Luis Munguambe Junior"
Quando olho para o horizonte desta terra, sinto uma mistura de admiração e desassossego. Sob os meus pés, o solo guarda minerais preciosos, recursos inesgotáveis e uma fertilidade que deveria ser sinónimo de fartura e bem-estar. Mas, ao baixar o olhar para as ruas, a contradição golpeia-me: o povo, este mesmo povo que diariamente labuta e pisa esta terra abençoada, vive na pobreza. Como se o chão que nos acolhe fosse mais valioso do que nós, que aqui nascemos e construímos as nossas vidas. Como é possível tamanha abundância conviver com tamanha privação? A realidade é tecida por dois mundos que coexistem, mas que raramente se encontram. É um País que dizem estar em via de desenvolvimento, um exemplo de potencial a ser explorado. Eu cresci a ouvir falar do potencial do nosso País. Falaram-me das riquezas que jazem no nosso subsolo – carvão, gás, rubis – como se fossem tesouros que, um dia, nos tirariam da pobreza. No entanto, assisto a esses mesmos recursos a escorrerem pelos dedos da nossa nação, controlados por poucos, enquanto muitos lutam pelo básico: comida, água, dignidade. As favelas crescem, as desigualdades aumentam. Nas ruas, o rosto do povo é retratado da contradição: sorrisos forjados pelo hábito, rostos curtidos pelo sol e pelo esforço diário. As mãos calejadas que constroem, plantam, carregam e transformam. Mãos que dão vida ao País, mas que, paradoxalmente, pouco recebem dele. A abundância que jaz debaixo da terra nunca chega às mesas onde a fome, implacável, se senta como um convidado constante. O potencial transborda no subsolo, enquanto as carências são escancaradas na superfície. Quando será que as riquezas que brotam do solo irão, finalmente, brotar para o povo?
Quando é que, de facto, vamos parar de ser pobres no meio de tanta abundância? Não há resposta fácil, não há uma solução mágica. Mas o que sei é que o ciclo de pobreza enquanto a terra é rica precisa acabar. O povo tem o direito de ver essa riqueza traduzida em oportunidades reais. Tem o direito de ser parte daquilo que é seu por direito. Se o solo é rico, que isso seja um reflexo de um povo próspero, e não da pobreza de espírito que nos mantém na margem daquilo que é justo. Como é que um País pode olhar para o futuro quando o presente é manchado por tanto sangue? Não escrevo estas palavras com amargura, mas com a dor de quem quer acreditar que podemos ser mais, que podemos ser melhores. Mas a esperança, sozinha, não constrói estradas, não põe comida nos pratos, não cura as feridas abertas pelo tempo e pela negligência. No fim das contas, a riqueza do solo só é verdadeira se ela for compartilhada. E enquanto não conseguirmos transformar esse solo fértil em verdadeira prosperidade para todos, continuaremos a ser prisioneiros de uma terra rica, mas de um povo pobre. E isso, meus caros, é uma injustiça que não podemos mais tolerar.
E esse sonho, sei bem, não será realizado por políticos em gabinetes luxuosos nem por investidores estrangeiros que nos veem como um negócio. Esse sonho será realizado por nós, pelo povo, quando percebermos que, unidos, somos mais fortes do que os dois mundos que nos dividem. Até lá, continuarei a escrever, a falar, a questionar. Porque o Moçambique que quero ver é aquele onde a verdade, por mais dura que seja, é o ponto de partida para a mudança. Um Moçambique onde a luz chega a todos os cantos, e onde os dois mundos, finalmente, se tornam um só.
2025/12/3
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