LAM – Levamos-te Até Onde o Motor Aguentar

Alípio Freeman"

Quem diria que um dia, cinquenta anos depois da Independência, teríamos que agradecer ao chapa por ser mais seguro que os luxuosos aviões da companhia de bandeira? 

Sim, o mesmo chapa que às vezes anda sem travões, com o vidro preso com arame, música alta e desafinada.

 Mesmo assim, conseguem ser mais economicamente sustentáveis e seguros que voar na LAM.

A LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, ou como os passageiros chamam carinhosamente, *Levamos-te Até Onde o Motor Aguentar* 

Está a atravessar uma fase de... como direi... inspiração pós-apocalíptica. Há tempos, era a joia dos céus africanos. A frota desfilava entre Maputo, Lisboa, Joanesburgo, Beira, Tete, Nampula... até Paris piscava olho. Hoje? Se for a tempo e não tiver avaria, o avião chega a Inhambane com alguma sorte, fé e um bom seguro de vida.

A companhia, que antes do 25 de Junho era orgulho da aviação lusófona, hoje não tem mais de três aviões (e um que está na reforma eterna desde 2017).

 E mesmo esses três entram em greve técnica por conta própria: voam quando querem, pousam quando podem e se avariam... bem, às vezes consertam-se no ar! Literalmente. Um piloto, diz-se, já viaja com uma caixa de ferramentas no cockpit. Segurança máxima estilo Far West: confia em Deus e aperta o cinto.

O mais poético disto tudo é que o Presidente da República já reconheceu, com aquele ar de quem já desistiu da vida, que a gestão da LAM é um faroeste. Senhor Presidente, com todo respeito: nós sabíamos desde o filme "Cowboys do Ar: O Regresso das Peças Soltas".

A novela de horror da LAM tem tudo: corrupção, desvio de fundos, sucatas a fingirem ser aviões, e claro, uso abusivo pelo partido que governa. Diz-se que certos quadros políticos nem usam passaporte – a LAM é o Uber aéreo deles. "Chefe, prepare o jacto, vou a Pemba só cortar cabelo e volto!" E quem paga? O povo, claro. Esse mesmo que faz testamento antes de entrar no Boeing da discórdia.

Aliás, houve um tempo que as viagens eram internacionais. Hoje, o máximo que se faz é um Maputo-Beira com escala em... orações. Dizem que se ouvir um barulho estranho durante o voo, não é o motor, é o cobrador do partido a contar votos para as próximas eleições.

Mas há esperança! Ou melhor, há fé. Porque esperança já foi levada para manutenção em Joanesburgo e ainda não voltou. Uma fé cega de que, um dia, a companhia volte a voar como nos velhos tempos. Que os aviões tenham peças novas, que os mecânicos tenham formação além do YouTube e que os gestores entendam que avião não é galinha para remendar com cola quente.

Por ora, fica o apelo: se for viajar com a LAM, acredite que voltarás a beber um copo com seus amigos e abraçar teus folhos   E se voar... boa sorte!

Nos resta sonhar com uma nova era onde voar em Moçambique não seja um acto de fé, mas de logística e segurança.

 Até lá!

2025/12/3