Alípio Freeman"
As equipas moçambicanas iniciaram a pré-época há cerca de três meses, após o término do campeonato em Novembro do ano passado. No entanto, o Moçambola ainda não teve o seu pontapé inicial e a previsão aponta para este mês de Maio. Esta longa espera levanta questões importantes sobre a organização do futebol nacional e os desafios que as equipas enfrentam para se manterem competitivas. De forma geral, o intervalo entre o término de um campeonato e o início do seguinte deve ser de, no máximo, dois meses. Esse período permite descanso aos atletas, avaliações técnicas e preparação física adequada. Quando a pré-época ultrapassa esse intervalo, os riscos são evidentes: desgaste físico e psicológico dos jogadores, aumento do risco de lesões, perda de ritmo competitivo e dificuldades para manter a motivação do plantel. Em condições normais, uma pré-época deve durar entre seis a oito semanas, tempo suficiente para preparar a equipa sem comprometer a integridade dos atletas. Contudo, a realidade do futebol moçambicano é marcada por dificuldades financeiras. A maior parte dos clubes enfrenta sérios problemas de patrocínio, que impactam directamente a capacidade de pagar salários dignos aos jogadores e manter uma estrutura funcional. A ausência de fundos leva a situações em que as equipas se vêem obrigadas a estender contratos e realizar pagamentos para além do previsto, apenas para manter os atletas em actividade. Essa instabilidade financeira mina o rendimento dos jogadores e a competitividade das equipas, afastando o interesse do público e dos investidores. A questão que se impõe é: como podemos ter uma liga respeitada se não conseguimos organizar um campeonato apetecível? A Federação Moçambicana de Futebol (FMF), responsável pela gestão da principal competição do país, parece distante desta realidade. Enquanto o presidente da federação é enaltecido em cargos de gestão do futebol africano, a sua própria casa está desorganizada. Afinal, quais são os critérios para esta representação internacional, quando a gestão interna é marcada por atrasos, falta de transparência e falhas estruturais evidentes? Um exemplo gritante da má gestão está no Estádio Nacional do Zimpeto, frequentemente interdito pela CAF por questões básicas como relvado e saneamento. A imponente infraestrutura, que deveria ser um símbolo de modernidade, não passa de um abrigo para ratos, mendigos e imundície. Como se pode falar de futebol profissional nestas condições? No entanto, essa situação caótica pode ser vista como uma oportunidade. Atrasos sucessivos no início do Moçambola poderiam servir para harmonizar o calendário do futebol nacional com as principais ligas internacionais. Moçambique conta com atletas a actuar em ligas estrangeiras, e a adequação dos calendários facilitaria a integração e a transição desses jogadores nas competições nacionais. Além disso, permitiria que os clubes moçambicanos tivessem maior margem para planeamento e organização, alinhando-se aos principais mercados e abrindo espaço para parcerias internacionais. É urgente que alguém dê o guizo ao gato. Os clubes, os jogadores e os adeptos merecem mais respeito e uma estrutura que valorize o desporto nacional. A FMF precisa, urgentemente, rever as suas prioridades e garantir que o futebol em Moçambique não seja apenas uma ilusão de grandeza, mas uma realidade organizada e digna de aplausos. Se aproveitada estrategicamente, esta crise de calendário pode transformar-se num impulso para a reestruturação do futebol moçambicano e a sua verdadeira profissionalização.2025/12/3
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