Alberto Mudjadjo"
O provérbio dentro da moral nos traz uma visão muito profunda da importância da convivência pacífica entre os Homens, o conceito do bem, o significado do ser Homem e trás consigo expressões do fundo que condenam todo acto de invalidez ou tentativa de não cumprimento das normas para a boa convivência entre as diferentes classes sociais. Esta comunicação tem sobre tudo um objectivo reflexivo, isto é, de dar uma pura reflexão sobre o valor moral que os provérbios nos trazem no nosso dia-à-dia. A antropologia cultural dedica-se primordialmente ao desenvolvimento das sociedades humanas no mundo. Estuda os comportamentos dos grupos humanos, as origens da religião, os costumes e convenções sociais, o desenvolvimento técnico e os relacionamentos familiares. Um campo muito importante da antropologia cultural é a linguística, que estuda a história e a estrutura da linguagem. A linguística é especialmente valorizada porque os antropólogos se apoiam nela para observar os sistemas de comunicação e apreender a visão do mundo das pessoas. Através desta ciência também é possível colectar histórias orais do grupo estudado. História oral é constituída na sociedade a partir da poesia, das canções, dos mitos, provérbios e lendas populares. O provérbio é um texto breve, simples, codificado, poético, que enuncia axiomaticamente a natureza ou a experiência e que é anonimizado ou anónimo, e relativamente antigo, tem uma circulação mais ou menos colectiva e fundamentalmente oral, pode desempenhar, como qualquer texto literário, múltiplas funções, embora as principais sejam didácticas e moralizadoras. O texto proverbial, de norte à sul de Moçambique, nas várias comunidades linguísticas, reflecte embora de modo quase sempre enviesado como é típico de qualquer texto literário uma sensibilidade extremamente fina face ao órfão. O acervo proverbial moçambicano é rico nos conselhos de nível intimidativo/prescritivo, que dá aos filhos não órfãos, talvez porque a sua situação é, deveras, privilegiada em relação aos órfãos, para os quais estão reservados provérbios descrevendo a situação lastimável dos mesmos e formulando desejos de respeito, de reafirmação da protecção divina dos antepassados. A antropologia Cultural e o uso do provérbio para a realização da moral constata que o Homem de hoje tem dificuldades para compreender essa concepção proverbial, porque ao pensar em moral, costuma imaginar alguma coisa ligada a regras e proibições, imposições mais ou menos incómodas e arbitrárias, procedentes dos pais, professores, ministros religiosos, enfim, limitações à liberdade feita pela sociedade. Totalmente outra é a concepção de São Tomás. Ele nem sequer concebe a moral como algo imposto, nem como "assunto reservado a religiosos" e, menos ainda, como algo constrangedor ou repressivo da liberdade humana! O que, sim, ele diz, é que a moral é o ser do homem, doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser. Para São Tomás, a moral é entendida como um "processo de auto-realização" do Homem, um processo levado a cabo livre e responsavelmente e que incide sobre o nível mais fundamental, o do ser-Homem: Quando porém se trata da moral, a acção humana é vista como afitando, não um aspecto particular, mas a totalidade do ser do Homem; ela diz respeito ao que se é enquanto Homem. Note-se que estamos caracterizando a moral, falando de realização e no provérbio Moçambicano (no singular), e não de realizações (plural) nos diversos aspectos sectoriais da vida: finanças, saúde, etc. Pois a moral diz respeito precisamente à realização; realização não deste ou daquele aspecto parcial, mas a que afecta a totalidade, o que se é enquanto Homem. Eis alguns exemplos de provérbios e sua função moral: - Okhala onokhalihaniwa – Viver é ajudarmo-nos uns aos outros a viver. Para o ser humano, o existir e o coexistir são a mesma coisa. A vida tem muitos dissabores e contratempos, sejam eles as doenças, os percalços ou as fatalidades, que só iremos superar com a amizade, carinho ou amparo dos nossos familiares e amigos. O homem precisa da ajuda da mulher e vice-versa. Os filhos precisam dos pais, e estes confiam no auxílio dos filhos. Quem se isola do convívio dos outros por orgulho, egoísmo, avareza ou qualquer outro motivo vil, está condenado à tristeza e à morte. Um dos membros da família nunca fica doente sozinho, nunca ninguém fica só na tarefa de educar os filhos. Alguns traços do Ubuntu, a filosofia africana. - Opanke mùpa, onroromela olupa – Quem fábrica flechas confia na pontaria. Aquele que vai para o alto mar acredita que sabe pescar e conhece bem os segredos do mar. Este provérbio transmite a ideia de que as coisas, para serem levadas a bom termo, carecem não só de inteligência, mas também de vontade. Provérbios similares em português seriam: Quem não cansa, alcança e Não se pescam trutas a bragas enxutas. Alguns dos provérbios do sul de Moçambique vem mostrar uma outra face, isto é, só do carácter intimidativo que tem como objectivos manter a ordem nas sociedades recônditas em que a lei do governo não se faz sentir, e nestas sociedades onde nascem os provérbios do carácter mitológico mas com o fundamento antropológico e acima de tudo, moral. - Ku fa ka huku, matandza ma bolile. Morreu a galinha, apodreceram os ovos. (Crianças sem mãe, tudo são órfãos. provérbio Changana).2025/12/3
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