QUEM É QUE NÃO DEU POR ISSO?

Afonso Almeida Brandão"

Com a guerra que se está a desenrolar na Ucrânia e que não se prevê quando irá acabar — Putin, ainda impregnado com a mentalidade belicosa e perigosa de um KGB, não perde a esperança de que os Estados Unidos e a União Europeia, com o arrastar do conflito, acabarão por abandonar os ucranianos à sua sorte e Putin não quer, de maneira nenhuma, perder esta guerra apesar de não estar, assim, tão fácil — e com o conflito armado entre Israel e o Hamas que traz perturbação ao Médio Oriente, perfila-se o redesenhar de uma nova geopolítica com a probabilidade de virem a forjar-se novas alianças a nível Mundial.

Na verdade, a China, a Coreia do Norte (do “Ping-Pong”) e a Federação Russa são os países capazes de ameaçar o Mundo Livre e as Democracias Liberais. A China comunista-capitalista, liderada pelo autocrata tranquilo Xi Jinping e pelos sequazes que o seguem com fidelidade canina já está, desde há anos, inserida no mercado global tirando daí partido para estabelecer os negócios que lhe convém, ao mesmo tempo que não descura o investimento nas forças armadas pretendendo criar um exército ainda mais poderoso do que o exército dos Estados Unidos, com a finalidade de poder dissuadir qualquer veleidade de outros países (incluindo os Estados Unidos) que ousem fazer-lhe frente. A ilha de Taiwan já está na sua mira e a sua invasão efectuar-se-á quando a China achar mais oportuno. Como se verifica, desde há uns anos, milhares e milhares de chineses têm-se dispersado pelo mundo inteiro abrindo as suas lojas de pequeno, médio e grandes negócios, rivalizando com os comércios locais dos diversos países onde se espalham. Ou ninguém ainda deu por isso?!...

Por sua vez, a Coreia do Norte, onde impera um regime tenebroso liderado pelo seu “Querido Líder” e atrasado mental Kim Jong-un — senhor absoluto de tudo e de todos não dando hipótese à divergência, que, a existir, é contemplada com fuzilamento ou prisão perpétua — a Coreia do Norte, diziamos, vive obcecada com a indústria militar e, a cada passo, realiza experiências com novas armas nucleares provocando a excitação orgiástica, o júbilo incontido de Kim Jong-un e dos seus velhos generais que não dispensam sorrisos e aplausos miudinhos, visivelmente encantados como crianças com os ensaios das novas armas. O êxtase do povo norte-coreano é atingido com os grandiosos desfiles militares onde é exibido toda a espécie de arsenal bélico de topo.

Relativamente a Vladimir Putin, o ditador (e outro atrasado mental!) da Federação Russa, com a invasão levada a cabo na Ucrânia pretende destruir este excelente País anexando-o e, se possível, prosseguir anexando ainda outros países que saíram da órbita de Moscovo após a Queda do Muro de Berlim, em 9 de Novembro de 1989. Igualmente lhe convém desestabilizar a União Europeia tentando abrir fissuras e desentendimento quanto ao apoio incondicional dos seus membros à Ucrânia. Por sua vez, o Presidente Zelensky da Ucrânia tem de contar com o fornecimento de material de guerra dos Estados Unidos (agora inexistentes desde que Donald Trup assumiou os destinos dos EUA) e dos países mais desenvolvidos da União Europeia, sob pena, se fornecimento afrouxar, de a Ucrânia não sobreviver como Nação Independente se não aguentar a ofensiva russa. Se se vier a consumar a vitória da Ucrânia — o que se afigura difícil atendendo a vários factores — o próximo passo será a sua integração na União Europeia, reforçando ainda mais esta união política e económica — hipótese que também não vemos provável...

Como análise concludente, tanto a China como a Federação Russa o que pretendem é enfraquecer a hegemonia dos Estados Unidos e da União Europeia. Quanto à Coreia do Norte convém que a China e a Rússia criem boas relações diplomáticas, políticas e militares com o país de Kim Jong-un para concretizar a estratégia que estará a ser gizada e que será o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial. Que não agradará à Europa e aos Estados Unidos. Resta-nos esperar para ver...

A guerra na Ucrânia tem o “mérito” de demonstrar que os europeus se estão esquecendo que, infelizmente, do ponto de vista histórico, a Guerra é norma e a Paz a excepção. A piorar a situação do mundo actual, certas democracias, que afirmam respeitar o direito internacional e a integridade territorial dos países, negaram-se a condenar veementemente o novo imperialismo russo, que não deveria cobiçar e invadir um país soberano como a Ucrânia. Foi o caso do Brasil e da Índia a que se juntou a China que, como sabemos, não gosta de partidos políticos e não lhe agrada a democracia. O comunismo chinês é a “vanguarda” e a “verdade” e, por isso, não necessita de Democracia. O que é uma vergonha temos de admitir. Todas estas ocorrências estão alterando a visão geopolítica que, como afirmou Guy Sorman, assentava na visão Oeste ou Ocidente (aliado com Estados Unidos) versus Leste europeu Comunista e que, actualmente, com a batalha de Gaza está emergindo a oposição entre o Sul Global e o Norte Global (ex-Ocidente). Se o centro nevrálgico do Norte Global está situado em Washington, a União Europeia é a sua periferia. Por outro lado, poder-se-á afirmar que o Sul Global vai da China até ao Brasil passando pela África do Sul, Argélia e Venezuela, sendo tão heterogéneo que é difícil defini-lo do ponto de vista ideológico e geográfico. Alguma dúvida?

Contudo, percepciona-se que o Sul Global é agora o nome aceite pelos países que se identificam com a desigualdade, mas desigualdades sempre existiram ao longo da História e, provavelmente, sempre existirão até à consumação dos séculos. O Sul Global define-se pela sua oposição aos Estados Unidos e ao Ocidente, designados o Norte Global. Ou seja, a ordem internacional ditada pelos Estados Unidos em 1945 já não é reconhecida pela maioria dos países que, de facto, foram colonizados pelo Norte, mas isso pertence ao Passado.

No entanto, estes países estão convencidos que o Direito Internacional é uma nova forma de Colonialismo que perpétua o poder branco e despreza as civilizações locais, sejam árabes, africanas, chinesas ou latino-americanas. O “wokismo” político e rácico não é alheio a este pensamento político. Não faltará, no entanto, quem vá admitindo que Pequim ou Moscovo pretendem dirigir o Sul Global, sendo mais provável que Pequim ganhe o despique sem prescindir da aliança com Moscovo. A partir de agora os Estados Unidos e a União Europeia terão de ter em conta esta realidade geopolítica. 

O Mundo está a mudar e perspectivam-se dificuldades para o Velho Continente que deu novos mundos ao mundo com os Descobrimentos Marítimos e que beneficiou com esses descobrimentos. Se Donald Trump, um desequilibrado mentiroso — e que está agora no “poleiro” da Maior Potência do Mundo significa que ganhar a Europa ressentir-se-á — como já está a acontecer, diga-se a propósito —, e deixará de se poder abrigar no guarda-chuva americano. O Norte Global enfrentará, por isso, novos, imprevisíveis e preocupantes desafios. O mundo está a mudar. Quem é que não deu por isso...?

2025/12/3