivos terroristas.
Para elucidar a “cumplicidade” dos actos terroristas aos mídias, podemos dar um simples exemplo da Al-Qaeda. Poderíamos falar de outros grupos como: Boko Haram; Estado Islâmico; Talibã; Ansar Al Sunna, etc, alguns que são grupos políticos ou extremistas (não irei usar o termo fundamentalista, porque todos os grupos devem ser, para melhor fundamentar o seu conhecimento por aquilo que defendem) que para defenderem suas causas e alcançar seus objectivos, recorrem a actos violentos e ataques ao património (público ou privado), como forma de intimidação. Al-Qaeda no campo mediático produziu actos terroristas espetaculares na visão de alguns especialistas, pois recorreu a métodos e meios considerados não normais no mundo terrorista, conseguindo expor de forma inédita na comunicação social os seus feitos. Ademais, fez com que todo o mundo através dos mídias pudesse ver mensagens que foram gravadas antes por Bin Laden e Al-Zawahiri, e essas mensagens foram divulgadas em momentos cruciais. Usou também a internet para manter a comunicação entre vários membros da organização, para planear novos ataques bem como o recrutamento de novos membros. Para além da Al-Qaeda, pode se falar também do Estado Islâmico que recorre aos mesmos métodos para a difusão dos seus ideais assim como a revindicação de alguns ataques por eles perpetrados, como parte da sua estratégia para semear o medo diante da população de modo a obrigar os governos a ceder o que pretendem. Verificou se em Moçambique (Cabo Delgado), quando o Ansar Al Sunna decidiu filiar se ao Estado Islâmico, em 2020 começaram a circular vídeos na mídia assim como nas redes sociais de indivíduos a serem decapitados, isso fazia parte da estratégia de terror. Bin Laden afirmara que a retórica e a propaganda por satélite podem estar em pé de igualdade com os bombistas e os misseis cruzeiro. Por essa razão, essa organização desde o inicio investiu tanto na publicidade e nos mídias por conhecer as potencialidades dessas componentes, naquilo que poderiam criar nas pessoas.
Nessa onda de ideia, tem se verificado um dilema dos canais de comunicação social, que tem a ver em como gerir a informação de cariz terrorista, porque para os agentes da comunicação social no exercicio das suas funções que é expandir a informação ao maior número de pessoas, a comunicação social pode em algum momento servir de meio (canal) para difundir a mensagem terrorista, ou por outras, os mídias ao exercer a sua função informativa sem se aperceber podem estar a servir aos interesses terroristas. Mas por outro lado, os mídias não podem deixar de exercer aquela que é a sua função principal numa sociedade democrática, visto que, numa sociedade democrática temos a mídia como o quarto poder ( liberdade de imprensa, que vem depois do tripé da democracia), que desempenha um papel muito importante no funcionamento desse tipo de sistema politico, pois sem a principal função dos mídias pode se colocar em causa a democracia efectiva. Diante deste dilema muito importante desenvolve se uma questão pertinente que merece todo o cuidado e tratamento delicado: como manter a acção normal dos mídias (informar o povo), sem fazer com que os terroristas alcancem aquele que é o seu objectivo?
Em algum momento tem surgido opiniões de se colocar certas limitações no exercicio da função mediática no que concerne aos acontecimentos ligados ao terrorismo. Surge uma primeira questão, essas limitações devem ser colocadas pelo governo, ou deve ser uma tarefa da própria imprensa por livre vontade? As duas opções têm seus pontos fracos. A primeira opção coloca o medo em censurar a informação. A acção subsequente coloca certas dúvidas sobre a função e credibilidade da comunicação social. Contudo, uma auto-regulação da comunicação social deve passar ou não pela inexistência de informação sobre o terrorismo? A questão também divide opiniões: de um lado, existem os que defendem que colocar restrições ou não difundir a informação vale a pena, porque limita a publicidade do fenómeno terrorista e permite aos serviços que lutam contra o terrorismo ou as forças de defesa e segurança de cada país a fazer o seu trabalho de forma eficaz. Do outro lado, existem os que acreditam que a inexistência de informação sobre o terrorismo é um caminho para colocar em causa a credibilidade da comunicação social e dos valores que norteiam uma sociedade que vive democraticamente.
Numa sociedade democrática no meu ponto de vista não se pode ignorar um assunto ligado ao terrorismo, tanto da parte dos mídias assim como da população em geral, é um assunto que deve ser debatido por todos. Visito que, não é por não ser dado como noticia que o fenómeno deixará de existir. Porque não passar uma noticia que diz respeito a um ataque terrorista numa determinada região e com um certo número (baixo) de mortos e feridos, pode provocar um segundo ataque mais grave (com muitos mortos e feridos) para chamar atenção da comunicação social, então noticiando pode não haver espaço para o segundo acontecimento, porque em algum momento os terroristas terão alcançado um dos seus objectivos diante dos mídias. Os que defendem a ideia de não se fazer reportagem sobre o fenómeno terrorismo, defendem ainda que, não se devem ser feitas entrevistas a lideres terroristas, porque fazendo isso estaria a contribuir na publicidade terrorista. Há quem não concorda com essa ideia, pois, tudo depende da especificidade da voz que é dada aos tais intervenientes. Por aquilo que é a norma do jornalismo devem ser ouvido várias partes, não ouvir uma apenas, principalmente quando se trata de pontos de vistas e objectivos completamente diferentes (terroristas e governo ou forças de defesa e segurança), de modo que não dê primazia a uma das partes. Os mídias devem sim divulgar as mensagens dos terroristas, após a censura da informação e equilibrar a informação junto de outras fontes. Transmitir uma mensagem dos terrorista enquadrado num certo contexto (após um ataque por exemplo), é diferente de transmitir a mensagem na integra. E também há necessidade de lembrar que a missão da mídia não é dar razão a esta ou aquela parte do “conflito”, a mídia deve fazer uma cobertura não viciada dos factos e fornecer ao público a informação necessária, cabe ao público por si só fazer o julgamento.
2025/12/3
Copyright Jornal Preto e Branco Todos Direitos Resevados . 2025
Website Feito Por Déleo Cambula