
Luis Munguambe Junior"
Nasci a achar que o mundo era uma rua comprida onde as pessoas caminhavam com pressa e um certo pudor de sonhar alto. Cresci a perceber que, afinal, a pressa era apenas medo disfarçado, e o pudor era uma forma de sobrevivência. Hoje, carrego esta terra como quem leva uma mochila cheia de pedras: algumas são heranças, outras são erros alheios que caíram sobre mim sem aviso. Acordo todos os dias com a sensação de que vivo num sítio onde o futuro se atrasa por hábito. Há quem lhe chame destino, eu chamo-lhe cansaço institucional. Aqui, a rotina é feita de desenrascanço e fé, mas a fé já vem racha¬da, como telhado antigo que insiste em deixar entrar a chuva. Ainda assim, seguimos. Porque parar é um luxo que nunca nos foi concedido. No meio disto, há jovens que tentam ser gente. Vão a entrevistas onde lhes pedem experiência que nunca lhes deram, sorriem para chefias que só os veem como números, e convivem com promessas políticas tão vazias que até o vento tem vergonha de as carregar. Mas continuam — não por esperança, mas porque desistir não paga contas. Eu próprio, aos vinte e poucos anos, já sinto a coluna a curvar-se com o peso das expectativas que não escolhi. Dizem-me para ser forte, para aceitar, para ter paciência. Mas a paciência não é uma virtude quando serve apenas para adiar o que devia ser inevitável: dignidade. E dignidade, por aqui, é tratada como um pedido extravagante, quase um capricho. Há dias em que caminho pela cidade e reparo nos rostos cansados, na pressa derrotada, na juventude engavetada. Percebo que não sou o único a carregar este país nas costas — somos muitos, empurrados por uma força invisível que nos exige maturidade precoce. Tornaram-nos adultos antes de tempo, e depois chamam-nos irresponsáveis por não sorrirmos o suficiente. Escrevo esta crónica para quem já se cansou de finuras políticas, discursos de vitrina e ilusões recicladas. Para quem sabe que a crise não está apenas nos números — está nos ombros. Nos meus, nos teus, nos de todos os que ainda tentam acreditar que, apesar do atraso e das rachaduras, ainda pode nascer alguma coisa daqui. E pode. Mas só quando deixarmos de aceitar que o peso é normal. Porque não é. O país cresceu-nos nas costas. Agora é a nossa vez de o obrigar a crescer para a frente.2025/12/3
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