Delso Khossa"
A magnitude dos fenómenos climáticos coloca desafios na compreensão, sistematização e análise, mas estudar por retalho pode simplificar o processo e aprofundamento das implicações e consequências a vida humana. O retalho é uma amostra no universo das mudanças climáticas. Neste caso, desmitificar a desnutrição como efeito de mudanças climáticas amplia a sinistralidade de mudança de comportamento dos cidadãos. A compreensão e a prevenção do sinistro dependem da forma como a comunicação é planificada, direccionada, executada, inclusiva, participativa e cognitiva e afectiva. A “mensagem é o meio”, a comunicação é mudança de comportamento para qualidade da vida humana. Uma comunicação eficaz, é aquela que opta por resultados impactantes, produz efeitos positivos nos hábitos e costumes das comunidades. Não se pode negligenciar o poder de comunicação nas mudanças de socialização e melhoria de políticas públicas. Segundo Rodrigues et al (2016), as atitudes são uma organização duradoura de crenças e cognições adoptadas por uma carga afectiva, ou pertença com único posicionamento pro ou contra e que alimentam a linha subjectiva do pensamento no indivíduo, por características afectivas, cognitivas e comportamentais. Para moldar as atitudes dos cidadãos relativamente à insegurança alimentar e mudanças climáticas, é necessária uma estratégia de comunicação de risco que envolve todos actores com interesses nesta área. O exercício democrático é crucial para a concepção e a implementação da estratégica da comunicação de risco. A insegurança alimentar resulta dos efeitos das mudanças climáticas, agravando a desnutrição. A análise em causa foca-se na insegurança alimentar (desnutrição), mudanças climáticas e comunicação de risco. A ocorrência de fenómenos provocados pela ação violenta do homem tende a agravar a situação de insegurança alimentar das comunidades sujeitas às mudanças climáticas. O aumento da precipitação na terra e oceanos fertiliza a manifestação cíclica de fome, agravando a falta de alimentos para além de algumas crenças que geram a desnutrição infantil. A desnutrição carateriza-se por ser aguda ou crónica. O que é desnutrição? A desnutrição é o desequilíbrio entre os suprimentos nutritivos e energia, e exigência demanda corporal, influenciando inadequadamente o sistema metabólico. A desnutrição não afecta apenas crianças, mas também todas as idades (Douglas, 2002). Na primeira infância, a desnutrição corresponde a falha de crescimento, gerando défice como baixa estatura adulta, índice de aproveitamento escolar e económica. Relativamente aos tipos, a desnutrição classifica-se da seguinte forma: (1) desnutrição aguda - é a actual desnutrição na criança e tem como sinais perda rápida de peso, fraco crescimento, falta de apetite, menos activa, edemas bilaterais (cabelos enfraquecidos, finos e amarelado, apatia e irritação, alto risco de morte e rosto com sinais de inchaço) e múltiplas infecções; e (2) desnutrição crónica - é caracterizada pela ausência de micronutrientes como vitaminas A, ácido fólico, iodo, proteínas ou ferro, falta de água potável que pode provocar diarreias constantes impedindo assimilação de nutrientes. Os sintomas da desnutrição crónica manifestam-se a longo prazo, como, por exemplo, atraso no crescimento nos 1000 dias críticos da vida infantil e as consequências manifestam-se a nível físico e psicológico, e sistema imunológico mais débil, o que significa que ela é propensa a diferentes tipos de doenças. As raparigas são mais afectadas pelas consequências físicas, o que no futuro pode trazer complicações graves no parto e em alguns casos a morte da mãe ou do bebé, como também evolução uterina anormal e menor fluxo sanguíneo que afecta a placenta e desenvolvimento do feto. Em 2023, cerca de 733 milhões de pessoas enfrentavam insegurança alimentar e desnutrição. Isso representa 11% da população mundial e uma em cada cinco pessoas na África passam fome. E cerca de 582 milhões de pessoas estarão cronicamente subnutridas em 2030, metade delas na África, alerta a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2024). A insegurança alimentar e a desnutrição atingem o oeste e centro da África, e segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), cerca de 49,5 milhões de pessoas passaram fome no ano 2024. Cerca de 773 mil moçambicanos enfrentaram níveis agudos de insegurança alimentar de outubro de 2024 a março de 2025; razões incluem a violência na província de Cabo Delgado e maior probabilidade de tempestades tropicais, ciclones e inundações com a chegada do fenómeno La Niña. Ainda, segundo Rádio Moçambique, entre Outubro de 2024 e Março de 2025, cerca de 1,8 milhões de cidadãos enfrentaram a situação de insegurança alimentar no país. Mundialmente, cerca de 181 milhões de crianças com menos de 5 anos - ou seja, 1 em cada 4 - sofrem de pobreza alimentar infantil grave, o que as torna até 50 por cento mais propensas a sofrer de desnutrição aguda, uma forma de desnutrição potencialmente fatal (Relatório do UNICEF, 2024). Na epidemiologia infantil da África, cerca de 63 milhões de crianças sofrem de atraso de crescimento e outras 13 milhões enfrentam outras formas de malnutrição. Em Moçambique, os Dados do Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) apontam que 36,7% das crianças sofrem de desnutrição crónica e 3,8% enfrentam desnutrição aguda. O estudo Banco Mundial (2020:1), intitulado Agricultura Nutricionalmente Inteligente em Moçambique, descreve a situação da desnutrição numa amostra de três províncias (Sofala, Manica e Nampula). As características sócio-económicas do país demonstram que, mais de 70% das famílias pobres das zonas rurais têm como fonte a agricultura, sector que emprega 80% da força do trabalho; 54% das famílias não conseguem responder às necessidades básicas de micronutrientes (ferro, vitamina A e zinco) para o organismo humano, o que significa que há uma correlação entre rendimento e a prevalência de desnutrição por província. A transversalidade do problema levou actores mundiais a aprovarem os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (2016-2030), e no seu objectivo 2 “Erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável”, tenta dar-se uma orientação para as políticas nacionais. Em resposta, no contexto nacional, foi aprovada a Estratégia de Alimentação Saudável, Actividade Física e Saúde II para os anos 2019-2023, com objectivo de promover o consumo de aleitamento materno para redução de desnutrição infantil. Foi também aprovado o Plano Estratégico da Educação 2020-2029, que tem como um dos objectivos a alimentação escolar e leccionação dos conteúdos de nutrição. Os outros sectores ministeriais abraçam a causa pela aprovação e implementação de políticas públicas. No ano passado foi aprovada a Política de Segurança Alimentar e Nutricional e Estratégia da Implementação (2024-2030), um instrumento crucial para melhorar a segurança alimentar como um direito básico na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A ocorrência cíclica de mudanças climáticas coloca desafios na eficácia, eficiência e efectivação de políticas públicas. A comunicação de risco é uma ferramenta incontornável não só para influenciar a mudança de comportamento, mas também para racionalização dos recursos escassos. O segundo desafio no Estado de direito é a definição seletiva de políticas públicas prioritárias que podem impactar positivamente noutros sectores. Por exemplo, a transferência de tecnologias/técnicas sustentáveis para a prática de agricultura pode minimizar primeiro a degradação, queimadas descontroladas ou desmatamento de floresta, contribuindo significativamente para a segurança alimentar e nutrição, assim como o rendimento familiar. O terceiro desafio é a produção de dados fiáveis sobre o número de pessoas afectadas para poder ser a base para planificação e implementação de políticas públicas verdes. O quarto é a necessidade de reforçar a comunicação nas unidades sanitárias, escolas e encontros comunitários sobre as causas e consequências da desnutrição na vida humana com uma linguagem simples, identitária e imparcial, e partilhar informações às rádios comunitárias e aos líderes comunitários.2025/12/3
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