Afonso Almeida Brandão"
Rui Nabeiro, o empresário humanista que nos deixou recentemente, recebeu com toda a justiça os mais variados elogios de todos os sectores da sociedade portuguesa pela sua obra, num exemplo raro de reconhecimento pela sua contribuição para melhorar a vida de muitos portugueses e a economia do País. Elogios também de sectores da Esquerda, que normalmente se afadigam a demonizar os empresários e os lucros que eles originam nas sua empresas, como está a acontecer actualmente com os herdeiros de Belmiro de Azevedo e de Soares dos Santos, que também nos deixaram não há muito tempo. Rui Nabeiro teve um início de vida muito difícil e foi através de uma actividade ao tempo ilegal que obteve os lucros suficientes para criar a sua primeira empresa. Não é caso único, na história da economia existem muitos exemplos de empresários que tiveram a sua origem em actividades de legalidade duvidosa e que criaram Impérios. Sendo que toda a obra que Rui Nabeiro deixou ao País, empresarial e social, não teria sido possível sem os lucros das suas empresas e da sua qualidade empresarial. Felizmente que hoje, em todo o Mundo, nomeadamente nos Estados Unidos, existem empresários que, tendo criado grandes empresas e obtido lucros de enorme dimensão, se dedicam a investir as suas enormes fortunas nos mais variados objectivos sociais, como é o caso, por exemplo, de Bill Gates. Outros empresários não o fazem e investem o seu tempo e o seu dinheiro em objectivos diferentes, como seja criar novas ideias, novos produtos e novas tecnologias, que tornam possível que hoje vivamos mais tempo e em melhores condições. Todos o fazem com os lucros originados nas suas empresas. Tive durante alguns anos como Amigo empresário ligado a diversas áreas entre as quais à Comunicação Social, chamado Aníbal Henriques Abrantes, que deixou Lisboa, onde nasceu, para ir viver na Marinha Grande. Era jogador de futebol e gostava de viajar, o que fazia frequentemente antes e depois da guerra de 1939. Em Paris e Londres tomou contacto com os primeiros produtos feitos de plástico e aproveitou uma empresa existente do irmão, que produzia moldes para vidro, para fazer os seus primeiros moldes para comprimir e injectar esse novo material, mas não só. Nas suas muitas viagens, passou a trazer para Portugal os primeiros produtos feitos de plástico que surgiam em Paris e em Londres, para convencer os empresários portugueses que fabricavam esses mesmos produtos noutros materiais a mudar. Foi a Guimarães à empresa “Ribeirinhos”, que produzia pentes em osso, e a Aveiro à empresa “Luso Celulóide”, que produzia brinquedos, como a muitos outros empresários que não viajavam, convidando-os a entrar no novo mundo dos plásticos com grande antecedência e a comprarem os seus moldes. Felizmente fez ainda mais, transformou em indústria o que no Mundo inteiro era um artesanato que produzia ferramentas de estampar metal através de artistas artesãos, que, com a ajuda de um aprendiz/ajudante, realizavam sozinhos todas as operações necessárias. Como não havia em Portugal tais artesãos, Aníbal Abrantes iniciou no sector a divisão do trabalho através da criação de operários especialistas, no que foi no Mundo a primeira empresa industrial dedicada a produzir moldes. Mais, iniciou a exportação desses moldes através do que já era a maior empresa produtora de moldes do Mundo com 350 especialistas, quando nos Estados Unidos da América e na Alemanha essas empresas não tinham mais de trinta artesãos, cuja formação levava vinte anos. Na sua vida, através do seu gosto pelas viagens, Aníbal Abrantes deu origem a duas verdadeiras indústrias portuguesas, a dos plásticos e a dos moldes. Nesse processo transformou a economia da Marinha Grande e contribuiu para elevar o nível de vida de toda a região através da concorrência criada pela nova indústria e pelo crescimento dos salários. Talvez por nunca ter tido outros interesses e ser apenas um inovador, Aníbal Abrantes morreu sem o merecido reconhecimento público, nem sequer na terra que adoptou como sua. Foi um Homem excepcional e meu Amigo durante vinte e cinco anos e recordo-o com uma saudade agradecida por aquilo que nos deixou. Fui jornalista de um Jornal Semanário que dirigiu durante anos, do qual foi Proprietário, de nome A FOICE, na Marinha Grande. Como recordarei as instrutivas conversas que tive com Rui Nabeiro em viagens de promoção das nossas andanças pelo Mundo fora — ele como Empresário, eu como Jornalista. Felizmente que ele teve o justo reconhecimento. Este texto é também sobre o lucro, sem o qual não há Crescimento Económico, nem melhores salários e nem Justiça Social. Foram os lucros que permitiram a Rui Nabeiro realizar a sua notável Obra Social e a Aníbal Abrantes adquirir as máquinas e as tecnologias que contribuíram para mudar a Indústria Portuguesa. A demonização do lucro que hoje é feita em Portugal representa, para além de todas as considerações, um passaporte certo para a pobreza. Com a ironia de que mais de 90% das empresas portuguesas são muito pequenas e a maioria não gera lucros ou exporta e os salários são naturalmente baixos, mesmo para a grande maioria dos seus empresários. Trata-se do modelo económico errado, porque o objectivo natural das empresas é crescerem e gerarem lucros, como fez Rui Nabeiro. Como também é evidente, o problema principal da nossa Economia é hoje o excesso de pequenas empresas que não crescem e não geram lucros, pelo menos não tantos como os criados pela corrupção e pelos “amiguismos partidários”. Trata-se do modelo económico errado, que sobrevive através de uma Justiça que dorme e da protecção política que é dada aos empresários amigos do Regime e dos Partidos Políticos, além de sustentar Comentadores Políticos da “treta” em exercício. E esta triste realidade faz-me citar o exemplo de Moçambique, no pior dos sentidos... Acontece que as empresas Sonae e Jerónimo Martins (em Lisboa) e a SOCAJU e a TDM (em Nacala e em Maputo) deveriam orgulhar todos os portugueses e moçambicanos receber os maiores elogios do Poder Político de ambos os Países por terem lucros, crescerem, diversificarem e usarem as mais modernas tecnologias para concorrerem no Mundo com sucesso. Infelizmente, o Poder Político (tantgo lá como cá) prefere proteger os oligopólios de algumas empresas, como é o caso das Telecomunicações, empresas que podem impunemente aumentar os preços, que já são muito superiores aos preços médios praticados na União Europeia. É o habitual amiguismo que nos Governa (ou Desgoverna, quer lá, quer entre nós), ou seja, quer em Portugal ou entre nós, em Moçambique!) Os lucros são o sangue da economia, lucros que permitem que as empresas que nasceram pequenas gerem lucros e cresçam. Infelizmente, em Portugal e em Moçambique também, sabemos por experiência que a generalidade das empresas são demasiado pequenas, não geram lucros e não crescem, além das empresas geridas pelo Estado que também não produzem lucros e não crescem, mas isso é outra história. E mais uma vez apraz fazer a comparação com o que acontece em Moçambique, pois é sem tirar nem pôr. Alguém dúvida?2025/12/3
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