Alípio Freeman"
Há feitos que, mesmo não sendo históricos, carregam um peso simbólico que merece ser registado. A estreia de Edson Mucuane na Primeira Liga portuguesa, no último fim de semana, é um desses momentos. Aos 21 anos, o jovem internacional moçambicano entrou como titular pelo AVS, alinhando durante 81 minutos na deslocação ao terreno do Arouca, num jogo que terminou com derrota para a sua equipa.
O que torna esta estreia especial não é apenas o facto de um moçambicano pisar o relvado da principal divisão do futebol português, algo que, por si só, já inspira, mas o percurso e a herança que Edson carrega. Filho de Paito Mucuane, antigo extremo moçambicano que brilhou no Sporting de Portugal saído do pacato bairro da Machava Bedene no município da Matola, tendo dado seus primeiros passos no clube de desportos da Maxaquene, que ainda com idade de júnior despertou o interesse do Sporting Clube de Portugal, onde partilharia o balneário com vedetas como Nani, Quaresma e Cristiano Ronaldo. Entretanto, o jovem Edson segue, de certa forma, o guião traçado pelo pai. Tal como ele, começou como ala esquerdo, posição onde se sente mais confortável, mas mostrou já a versatilidade de actuar noutras funções. No jogo de estreia, por exemplo, foi adaptado a lateral direito, exibindo uma postura sólida e promissora.
Apesar de ter nascido em Portugal e de possuir dupla nacionalidade, Edson nunca escondeu o vínculo ao país dos seu pai e infelizmente para sua mãe, que é São Tomense, o Edson é Mamba. Edson, representou as selecções de base de Moçambique desde os Sub-17, passando pelo torneio da COSAFA, até aos Sub-23. Esta ligação à bandeira moçambicana alimenta a esperança de que a sua evolução no futebol europeu se traduza em mais qualidade e experiência para a nossa selecção principal.
O futebol é feito de histórias, e esta é uma que carrega mais do que talento. É sobre continuidade, identidade e compromisso. Edson não é apenas um jovem que conseguiu chegar ao palco principal do futebol português; é também a ponte entre uma geração que viu o pai brilhar nos relvados internacionais e uma nova que sonha ver Moçambique marcar presença nos grandes palcos do futebol mundial.
Talento não falta. Edson ainda tem um longo caminho a percorrer, mas a sua estreia deixa claro que o futuro pode ser luminoso. E se o ditado diz que “filho de peixe sabe nadar”, no caso dos Mucuane, parece que o mar é mesmo o futebol. Mais do que nadar, eles sabem remar contra a maré, em busca de novos portos para o nome de Moçambique no desporto rei.
2025/12/3
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