É aceitável ver generais gordos

Luis Munguambe Junior"

É aceitável ver generais barrigudo? Não é. E não devia ser. Porque um general barrigudo é o retrato de um exército que perdeu o fôlego, físico e moral. Antigamente, ser militar era sinónimo de resistência, disciplina e sacrifício. O corpo era o primeiro uniforme. Na era de Samora Machel, um general não precisava de barriga para mostrar autoridade. Bastava-lhe a postura, o carácter e o exemplo. Um comandante que não conseguisse correr com os soldados, marchar com eles, comer o mesmo pão seco e dormir no mesmo chão… não merecia o título. Hoje, o que temos visto são generais de escritório. De farda engomada, barriga de ministro e discurso de manual. Falam em defesa da pátria, mas já não consegue defender nem a própria cintura. Um exército que se pesa em privilégios, não em méritos. É o símbolo da decadência: a força virou forma, e a forma virou barriga. Mas o problema vai além do físico. O corpo revela o que a instituição já perdeu: disciplina, rigor e sentido de missão. Um general gordo é o espelho de um sistema obeso em corrupção e preguiça. Onde antes havia marcha e treino, agora há protocolos, jantares e comissões. Onde antes havia mérito, agora há favoritismo e nomeações políticas. É por isso que já não temos líderes militares — temos gestores de poder. E gestores gordos, porque o poder, aqui, alimenta-se bem. Alimenta-se de bajulação, de esquemas e de um povo que aprendeu a respeitar o uniforme, mesmo quando ele já perdeu a honra. Durante o tempo de Samora, o soldado aprendia primeiro a servir, depois a comandar. Hoje, aprende-se primeiro a comandar… e nunca se chega a servir. O físico é apenas um sintoma. O verdadeiro problema é o peso da mediocridade que o país carrega — e que se reflete, ironicamente, nas barrigas dos que deveriam dar o exemplo. Um general gordo não corre, não inspira e não lidera. É um símbolo inflado de um Estado inchado, onde quem devia proteger o povo vive a alimentar-se dele. E o povo, coitado, contínua magra — de corpo e de esperança. Então, volto à pergunta: é aceitável ver generais gordos? Não. Porque quem não é capaz de controlar o próprio corpo, dificilmente é capaz de defender um País.

2025/12/3