
Luis Munguambe Junior"
O povo moçambicano já não vive sem contar cada metical. Cada nota e cada cêntimo são contabilizados, e, muitas vezes, sacrificados em nome da sobrevivência. Mas agora, como se isso não bastasse, o Estado decidiu inovar: lançou a nova “dieta nacional”. A dieta do IVA nas carteiras móveis. M-Pesa, e-Mola, Mkesh… os mesmos instrumentos que durante anos ajudaram o cidadão a sobreviver e a manter a família, agora transformam-se no novo inimigo fiscal. E é uma dieta democrática: castiga todos, sem distinção. O vendedor informal que movimenta 200 ou 300 meticais por dia, a mãe que envia cinquenta meticais para o filho comprar pão, o mototaxista que paga combustível para trabalhar, o jovem empreendedor que tenta erguer um pequeno negócio, e até a avó no campo, que recebe ajuda da família… todos foram convidados a participar nesta “maratona financeira”, sem inscrição nem aviso prévio. O povo já fazia dieta de tudo: de comida, de água, de luz, de oportunidades. Agora, exige-se que faça dieta fiscal também. Ironia das ironias: enquanto o cidadão comum emagrece, os grandes esquemas de corrupção continuam intactos, gordos e sorridentes, protegidos por silêncio e conveniências que ninguém ousa desafiar. As carteiras móveis são bancos do bairro, a esperança em meticais. Aplicar IVA sobre estas transações é penalizar quem já carrega peso demais. É sufocar o jovem que tenta erguer um negócio; o mototaxista; o pequeno comerciante. E tudo isto enquanto os grandes culpados continuam impunes, rindo-se do “lucro fácil” do cidadão comum. E enquanto o povo se esforça para sobreviver, os discursos oficiais parecem saídos de um livro de ficção: “Queremos inclusão financeira. Queremos que todos tenham acesso ao sistema bancário. Queremos crescimento económico para todos.” Crescimento económico… para todos? Parece que “todos” não inclui quem acorda às cinco da manhã, espera um chapa lotado e paga combustível caro para transportar passageiros ou mercadorias. E não se pense que estas pequenas taxas são simbólicas. Não. Cada metical retirado da carteira móvel é uma gota do suor do trabalhador. Mas há que rir do absurdo, porque chorar não resolve. Cada transação que consegues fazer sem ser esmagado pelo imposto é uma pequena vitória. E o humor é o que salva. Por exemplo, imagine-se o vendedor de fruta: movimenta 300 meticais no dia, compra laranjas, bananas, quiabos e, no fim, o Estado ainda vem cobrar a “taxa da sobrevivência”. Ele pensa: “Se é para fazer dieta, prefiro que seja de comida e não de meticais!” O mototaxista suspira, paga combustível, pega passageiros e ainda paga IVA: “Bom, pelo menos o riso não é tributável.” O jovem empreendedor observa a carteira vazia e conclui que abrir um negócio em Moçambique é como treinar para uma maratona… mas com sapatos furados. O IVA nas carteiras móveis não é apenas injusto; é cruel. O cidadão aprende que sobreviver se tornou tributável. Aprende que, neste país, até respirar pode ser caro, se contarmos o esforço, o tempo e o suor. Aprende que viver exige malabarismo constante, e que rir do absurdo é a única forma de protesto segura. As carteiras móveis são mais do que dinheiro; são esperança, são ligação. E ao tentar taxá-las, o Estado toca naquilo que é mais sagrado para milhões de moçambicanos: a capacidade de ajudar a família e de desenvolver o país, de sobreviver com dignidade, de sonhar com um futuro menos penoso. Sobreviver já é milagre suficiente. A nova dieta do Estado é, de facto, cruel, mas também é uma lição: ensina ao cidadão que a única forma de sobreviver é manter o humor, mesmo quando tudo conspira contra. IVA: A Nova Dieta do Povo. Uma ironia que não é nada engraçada para quem já mal consegue sobreviver, mas que revela, de forma dolorosa e divertida, a injustiça de um sistema que continua a escolher o caminho mais fácil: cobrar quem não tem.2025/12/3
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