Alípio Freeman"
Num tempo em que a língua portuguesa se espalha por continentes e comunidades diversas, não há como escapar à urgência de uma pergunta fundamental: o que estamos a fazer com esse património comum? A resposta, infelizmente, ainda carrega mais silêncio do que ação. Portugal, enquanto antigo poder colonial, carrega consigo um papel histórico que vai muito além do passado. Trata-se de uma responsabilidade presente e contínua, especialmente no que diz respeito à promoção da unidade, do entendimento e do desenvolvimento mútuo entre os países lusófonos. Esta responsabilidade não é apenas política; é também cultural, ética e profundamente humana. É aqui que instituições como a Agência Lusa de Informação deveriam emergir como pontes activas entre os povos que falam português. Mas, na prática, a Lusa muitas vezes falha em ser essa âncora. A sua actuação, demasiado institucional, pouco crítica, e muitas vezes desactualizada , para alem de privar seu publico de informações pontuais, não responde aos desafios do tempo presente. Em vez de informar com isenção e promover os direitos fundamentais, a agência corre o risco de se transformar numa caixa de ressonância dos poderes estabelecidos, recusando-se a abrir espaço a debates sérios e estruturantes sobre os caminhos das sociedades lusófonas. É profundamente inquietante que, em plena era digital, agências de países não lusófonos tenham maior proactividade e profundidade na cobertura da realidade dos PALOP mesmo quando eventos políticos, sócias e ambientais vão multiplicando os desafios das pessoas nestas comunidades. A agência Lusa deveria romper com as fronteiras, tal como sugere seu nome e não se trata apenas de ter delegações em todos países lusófonos, e trata- se de uma atitude mais proactiva em nome de uma comunidade global, pois há pessoas, com dores e esperanças nas ex-colónias portuguesas. O problema não é apenas da Lusa. Ele reflecte a inércia maior da própria CPLP, que se perdeu entre cerimónias diplomáticas e jogadas de bastidores. A organização que deveria ser símbolo de cooperação cultural e humana tornou-se, para muitos, uma entidade invisível e desprovida de impacto social real. A CPLP precisa urgentemente de se redimensionar. Precisa de sair das salas de conferência e entrar nas ruas, nas escolas, nos centros de debate e nos meios de comunicação. A CPLP é feita de pessoas e culturas vivas, que clamam, mesmo que em silêncio, por um espaço de escuta, por políticas inclusivas, por uma comunicação que una e inspire. O tempo das promessas vagas já passou. O que se exige agora é acção, coragem e visão histórica. Portugal tem a oportunidade de liderar esse processo, não por nostalgia imperial, mas por compromisso com a dignidade partilhada. Mas para isso, precisa de reformar as suas instituições, revitalizar a sua imprensa e, sobretudo, olhar para os povos da lusofonia como parceiros plenos e não como apêndices de um passado mal resolvido. A comunidade lusófona ainda pode ser uma força no mundo. Mas, para isso, tem primeiro de aprender a comunicar consigo mesma com verdade, com respeito e com futuro.2025/12/3
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