O Canto do Xirico: Mudanças Climáticas e (Bio)diversidade

Delso Khossa"

O canto é um termo polissémico que significa produção de ritmo, um sítio para indicar a localização do objecto e conjugação do verbo cantar no modo indicativo do presente, na primeira pessoa do singular. Em outras palavras, segundo Dicionário Português on-line, (i) canto é a sucessão de tempos fortes e fracos que se apresentam alternada e regularmente cadência e compasso: ritmo poético; (ii) canto é ângulo reentrante ou saliente formado pelo encontro de duas superfícies, um sítio retirado, pouco frequentado ou recanto; (iii) canto morfologicamente significa a desinência número pessoal indicativa da primeira pessoa do singular. O pássaro xirico é uma ave amarela, cientificamente conhecido por espécie de Serinus mozambicus. É tipicamente moçambicano e produz um ritmo maravilhoso, canário-cantor-moçambicano, um ritmo alto estridente, uma voz forte que tranquiliza as misturas da biodiversidade. O termo diversidade é uma palavra rica pela qualidade, variedade e multiplicidade do ecossistema, por isso, o xirico é uma espécie da (bio)diversidade. O mundo celebra duas datas cruciais sobre a diversidade. O xirico demonstra que é relevante a conservação e protecção da diversidade cultural e ambiental. No 21 de Maio celebra-se Dia Mundial de Diversidade Cultural para Diálogo e Desenvolvimento e 22 de Maio dia da biodiversidade. São 48 horas de celebração e reflexão sobre a (bio) diversidade no contexto de mudanças climáticas, conflito entre homem e animal, guerras, desmatamento, queimadas, seca e migração/extinção das espécies marinhas e florestais. A biodiversidade resume-se no equilíbrio do ecossistema através de serviços do ecossistema, por exemplo polinização das plantas, purificação de água e equilíbrio do clima. Portanto, a natureza da biodiversidade fala, embala, comunica, aconchega, socializa e projecta o futuro do homem. A comunicação é o caminho da paz e a prosperidade. Ao comunicar com a biodiversidade evoca-se a cultura de justiça, igualdade, protecção e aconchego, enquanto a prosperidade com biodiversidade amplia as fontes de sustentabilidade da riqueza. Com a frequência de ocorrência de mudanças climáticas, há uma necessidade de reflectir sobre os modos e tipicidade de comunicação para assegurar o equilíbrio do ecossistema. A relevância da conservação e conservação da biodiversidade é referenciada nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável no objectivo 13 intitulado “acção climática: tomar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos”. Segundo o Programa de Ambiente das Nações Unidas (2024), revela que os recursos da diversidade biológica são cruciais para o homem, por exemplo os peixes asseguram 20% da proteína animal para 3 mil milhões, enquanto as plantas fornecem 80% da dieta humana. As plantas funcionam como medicinas tradicionais para os cuidados de saúde no universo de 80% das pessoas das zonas rurais ao nível mundial. O Relatório do Planeta Vivo (2024), revela que entre 1970-2020, a população animal reduziu drasticamente em 73%, o que corresponde a uma cifra aproximadamente 35 mil tendências incluindo 5.495 espécies de anfíbios, aves, peixes, mamíferos e répteis, enquanto a população dos rios sofreu declínios graves com perda de 85%, seguidas 69% das espécies terrestres e 56% espécies marinhas. Em África é demasiadamente rica em recursos da biodiversidade. Por isso, em 2010 foi aprovado Strategic Plan for Biodiversity 2011-2020 para aceleração da protecção do ecossistema, como biomas desde os mangais aos desertos, das florestas mediterrânicas às florestas tropicais, savanas e montanhas e dos recursos de rios ao mar. Apesar da existência destas tipicidades de biogeografia, ainda há desafios por percorrer, porque as taxas de crescimento populacional (urbanização e inovação agrícola) criam imensos obstáculos para responder à proteção do ecossistema, colocando em causa a sustentabilidade económica e ambiental. As tendências de conservação demonstram que a biodiversidade em África está em risco, onde certas espécies estão em risco de extinção. A extinção das espécies está relacionada com a ação humana egoísta, como a desflorestação e degradação florestal. No contexto moçambicano, apesar da existência de sectores estratégicos que correspondem às acções climáticas, infelizmente a situação caminha para o colapso da economia sustentável. A localização geográfica do país aumenta a vulnerabilidade de ocorrência de mudanças climáticas, afectando a população do ecossistema. Ao nível de África, o país encontra-se na posição 31 em termos de ranking, enquanto ao nível de Global biodiversity index situa-se no número 144.30. Segundo o website do Ministério da Terra e Ambiente, Moçambique tem 14 ecorregiões, com uma biodiversidade estimada em mais de 6.000 espécies florísticas e de 4.000 espécies faunísticas, das quais 452 espécies estão em extinção e 129 ecossistemas ameaçados, 42 áreas de conservação, 19% de área de água doce coberta por área de conservação, 30 áreas-chave de conservação para a biodiversidade; e 10% do território nacional está coberto de área de biodiversidade. Conforme o Global Forest Watch do World Resource Institute (2024), entre 2018 e 2023, o país perdeu 541 milhões de tCO2e de florestas naturais. Por sua vez, o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNACC) prevê aumentar a resiliência às mudanças climáticas e execução de actividades de adaptação como agricultura, recursos hídricos e ecossistemas costeiros. A Estratégia e Plano de Acção Nacional de Biodiversidade (NBSAP), na sua meta prevê reabilitar 15% dos ecossistemas degradados até 2030, restaurar a sua biodiversidade e garantir a sua sustentabilidade, no intuito de mitigar os efeitos das mudanças climáticas e combater a desertificação. O volume anual de exploração de madeira excede abates estabelecidos pelos instrumentos legais, que variam entre 515 e 640.500m³, tornando práticas insustentáveis (MITADER, 2018). Afinal, quais são as causas frequentes da mudança de biodiversidade? As causas mais frequentes são (i) perda do habitat que resulta da modificação do ambiente, como práticas agrícolas inimigas do ambiente, exploração de madeira, transporte, mineração e produção de energia; (ii) superexploração que resulta de caças insustentáveis como capturas de algumas espécies; (iii) mudanças climáticas como alta precipitação irregular; (iv) poluição afecta directamente a sobrevivência do ecossistema; (v) doença que uma espécie tem pode espalhar-se facilmente, afectando outras e a própria acção humana, que é mais perigosa ao ambiente e (vi) migração de espécies pode gerar conflitos com as espécies nativas. Os dados patentes nos diversos relatórios demonstram claramente a tendência da perda de certas espécies, o que fica evidente que a questão não é apenas de conservação ambiental, todavia gera implicações directas na saúde humana, segurança alimentar e PIB. A redução da biodiversidade compromete mais as vulnerabilidades das comunidades pobres face às mudanças climáticas e redução dos serviços ecossistémicos. Na saúde humana, através de ondas de calor aumentam doenças correlacionais como insolação e desidratação e propagação de doenças como malária e doenças respiratórias e cardiovasculares. A questão da dieta alimentar depende das condições climáticas, o que significa que a precipitação irregular pode afectar a produção agrícola como secas, inundações, condicionando o aumento de preços de alimentos. Também a pesca, através de acidificação dos oceanos e aumento da temperatura e resíduos sólidos, pode sofrer impactos negativos nos recursos marinhos e nos peixes. A sociedade está em risco, as acções humanas estão a agravar a biodiversidade. Quais possíveis soluções? Os efeitos das mudanças climáticas não têm cor, raça, religião, etnia e fronteira. Há uma necessidade de redesenhar políticas públicas descentralizadas e comprometidas com a justiça ambiental e social, pois se continuamos a apontar dedos ou delegamos responsabilidades podemos ser extintos. A inovação tecnológica como energias renováveis pode assegurar a renovação do ecossistema. Portanto, a comunicação precisa ser uma área determinante para influenciar a mudança de comportamento e atitudes, ou seja, a risk communication é uma estratégia incontornável para monitorar, avaliar e diminuir as assimetrias de informações, mas também para ampliar o conhecimento de risco e novas formas de resiliência comunitária e empresarial. Portanto, a falta ou a ineficiência de estratégia de comunicação de risco pode colocar em causa todos os esforços feitos pelas instituições estatais e do terceiro sector.

2025/12/3