A Bandeira e o Futuro: O Debate que Moçambique Precisa Ter

Martinho Cumbane"

Venâncio Mondlane, líder do partido ANAMOLA e ex-candidato presidencial, colocou na mesa um debate que merece a atenção de todos os moçambicanos: a proposta de uma nova bandeira nacional. Mais do que uma simples discussão sobre símbolos, esta iniciativa abre uma reflexão profunda sobre quem somos e para onde queremos ir como nação.

É compreensível que muitos defendam a manutenção da bandeira actual. Ela representa décadas de história, simboliza a luta pela independência e carrega o peso de sacrifícios que não podemos nem devemos esquecer. No entanto, precisamos perguntar: uma bandeira que nasceu num contexto de guerra representa adequadamente as aspirações de paz e desenvolvimento das novas gerações?

Os que se opõem à mudança argumentam, com razão, que Moçambique enfrenta desafios mais urgentes, pobreza, corrupção, crises climáticas. Questionam se este é o momento certo para discutir símbolos. Porém, a história mostra que os símbolos nacionais têm um poder transformador. A África do Sul mudou sua bandeira após o apartheid não por capricho, mas como parte fundamental de um processo de reconciliação nacional. Outros países fizeram o mesmo em momentos de viragem histórica.

O que talvez seja mais preocupante neste debate não é a proposta em si, mas a forma como ela revela divisões políticas profundas. A polarização entre defensores e opositores da mudança reflecte um fosso mais amplo na sociedade moçambicana. Quando o partido no poder rejeita a ideia e a oposição a defende com vigor, estamos perante mais do que uma simples discordância sobre cores e símbolos, estamos perante visões diferentes de país.

Venâncio Mondlane avança com esta proposta sabendo dos seus significados políticos. Alguns verão nisto uma provocação, outros uma legítima expressão democrática. A verdade é que, numa democracia saudável, todos os debates devem ser possíveis, desde que conduzidos com respeito e vista no interesse nacional.

Não se trata de apagar a história, mas de a completar. Não se pretende desrespeitar os heróis da independência, mas sim honrar o seu legado construindo um Moçambique que inclua todas as vozes, todas as regiões, todas as experiências.

O caminho ideal talvez não seja a imposição de uma visão sobre a outra, mas sim um diálogo nacional amplo e inclusivo. Um processo onde historiadores, artistas, líderes comunitários e cidadãos comuns possam contribuir para a definição dos símbolos que melhor representam o Moçambique do século XXI.

Enquanto isso, lembremo-nos que o mais importante não está no pano que tremula no mastro, mas nas pessoas que vivem sob ele. Se este debate nos levar a reflectir sobre que tipo de país queremos ser, já terá valido a pena. Que prevaleça a sabedoria de colocar Moçambique acima de interesses partidários, e o futuro acima do passado.

 

2025/12/3