Luís Munguambe Júnior"
Quando ouvi falar do projecto PHOENIX pela primeira vez, confesso que fiquei curioso. Dizem que é uma resposta moderna aos problemas de habitação, uma solução urbana, um passo à frente no desenvolvimento. Fui acompanhando as notícias, os discursos, as promessas. Falam em apartamentos de várias tipologias, em oportunidades para os jovens, tudo em nome do progresso. Porem eu olho com os olhos de quem vive cá em baixo, e não vejo inovação nenhuma. Vejo o mesmo teatro de sempre, com um nome novo e um cenário mais colorido.
O projecto PHOENIX, ao contrário do que se apregoa, não nasce para incluir o povo, nasce para dar a impressão de que algo está a ser feito. Prevê-se a construção de cerca de seis mil apartamentos de várias tipologias, mas ninguém me sabe dizer quem são os beneficiários. Dizem que é para os jovens, mas os jovens que conheço continuarão a partilhar quarto com irmãos, a pagar rendas absurdas por casas em ruínas, ou a voltar para casa dos pais por falta de opções.
O que salta à vista é que o projecto servirá primeiro para alimentar os bolsos dos mesmos de sempre. Empresas ligadas ao poder, contratos pouco transparentes, adjudicações directas. E o povo, esse, continuará à espera, tal como sempre espera. Espera pelas chaves, pelas promessas, pelo fim da exclusão que nunca chegará.
O mais curioso — ou talvez o mais revoltante — é que este tipo de promessa aparece em véspera de eleições, como se fosse um presente para amansar o povo. E quando os votos já estão contados, a poeira assenta, as máquinas param, e tudo volta à estaca zero. Já vi esse filme vezes demais para continuar a fingir surpresa.
Entretanto, continuo a ver famílias a viver em barracas, bairros inteiros sem saneamento, ruas sem iluminação. Continuo a ver jovens licenciados a vender recargas, a fazer chapas, a tentar a sorte na África do Sul ou em Lisboa. Mas o governo investe num projecto como o PHOENIX como se fosse a salvação nacional.
Não sou contra habitação. Sou contra mentira. Contra desperdício. Contra esse ciclo onde a pobreza serve de palco para os projectos milionários que não resolvem nada. Contra essa ideia de que o povo só serve para a fotografia.
PHOENIX não é renascimento. É continuidade. É mais um prédio de vidro a esconder as rachaduras do sistema. E enquanto os de cima brindam ao "sucesso", os de baixo continuam sem casa, sem terra, sem voz.
E é por isso que escrevo, que falo, que não me calo. Porque já não basta reclamar entre amigos. Alguém tem de dizer, com todas as letras, que o povo merece mais do que fachadas bonitas. Merece dignidade. E dignidade não se constrói com cimento e discurso. Constrói-se com verdade.
2025/12/3
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