Afonso Almeida Brandão"
Foi o mês passado publicado um “Manifesto Cívico Contra o Atraso Económico e Social do País”, assinado por cerca de quarenta subscritores, que pretende chamar a atenção dos portugueses para o crescente atraso de Portugal no contexto das outras nações europeias. Trata-se de um manifesto diferente, porque utiliza principalmente dados estatísticos em vez da habitual argumentação de origem mais ou menos ideológica. Trata-se de um texto que confronta os portugueses com factos em vez de opiniões, razão de ser um texto arrasador para o Partido «Chuxa-Lista» e para o Governo, na justa medida em que não o podem combater ou sequer comentar. Como diz o povo, contra factos não há argumentos, razão porque reproduzo aqui uma parte do texto e evito mais palavras, provavelmente inúteis.
– “Em 26 anos, no período1995-2021 o PIB pc, a preços constantes registou uma taxa de crescimento anual muito baixa, de 1,25%” (Fonte: Pordata). – Desde 1999 Portugal tem vindo a divergir da EU e os portugueses têm menos poder de compra hoje (face à média da EU) do que há mais de 20 anos (dados extraídos do Eurostat — Economista Abel Mateus). Desde 1999 Portugal foi ultrapassado quanto à riqueza gerada (medida pelo PIB “per capita”) por 11 países a nível mundial (base de dados do FMI). Desde 1999 Portugal teve o 3º crescimento mais lento da Zona Euro, isto é, cerca de 0,8%/ano até 2020 — retirando o efeito da pandemia (Fonte: Comissão Europeia). Mais recentemente: “Em 2015 (início do Governo da “geringonça”) o PIB pc de Portugal era de 78% da média da EU e caiu para 74% em 2021. Neste mesmo ano de 2015, Portugal estava acima de 10 países da União Europeia, em termos de PIB pc, e em 2021 é apenas superior a 6 outros Estados Membros” (Fonte: Eurostat). Em 2020, dos 38 países da OCDE, Portugal foi o 5º país com maior quebra do crescimento económico, face a 2019 (Fonte: Economic Outlook – Nov.2022 – OCDE).
A reacção a esta forte queda explica a taxa elevada de crescimento em 2022, de 6,7%, prevendo-se, para 2023, o regresso ao crescimento mais baixo e medíocre, em torno de 1% (Economic Outlook — Nov.2022 – OCDE). “Em 2021, Portugal é o 4º país da Zona Euro com menos poder de compra” (INE). Em baixos salários: “Em 2022, mais de 50% dos trabalhadores recebem salários inferiores a 1.000 euros por mês” (Fonte: Min. Trabalho Solidariedade e S.S.). Em 2021 o salário médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem era de 1.082,8 euros (Pordata). O Salário Mínimo Nacional, em percentagem do Salário Médio, era de 51% em 2001 e de 63% em 2019 (dados do INE e Pordata). A evolução do salário médio real dos países europeus, que integram a OCDE, a preços constantes e em paridade de poder de compra, cresceu 22%, de 2000 a 2021. Portugal, nesse período, cresceu 4% (OCDE). Um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (“Os Jovens em Portugal, Hoje”) refere que 72% deles (jovens entre 15 e 34 anos de idade) recebem menos de 950 euros de remuneração mensal. “Em baixas pensões: 78,6% dos pensionistas de velhice e de invalidez do regime geral da Segurança Social têm pensões inferiores ao salário mínimo nacional” (dados Pordata). “Em elevados níveis de pobreza: dados relativos a 2021 demonstram que Portugal se encontrava no 8º lugar entre os países europeus que registam maior risco de pobreza e de exclusão social, com 22% da população afectada” (dados do Eurostat). São cerca de 2,3 milhões de portugueses, dos quais, estima-se, cerca de 2/3 com emprego.
Dados muito recentes publicados na comunicação social (jornal “O Expresso”, 27/1/2023, suportados em dados do INE) revelam que, em 2021, havia 2,6 milhões de pessoas (mais de ¼ da população) que viviam com menos de 660 euros por mês. “Sem transferências sociais e pensões, quase metade dos portugueses (43,3%) seriam pobres” (dados do INE referidos a 2021). “Em elevados níveis de emigração: o número de emigrantes, por mil habitantes, é na última década, superior ao registado na década de 1960 (os valores históricos mais elevados até então)” (Fonte: Pordata). “Na década de 2010 a 2020 emigraram quase um milhão de portugueses, sobretudo jovens” (Pordata). “Nos últimos sete anos, a emigração é cerca de 90% da totalidade daquela registada em toda a década de 60” (Fonte: Pordata). O Manifesto acrescenta: “O atraso do país revelado por estes indicadores verificou-se mesmo apesar de Portugal ter recebido avultados fundos comunitários ao longo de cerca das duas últimas décadas e meia, que se concretizaram, desde 1995, em transferências públicas recebidas da União Europeia, que totalizaram cerca de 118 mil milhões de euros (dados Pordata) e no período 2015-2019 terem existido condições muito favoráveis para o crescimento (forte expansão da economia europeia, taxas de juro historicamente baixas, forte crescimento do turismo, preços baixos do petróleo) que foram desperdiçadas pelos Governos Socialistas”. Palavras para quê? A realidade de um país que nos últimos sete anos parou no Tempo não pode ser discutida em vista dos dados e, principalmente, em vista da pobreza em que vivem milhões de portugueses, muitos dos quais eram no passado classe média. Um país que já pediu por três vezes ajuda externa, a última das quais resultou da corrupção do poder político que conduziu a um Primeiro-Ministro ser acusado de ser corrupto. Um país onde a Justiça não cumpre minimamente a sua função e com uma democracia capturada pelas hierarquias partidárias, em particular do Partido «Chuxa-Lista», que ao longo dos últimos 20 anos domina todos os sectores do Poder Político, Económico e Social do País. É contra tudo isto que este “Manifesto Cívico Contra o Atraso Económico e Social do País” chama a atenção dos portugueses, com um alerta particular à Comunicação Social sobre as suas responsabilidades de não iludir os problemas que enfrentamos e de não iludir as responsabilidades que todos temos de falar verdade e de vencer as mentiras mais ou menos piedosas do poder.
2025/12/3
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