Luís Júnior"
Comandante, não sei se onde estás ainda acreditas que isto por cá continua a ser Moçambique - aquele pelo qual jurámos morrer se preciso fosse. Mas vou ser honesto contigo, porque já ninguém o é por estas bandas: os teus generais estão a vender o País, transformaram País numa feira de vaidades e negociatas. Lembras-te daquele discurso na Beira, quando gritaste que daqui a três anos verias camaradas a levantar prédios de 15 andares? Não erraste. Chegaram, e com eles vieram os carros blindados, os terrenos em frente ao mar, as viagens para Dubai, as contas milionárias em nome de sobrinhos. Tudo à custa de um povo que mal tem onde dormir. Chamam-se "Excelências", Comandante. E usam o teu nome para baptizar avenidas, estátuas e fundações - enquanto crianças dormem com fome, enquanto as enfermeiras lavam panos com sabão azul num hospital sem água, enquanto os professores esperam três meses para ver um salário miserável que nem paga o transporte. Esses são os generais do novo tempo: Não defendem o povo - assassinam-no com burocracia e negligência. O povo, Comandante... esse já não acredita em revolução. Porque a revolução que nos prometeram foi transformada num negócio. Privatizaram tudo: a água, a luz, o ar que respiramos, até os sonhos. E o mais grave? Privatizaram a pátria. A bandeira hoje cobre negociatas e esconde contratos assinados à pressa com multinacionais que saqueiam os nossos recursos em troca de comissões para meia dúzia de parasitas. Moçambique virou uma empresa familiar. E nós, o povo, somos o marionetes administrativo. Lembras-te do povo? Aquele por quem gritaste “A luta continua!”? Pois é, continua sim… mas agora é uma luta para comprar pão, para não ser raptado na esquina, para não morrer à porta do hospital porque não há soro. Enquanto isso, os teus generais erguem muros, andam com guarda-costas e vivem em bairros onde nem o barulho da fome entra. Eles dizem que continuam fiéis ao teu legado. Mas o teu legado, Comandante, não era isto. Não era uma pátria onde a juventude é criminalizada por ser pobre. Onde o talento é descartável se não tiver cartão vermelho. Onde um cidadão com ideias é logo tratado como inimigo. O teu legado era sobre dignidade. Hoje, dignidade é palavra proibida - ofende os donos do poder. O mais triste, Comandante, é que ninguém mais se indigna. O povo tornou-se sobrevivente. Levanta cedo para apanhar chapa, chega tarde sem esperança. Já não protesta, já não exige, já nem acredita. Porque viu que quem fala alto desaparece. Porque aprendeu que aqui a justiça é cega - mas só quando é para proteger os de cima. Talvez estejas cansado de ouvir estas queixas. Mas é que lá no teu tempo ainda havia vergonha. Agora, é só disfarce, é só fachada. A paz virou negócio. A democracia, vitrine para o estrangeiro ver. O País, um leilão à porta fechada — e só entra quem traz dólares e uma bandeira vermelha no bolso. Por isso, se puderes, Comandante… grita outra vez. Porque há muita gente cá em baixo que ainda acredita, mas está cercada por canalhas de paletó que usam a tua imagem para esconder os crimes deles. Eles dizem que são teus herdeiros. Mas se és mesmo pai desta pátria, chegou a hora de os deserdar.2025/12/3
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