
Afonso Almeida Brandão"
(Ao Jornalista Salomão Moiana, com um Abraço afectuoso) Como por exemplo o fluir do Tempo, o cheiro da Maresia, o fascínio da Luz, o oco da Saudade, que é um bolo amargo, o mistério das árvores decepadas, o galope do Vento às seis da manhã, o banho a correr, os pés na areia molhada, o Mar magnífico, intento, assustador, solene, sossegado, perdido no Ventre das Núvens que descem e piam como gaivotas ou como goivos derrotados, a Tarde perdida nas dunas, o voo dos pássaros, o Sol que lambe, o Sal que arde, a Pele que se entorna leve e fresca contra a Neblina do Entardecer. A Música. Se entendêssemos tudo isto e o outro tanto, que se cruza connosco pela calada do sangue, muito sábios seríamos e proventura menos felizes. O Secretismo envolvente em que nos embrulhamos assim como escolhemos a roupa com que nos disfarçamos, dá-nos o saboroso charme de uma solução equívoca, mas necessária à sobrevivência de um Ego muitíssimas vezes maltratado, outras espoliado. Fica por entender o Jogo. O Poder. O Roubo. A Vaidade, a outra Face de uma metade que nunca se encontra por mais que divaguemos em lições de Kafka, Eça ou Aristófanes. A composição egocêntrica que desfazemos em laços e acordos e vantagens e nós e tramas e perdas e lucros, não passa de uma renda paga a juros altíssimos no escalão de uma precária Eternidade que entendemos mal. Pessimamente. Assim como não sabemos quem nos ordena à Chama das Paixões, ao Delírio dos Sentimentos, à Teia de uma Chantagem emocional a que acedemos, cedendo o caminho do Compromisso, da Derrota, da Vitória, sobre o triângulo frágil da Vida. Em nome do que não conhecemos nomeamos a ordem ou a desordem. O Aparato ou a Humildade, o Eclético ou o Clássico. O espavento ou o orgulho escondido. E avançamos em recuos como o Vento ou como a Tempestade de Verão, que é mansa e tão perigosa quanto selvagem e doce. Hoje dizemos SIM ao que ONTEM era TALVEZ, só para não sentirmos o peso de uma culpa de origem desconhecida, mas que quase sempre chega aconchegada com injecções de Esperança. Não sabemos coisíssima nenhuma de ninguém. Antes elaboramos imagens. Esculturas de lama, cubos de baba, azuis de aço que se anilam de vermelho. Tomamos a Noite pelo Dia. Trocamos o hipotético pelo próximo. Somos divisíveis e frágeis. Castos e Secos, profanos e anjos que se buscam no outro lado do espelho, como se do reflexo viesse o Fio de Prumo que aprumasse o profundo sentido de uma vida intocável. Sérios, doces, amargos, castos, proféticos, profanos, duros, alarves, insistimos na Mentira, no Ânimo, nas Pequenas Guerras, no Trágico Tear de um Narcisismo Doentio. E rimos. E ficam por entender coisas tão simples como os Frutos, os Rios, os Búzios, os Dias de Nevoeiro. E chegamos assim à Claridade da Insabedoria. Tudo vale, tudo alonga, nada se repete, tudo se esquece. Assim como a Cidade. Imensa Catedral onde rebuscamos contornos e fantasias, surpresas, arenas, votos, cansaços. Fica por saber onde moramos quando perdemos o pé, o fio de todas as coisas. Aqui só existe Lisboa, que tudo ousa, que nada recupera, que às vezes descobre o que não pode, não quer saber e que quase sempre revela a EXTREMA NUDEZ DA CEGUEIRA. Aqui só fica o REGISTO de todas as coisas que nunca deixaremos de tentar saber e eventualmente Amar, Meu Caro Amigo Salomão Moiana.2025/12/3
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