50 anos de governo é uma eternidade

Afonso Almeida Brandão"

A morte da Rainha Isabel II alterou compreensivelmente o foco dos meios de Comunicação, centrando o interesse público um pouco por todo o Mundo no desaparecimento de uma Grande Líder de dimensão Global. Setenta anos de reinado, só por si, justificaria o sentimento geral de perda, mas a gestão feita pela Rainha ao longo do seu reinado vai muito para além disso. Veremos agora em que medida o desaparecimento de Isabel II vai/vão permitir o aparecimento de alguns problemas e conflitos no velho Império Britânico e, por extensão, neste nosso mal governado planeta (incluindo os Países de África Austral, designadamente os PALOPS, quiçá, CPLP e os Países da Europa). Em Moçambique os meios de Comunicação Social marcam a Agenda Política em blocos de interesse, que tendem a eliminar tudo o resto do que verdadeiramente se passa. Do nada surgem comentadores de “aviário” rotulados de Especialistas e os Comentadores Políticos habituais a desdobrarem-se no tratamento dos mais diversos temas com “a sabedoria das grandes generalidades”, fortemente influenciados por quem lhes paga. Falamos, naturalmente, da FRELIXO. Assim, no meio deste bazar comunicacional, perde-se qualquer intenção estratégica de médio prazo, ou até apenas o tratamento organizado dos problemas Nacionais. O Governo da FRELIMO adora esta situação que lhe permite ir passando por entre «os pingos da chuva» do esquecimento e das muitas questões mal resolvidas.

Daniel Chapo, o actual Presidente da República alimenta-se do mesmo. Quando quase toda a gente já tinha percebido que estava a ser enganada com o celebrado e adiado programa de ajuda às Famílias além de «outras promessas», Famílias supostamente mais carenciadas, eis que se anuncia a venda da LAM, como a coisa mais natural do Mundo. No espaço de poucos anos a  nossa “Companhia de Bandeira” (dizem eles!), foi privatizada, depois nacionalizada e agora provavelmente corre o risco de voltar a ser privatizada novamente. Fotocópia do que aconteceu com Portugal... O mesmo Ministro que vendeu ao País a ideia virtuosa da Nacionalização, com a acusação dos privados não saberem governar a empresa, no momento exacto em que a empresa tentava crescer, procurava adquirir mais aviões, mais rotas e mais passageiros e com o argumento de salvar a empresa não se sabe bem de quem, prometeu a restruturação e de colocar a LAM a perder mais dinheiro, mas eis que desiste do empreendimento e procura agora, no meio da confusão gerada pela sua intervenção, os privados salvadores que o tirem dali antes que seja tarde. Mas quem são eles afinal, a não ser o próprio Governo? A mesma fotocópia do que aconteceu com a TAP, em Portugal. Pelo meio ficam uns tantos milhares de milhões de Dólares USD e de Euros, que não tendo produzido nada e não tendo gerado qualquer rendimento, vão directos ao crescimento da dívida, que o Governo promete reduzir. Eis a governação «chuxalista» da FRELIXO em todo o seu esplendor resultante da gestão de um Ministro faz de conta...

O colega da Economia, durante algum tempo desaparecido em combate, surgiu agora para afirmar o estado glorioso do Turismo, acusando uns tantos desconhecidos de diabolizarem a actividade turística. A fotocópia Moçambicana continua igual à situação Portuguesa da AD-CDS, de novo no “poleiro”. O Ministro, que escreveu cento e cinquenta páginas sobre as muitas formas de salvar a Economia Portuguesa, descobriu agora que o Turismo é que é a solução certa, ficando o País sem saber que mais andou o Ministro a fazer durante estes meses (quer dos anteriores governos, quer deste em exercício). De facto, a única coisa que sabemos é que o desejado e necessário investimento estrangeiro na indústria foge para Espanha e que muitas empresas portuguesas com elevadas contas de energia, como a Cerâmica, o Vidro e outras tantas, não vislumbram qualquer solução de sobrevivência.

Coincidentemente, depois do fecho das duas centrais a Carvão em Portugal o País está agora a importar a Electricidade de Espanha e sem “olhar ao dente”, isto é, pode ser de origem nuclear, a Carvão ou a Gás, pouco importa o custo, desde que não existam os malfadados apagões e fogos. Assim, Portugal continua a criar mais uma dependência da vizinha Espanha e, depois da Banca (sem divisas estrangeiras, como acontece presentemente em Moçambique!), da Água e da Ferrovia, temos agora a boa vontade espanhola para resolver aquilo em que o ex-Primeiro-Ministro António Costa não quis pensar. Suspeitamos agora que estes mesmos Ministro da Economia (quer de Portugal, quer de Moçambique), não farão a mais pequena ideia de como vão/ou irão implementar as gloriosas ideias que andaram ambos a vender aos países em inúmeras entrevistas e conferências (quer de Maputo, quer de Lisboa). O elogio do Turismo, cujo crescimento ninguém no seu juízo lamenta, é um bom sintoma, sendo apenas triste que os homens não falem da Industrialização necessária, das Exportações de que precisamos como de pão para a boca, ou de contentar os CFM (da parte de Moçambique) e a AutoEuropa e a PSA (da parte de Portugal) que pedem há muito uma ligação Ferroviária como deve ser para a  África do Sul, no caso de Maputo, e da Europa, da parte de Lisboa, factor cada vez mais determinante da sua manutenção quer para Moçambique, quer para Portugal — e do progresso das exportações em geral. Ou ainda do estado actual dos sucessos do Lítio, do Hidrogénio e de todas as outras tecnologias destinadas a salvar as economias moçambicana e a portuguesa.

Porque não acreditamos que nenhum dos dois Ministros (quer o moçambicano, quer o português) não saibam que o Turismo é uma actividade de risco elevado, que pode desaparecer numa qualquer volta da história e que tem uma notável contribuição para a baixa produtividade nacional e para os baixos salários de que tanto se queixam os primeiros-ministros de ambos os Países. É desta forma que nos (des)governos «chuxalistas» da FRELIXO e da AD/CDS de Lisboa são «as formigas que se transformam em cigarras»... A Inflação, que seria passageira, veio para ficar e, como habitualmente, enriquece falsamente o Estado e empobrece os moçambicanos e também o Povo português. Ora como o Estado Português, de parceria com o PCP e o Bloco de Esquerda, andaram sete anos a distribuir o que não tinha e a descobrir que trabalhar menos era uma necessidade Nacional, o Estado em vez de contribuir para o crescimento da Economia, agravou ainda mais um sério problema de estagnação económica que já leva mais de vinte anos. Claro que é preciso mudar de vida, mas, como António Costa insistiu irresponsavelmente, à época, em esclarecer, a solução de todas as coisas que estiveram, respectivamente, no programa do Governo Português (como do Governo Moçambicano) chegamos à conclusão que para isso não seriam/são precisos governantes com ideias, mas apenas ajudantes.

Por questões profissionais como jornalista que somos, a verdade é que já conhecemos a coerência de ambos os Primeiro-Ministro quer de cá, quer de lá. E há quem lhe chame teimosia e, assim sendo, foi anunciado um “novo ajudante” para o Ministério da Saúde Moçambicana, que de “uma penada” tem levado «à glória» o Programa do Governo e sem alterações. Mas será mesmo assim...?! Entretanto, o muito “elogiado” Ministro da Saúde, o “ilustre” Ussene Hilário Isse tem procurado fazer as coisas da melhor maneira que sabe para evitar desagradar a Sua Excelência Daniel Chapo, caso contrário ELE que se cuide, aliás, como a saúde dos Moçambicanos...

Voltando à questão Comunicacional, acontece que em Portugal como em Moçambique, os Ministros aparecem e desaparecem de acordo com os temas em debate, seja quando tivemos de passar pela Pandemia do COVID, e de várias trapalhadas, incluindo as ajudas a ambos os Estado, à TAP e à LAM, ou a morte da Rainha. Fica, portanto, por sabermos o que andam os dois Governos a fazerem de útil nos intervalos, já que de inútil damos por isso diariamente nas nossas vidas. As facturas da Electricidade e do Gás, do Supermercado, da Amortização da Casa, do aumento das Rendas descontroladas, e do Material Escolar para os filhos não tardam em chegar. E, por causa disso é que temos a certeza de que os Professores não chegam para as necessidades de ambos os países — factor que já se sabíamos —, mas os Ministros da Educação de Maputo e de Lisboa anunciaram agora que o Ano Escolar vai começar, pelo que mandaram estudar o assunto. Depois de terem tomado posse dos seus cargos em ambos os Ministério (parece) que temos homens. A ver vamos...

Não sei se os Moçambicanos e os Portugueses se deram/dão conta, mas quatro e cinco anos de Mandato para a Presidência da República, quer para Moçambique, quer para Portugal, é muito tempo e 50 anos de Governo da FRELIXO sem eventuais “concorrentes” e de outros 50 anos divididos entre o PS e o PSD português são uma Eternidade de “bradar aos Céus”. Assim é fácil de prever que dentro de quatro anos (no caso de Portugal) e de cinco anos (no caso de Moçambique), a Economia Portuguesa e a Economia Moçambicana estarão pior e o atraso de Portugal em relação aos países Europeus do «nosso campeonato» aumentará, assim como a saída dos jovens em busca de uma Nova Vida no estrangeiro e o nível de ignorância e de pobreza de largos Sectores da nossa Sociedade não se alterará — o mesmo acontecendo com Moçambique, inquestionavelmente falando. Se existem por aí pessoas que não concordem com esta previsão pessimista ainda bem, mas agradecemos que nos digam como é que com as mesmas pessoas e com os mesmos métodos se podem esperar resultados diferentes? Ficamos à espera que nos digam de sua justiça.

E Boa Semana para todos. 

2025/12/3