A POSTURA ESTÁ NO TOM DE VOZ

Afonso Almeida Brandão"

Não é preciso gritar para ser ouvido. Esta afirmação, simples e directa, contraria uma prática cada vez mais comum em debates públicos, em programas de televisão e até nas redes sociais. Esta táctica acaba por cansar a quem ouve, uma atmosfera de irritação e até diriamos, de desânimo.

Falar de forma mais baixa ou serena não é sinónimo de fraqueza. Poderiamos dizer até que um discurso calmo e ponderado pode, paradoxalmente, demonstrar mais força do que a tal gritaria. Saber elevar o tom quando necessário, mas sem cair no berro constante. Tão visto por aí. Sobretudo entre os políticos de “aviário” que proliferam por Moçambique...

Esquecem-se que manter a calma ou um tom sereno, acaba sempre por ser mais eficaz e assertivo na comunicação. Às vezes, o segredo está em saber como escolher o momento certo para dar um grito ou falar mais alto, que também faz falta, mas discursos inteiros em “berraria” constante?

A História dá-nos, aliás, excelentes exemplos de figuras que se tornaram líderes incontornáveis sem depender da gritaria. Nelson Mandela, por exemplo, enfrentou uma transição política profundamente complexa na África do Sul, após décadas de prisão. Ainda assim, falava de modo ponderado e conciliador, transmitindo sempre uma mensagem de paz e reconciliação.

Mahatma Gandhi inspirou milhões no combate ao Império Britânico, defendendo a não violência e adoptando um tom calmo e pausado, que demonstrava firmeza de carácter sem recorrer a berrarias. Barack Obama, por sua vez, destacou-se pelo controlo emocional e pelo discurso sereno e equilibrado, capaz de suscitar o diálogo sem apelar a uma retórica agressiva. E podemos incluir nestes exemplos os nomes dos políticos Venâncio Mondlane ou Manuel Araújo, figuras públicas que conhecemos bem.  

E temos de recordar, a propósito, a antiga Primeira-Ministra britânica, Margaret Thatcher, apelidada de “Dama de Ferro”. Esta referência à dureza de carácter não decorre de gritos ou explosões de raiva, mas antes de convicções sólidas e de uma voz segura, estrategicamente bem utilizada. A solidez das ideias, aliada a uma comunicação firme, mas não estridente, reforçou a sua imagem e marcou a política do Reino Unido durante anos.

Aqui chegados — e para não alargarmos mais este tema e o espaço da nossa habitual rubríca de opinião —, referindo outros nomes conhecidos, a verdade é que a LISTA seria extensiva e variada —, sobretudo alusiva a outras áreas bem diversas da Sociedade Moçambicana. Mas por hoje ficamos por aqui e prometemos voltar ao assunto em próxima oportunidade, para abordar a força, o controlo e a necessidade da pausa pessoal, tão necessária a uma postura aconselhável de quem é figura pública. 

2025/12/3